quarta-feira, 21 de maio de 2014

Gazprom fecha seu maior contrato com a China

Depois de dez anos de discussões em torno do preço, a China e a Rússia assinaram um contrato de US$ 400 bilhões para a companhia russa Gazprom fornecer gás natural aos chineses durante 30 anos. Nenhuma das partes revelou detalhes sobre o preço.

Sob pressão das sanções internacionais impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia, o presidente russo, Vladimir Putin, foi a Xangai para uma visita de dois dias à China. O acordo do gás fortalece a parceria estratégica das duas grandes potências, que teve grandes problemas mesmo quando as duas tinham regimes comunistas.

O mal-estar vem desde antes da vitória da revolução comunista na China, em 1949. Nos anos 1920s, quando Leon Trotski e Josef Stalin disputaram o poder depois da morte de Lenin, a revolução chinesa foi um dos temas do debate.

Stalin não acreditava que um país atrasado como a China, onde a maioria da população era camponesa, não tinha indústria nem proletariado industrial e assim não tinha condições de fazer uma revolução comunista. Ele recomendou então uma aliança com a burguesia representada pelo partido nacionalista Kuomintang (KMT) para formar uma "frente popular".

Trotski era contra essa aliança com a burguesia que se mostrou desastrosa. No Incidente de 12 de Abril, também conhecido como Massacre de Xangai, o líder nacionalista Chiang Kai-shek promoveu um expurgo. Começava um massacre de 300 mil comunistas.

A perseguição levaria a uma longa fuga liderada por Mao Tsé-tung e Chu Enlai para fugir das tropas do KMT. De outubro de 1934 a 1935, os comunistas percorreram 10 mil quilômetros na Longa Marcha, quando Mao assumiu o comando da revolução chinesa, que se fortaleceria na luta contra a invasão japonesa de 1937, que acabou com a guerra civil chinesa, restabelecendo a aliança KMT-PC, e na Segunda Guerra Mundial.

Depois da guerra, o Exército Popular de Libertação expulsou os nacionalistas do KMT para a ilha de Taiwan, vista até hoje pelos comunistas como uma província renegada da China.

No início de 1950, Mao foi a Moscou. Stalin esperou 50 dias para recebê-lo, em meio ao rigoroso inverno russo. Foi a humilhação do líder da uma revolução feita para que a China não tivesse mais de se submeter às potências imperialistas.

Mao e Stalin assinaram o Tratado de Cooperação e Amizade Sino-Soviético em condições nitidamente inferiores para a China. A humilhação prosseguia.

Quando o novo líder do PC soviético, Nikita Kruschev, denunciou em 1956 os crimes do stalinismo, o regime comunista chinês foi contra. A decisão soviética de adotar uma política de "coexistência pacífica" com os Estados Unidos depois da crise dos mísseis em Cuba, em outubro de 1962, provocou mais uma reação negativa da China.

As duas potências comunistas romperam em 1964, quando os EUA entraram na Guerra do Vietnã. Em 1969, vários incidentes militares na longa fronteira comum entre China e União Soviética quase levaram a uma guerra entre os dois países.

Os EUA se aproveitaram disso ao enviar o então assessor de segurança nacional da Casa Branca Henry Kissinger a Beijim em 1971 para restabelecer relações com a República Popular da China. Na última parte da Guerra Fria, a China foi virtualmente uma aliada informal da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada por Washington.

Quem tentou uma reaproximação foi o último líder soviético, Mikhail Gorbachev, mas sua visita à China em 1989 estimulou o movimento estudantil pela liberdade e a democracia que terminou com o Massacre na Praça da Paz Celestial, em Beijim, em 4 de junho daquele ano.

Na China, Gorbachev e suas reformas foram associadas à derrocada do regime comunista e ao fim da URSS. Se a imprensa oficial comparava alguém a Gorbachev, tentava queimá-lo politicamente.

A reconciliação pós-Guerra Fria se dá sob pressão do Ocidente, com a criação, em 1996, do Grupo dos Cinco (China, Rússia, Casaquistão, Quirguistão e Tajiquistão), que em 2001 passa a se chamar Organização de Cooperação de Xangai e tanta contrabalançar a hegemonia dos EUA.

O acordo do gás fortalece uma parceria estratégica essencial à Rússia neste momento de conflito com o Ocidente em torno da Ucrânia, criando um eixo alternativo de países autoritários que se opõem ao liberalismo defendido pela Europa e os EUA.

Como membro do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de grandes economias emergentes citadas pelo banco Goldman Sachs como principais fontes de crescimento mundial nas próximas décadas, o Brasil precisa decidir se vai se atrelar a este bloco autoritário ou honrar os princípios de liberdade, democracia e respeito aos direitos humanos inscritos na Constituição de 1988 como bases da política externa.

2 comentários:

Anônimo disse...

novamente, Putin, será o homem do ano.

Nelson Franco Jobim disse...

Resta saber o que deu em troca.