Em mais um gesto teatral, sem apresentar qualquer prova, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou a líder oposicionista María Corina Machado e o novo embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, Kevin Whitaker, de participar de uma conspiração para assassiná-lo. O Departamento de Estado considera as acusações "falsas e sem base".
A denúncia vazia coincide com a aprovação pela Câmara dos Representantes dos EUA de um projeto autorizando a Casa Branca a congelar os ativos no país de funcionários venezuelanos responsáveis por violações dos direitos humanos na repressão governamental contra os protestos populares que já duram mais de 100 dias.
O Senado americano ainda debate a conveniência de aprovar a lei temendo uma influência negativa sobre o diálogo entre o governo e a oposição da Venezuela promovido pela União das Nações Sul-Americanas (Unasul).
Durante entrevista no Teatro Nacional, em Caracas, ao lado da primeira-dama Cilia Flores e do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, Jorge Rodríguez, porta-voz da cúpula do regime, apresentou apenas um email de María Corina elogiando os protestos antigovernamentais e dizendo que "Kevin Whitaker reconfirmou seu apoio e indicou novos passos". Não há nenhum indício de aprovação do uso da força
"O Departamento de Estado sabe que a ultradireita venezuelana, quando tenta realizar atos criminosos que violam a Constituição, a paz e a democracia, pede instruções e autorização a um funcionário do Departamento de Estado?", vociferou Rodríguez para tentar dar um ar de veracidade à sua teoria conspiratória. Mas não deu detalhes de quando e como seria o atentado, como foi descoberto, quem seriam os autores, quais suas ligações com os acusados, onde está o inquérito policial e quando será enviado à Justiça.
Maduro ganhou as eleições realizadas em 14 de abril de 2013, depois da morte do presidente Hugo Chávez, em 5 de março do mesmo ano com uma vantagem de apenas 1,5 ponto percentual, o que levantou suspeitas de fraude, já que o governo controla toda a máquina pública e eleitoral. Até hoje não conseguiu se legitimar.
A onda de protestos é consequência da inflação, que ronda 70% ao ano, do desabastecimento que chegou a 28% dos produtos encontrados em supermercados e do índice de homicídios, que está entre os mais altos do mundo. Com a crise do modelo chavista, o número de pobres, reduzido à metade pelas políticas sociais financiadas pelo petróleo venezuelano, volta a subir.
No país que se vangloria de ter as maiores reservas mundiais de petróleo, não podem faltar dólares nem dinheiro para importações. Sem profundas reformas econômicas que aposentem o "socialismo do século 21", não há saída nem haverá acordo com a oposição.
Se a missão de paz da Unasul fracassar, o futuro da Venezuela será sombrio.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Maduro acusa Maria Corina e EUA de tentar matá-lo
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Um comentário:
Acho perfeitamente plausível a desconfiança de Maduro diante da "folha corrida" dos denunciados.
Aqui no Brasil foi muito pior tivemos que acreditar no tal "grampo sem áudio" do dr. Gilmar.
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