O Partido Bharatiya Janata (BJP, do inglês), nacionalista hindu, obteve uma ampla vitória nas eleições parlamentares na Índia, realizadas nas últimas cinco semanas e pode obter maioria absoluta na Lok Sabha, a câmara dos deputados do país, o que não acontecia com nenhum partido desde 1989. O ex-governador Narendra Modi será eleito primeiro-ministro quando o novo Parlamento se reunir, em 2 de junho de 2014.
O BJP é o partido do fanático que assassinou o herói da independência da Índia, Mohandas Gandhi, e que explodiu a bomba atômica, assumindo abertamente o status de potência nuclear em maio de 1998. Ex-governador do estado de Gujarat, Modi é acusado de ter fomentado e acobertado massacres de e mil muçulmanos em 2002. Até ser apontado nas pesquisas como futuro chefe de governo da Índia, era proibido de entrar nos Estados Unidos.
Sua vitória se deve sobretudo à queda do crescimento econômico da Índia de cerca de 9% ao ano antes da crise mundial de 2008-9 para pouco menos de 5% hoje. Diante da promessa de retomada do crescimento, a Bolsa de Valores de Mumbai teve forte alta nos últimos dias. Mas Modi é um personagem divisionista e os economistas consideram suas promessas exageradas.
"A Índia é um grande navio. Será necessário tempo para mudar de direção", comentou Gunjan Bagla, diretor da empresa de consultoria californiana Amritt Ventures.
Para recuperar a indústria manufatureira, serão necessárias grandes reformas estruturais para facilitar contratações e demissões. Fazem falta uma reforma agrária para dar terras a agricultores pobres e uma do sistema de impostos que contrarie interesses estabelecidos. Numa democracia, quaisquer mudanças são mais lentas.
Se a política econômica não der resultado, há o risco de que Modi caia na tentação populista e no sectarismo, por exemplo, abraçando o programa cultural de grupos nacionalistas hindus conservadores como Rashtriya Swayamsevak Sangh. Seria desastroso.
Os liberais e a minoria muçulmana, de 170 milhões, temem um ressurgimento do autoritarismo e do nacionalismo hindu. E também os vizinhos. O governo do Partido do Congresso era acusado pela direita nacionalista de ser "frouxo" com a China e o Paquistão, os vizinhos e inimigos históricos da Índia. Com o BJP no poder, pelo menos o discurso será mais agressivo.
Se houver um novo ataque terrorista cometido por paquistaneses como o de 26-29 de novembro de 2008 em Mumbai, que matou mais de 160 pessoas na maior e mais rica cidade indiana, a reação contra o Paquistão num governo Modi será certamente muito mais forte.
A derrota do Partido do Congresso, que governou a Índia durante a maior parte do tempo de sua história independente, desde 1947, o pressiona a fazer uma profunda transformação para ir além da dinastia Nehru-Gandhi, que o domina até hoje.
Com mais de 1,2 bilhão de habitantes, a Índia é o segundo país mais populoso do mundo. Pelo critério de paridade do poder de compra, é considerada pelo Banco Mundial a terceira maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA e da China. Em 67 anos de independência, mantém um regime democrático que acaba de realizar com sucesso as maiores eleições da história da humanidade.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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