Um ano depois, os críticos acreditam que o acidente na usina nuclear de Fukushima poderia ter sido evitado se as autoridades reguladoras do Japão não fossem negligentes e a indústria não estivesse mais preocupada em promover o uso pacífico da energia atômica do que proteger a saúde pública, afirma hoje o jornal The New York Times.
Em 11 de março de 2011, um terremoto de 9 graus na escala aberta de Richter abalou o Nordeste do Japão, arrasado ainda mais em seguida por uma tsuname (onda-gigante) de 16 metros. Mais de 19 mil pessoas morreram na tragédia.
O terremoto provocou o desligamento da central atômica de Fukushima Daichi. O maremoto destruiu o sistema de resfriamento dos reatores, deflagrando um acidente nuclear que obrigou a remover 90 mil pessoas da região. Até a evacuação de Tóquio, a maior cidade do mundo, com 35 milhões de habitantes chegou a ser cogitada.
A empresa Tokyo Eletric Power Company (Tepco) e o governo do Japão se esquivam da responsabilidade alegando que a catástrofe foi muito maior do que os cientistas previam. Mas há toda uma cultura empresarial e burocrática por trás.
"11 de Março expôs a verdadeira natureza do sistema do Japão no pós guerra, dirigido por burocratas que ficam ao lado das empresas e não da população", observa Shigeaki Koga, ex-diretor de política industrial do Ministério da Economia, do Comércio e da Indústria.
Na pressa de reconstruir e desenvolver o país depois da Segunda Guerra Mundial, formou-se uma relação íntima entre o governo e a indústria.
O modero de desenvolvimento japonês foi um sucesso. Está na origem da ascensão econômica da Ásia. Inspirou toda a região. Mas tem problemas comuns ao modelo asiático: faltam transparência e prestação de contas à população. É um déficit democrático.
Há oito anos, o sismólogo Kunihiko Shimazaki, professor da Universidade de Tóquio, fizera a advertência: a costa de Fukushima estava sujeita a tsunames duas vezes maiores do que as estimadas pelos reguladores e pela empresa, de no máximo 5m.
As minutas do encontro de 19 de fevereiro de 2004 revelam que os burocratas logo trataram de esconder essa preocupação, alegando que era especulativa, "dependendo de mais pesquisas". Ela não foi mencionada no relatório final, divulgado dois anos depois. Nenhum dos 13 cientistas do painel se opôs à supressão do ponto de vista de Shimazaki.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário