terça-feira, 27 de março de 2012

Só cadeia acaba com violência ligada ao futebol

A Inglaterra, país que enfrentou os maiores problemas de brigas entre torcidas de futebol, conseguiu resolver o problema com legislação específica e prisão para os criminosos. Por aqui, a Justiça de São Paulo acaba de proibir a entrada de faixas, cartazes e camisetas de torcidas organizadas, em vez de ir atrás de todos os marginais que se escondem atrás delas.

Quando eu era correspondente do Jornal do Brasil em Londres, nos anos 90, o jornal me pediu uma entrevista com o delegado Brian Drew, chefe da Unidade do Futebol do Serviço Nacional de Investigações Criminais, o serviço secreto da polícia britânica, a Scotland Yard.

Diante da primeira pergunta - como vocês controlam as torcidas organizadas? - ele reagiu com indignação: "Nossos torcedores não são marginais. Não são bandidos. Não confundimos torcedores de futebol com esses bandidos e arruaceiros".

Em outras palavras, torcida organizada não é gangue. Se virar gangue, precisa ser dissolvida e seus líderes responsabilizados por isso.

Drew conhece bem o futebol brasileiro. Durante a Copa do Mundo de 1994, de que a Inglaterra não participou, ele foi assessor da polícia dos Estados Unidos. Explicou aos americanos, por exemplo, que os brasileiros festejam seus jogos com samba, suor e cerveja, mas o elevado consumo de álcool nem sempre resulta em brigas e confusões, como é comum por lá com torcidas de basquete.

O hooliganismo (hooligan significa arruaceiro) causou pelo menos duas tragédias envolvendo o futebol inglês. Em 29 de maio de 1985, 39 torcedores do Juventus da Itália foram mortos numa confusão no estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, onde seu time disputava a final da Copa dos Campeões da Europa com o Liverpool, da Inglaterra.

Pior ainda foi a tragédia do estádio de Hillsborough, na cidade de Sheffield, em 15 de abril de 1989, quando 96 torcedores morreram num tumulto antes de um jogo das quartas de finais da Copa da Inglaterra entre Liverpool e Nottingham Forest.

O governo Margaret Thatcher, que havia excluído os clubes britânicos das copas europeias, criou então a Lei de Espectadores de Futebol para punir todos os delitos relacionados ao futebol, inclusive brigas de torcida mesmo longe dos estádios, no centro das cidades, em aeroportos, estações ferroviárias e rodoviárias.

É crime beber de qualquer ponto de onde se possa ver o jogo. É crime assistir ao jogo bêbado. Se o torcedor estiver dormindo no seu assento e não incomodar ninguém, não terá problemas. Se brigar, a embriaguês é agravante. É crime dizer palavrões dentro dos estádios, afinal, os bons torcedores querem levar suas famílias.

Além da prisão, os arruaceiros podem ser condenados a se apresentar numa delegacia de polícia nos horários de jogos dos seus times para não poderem nem se aproximar dos estádios ou de quaisquer locais de concentração de torcidas.

Um policial da delegacia do bairro frequenta regularmente o clube, acompanha os treinos e viaja com a torcida nos jogos fora de casa. Os membros das torcidas organizadas são identificados por carteiras de sócios.

A polícia conhece os líderes das torcidas organizadas. Trabalha com eles para identificar os maus elementos infiltrados. Se algum comprou passagem para viajar com o time, a polícia do local de destino é avisada para redobrar a vigilância e prender os arruaceiros quando cometerem o primeiro delito.

No auge da luta contra o hooliganismo, a Inglaterra prendeu em média mais de 4 mil pessoas por ano por delitos relacionados ao futebol. Essa é a maneira séria e correta de enfrentar o problema, processar os responsáveis e desmantelar as organizações criminosos.

A receita é fácil, mas exige uma determinação que as autoridades brasileiras ainda não mostraram, a pouco mais de dois anos do início da Copa do Mundo. Acorda, Brasil!

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