Em meio à luta interna pelo poder e à crise que derrubou o neolinha-dura Bo Xilai, o futuro líder do Partido Comunista e próximo presidente da China, Xi Jinping, fez um apelo à "pureza" e à união típico das ditaduras. É o estilo sigam a linha do partido, o chamado "centralismo democrático" criado por Lenin, que de democrático só tem o adjetivo.
Na semana passada, Xi fez um apelo aos demais líderes do PC para que "não joguem para a massa" nem "procurem fama e fortuna". Em artigo publicado em 16 de março de 2012, o futuro líder criticou claramente as políticas e o estilo de Bo, derrubado da chefia do partido na cidade de Xunquim.
O expurgo também afastou Bo da luta por uma das vagas no Comitê Permanente do Politburo do Comitê Central do PC chinês, os nove imperadores que governam a China. Foi o mais alto dirigente do partido a cair em desgraça desde 1989, quando Zhao Ziyang deixou a Secretaria Geral por ser contra o uso da força para acabar com o movimento dos estudantes na Praça da Paz Celestial.
Zhao morreu em prisão domiciliar em 2005 por lutar por reformas democráticas. Bo, ao contrário, tentava resgatar práticas maoístas como preferência por uma economia estatal, perseguição de empresários e o canto de músicas do tempo da Revolução Cultural.
Mais do que revelar um pouco do obscuro jogo pelo poder no país mais cresce e mais se torna poderoso no mundo, a crise mostra a precariedade da estrutura institucional da China.
Em seu último discurso como chefe de governo no Congresso Nacional do Povo, o primeiro-ministro Wen Jiabao radicalizou na mensagem, advertindo que a paralisia da reforma política (desde 1989) pode levar a uma nova Revolução Cultural.
Por mais improvável que pareça, lembra, como observou Kenneth Lieberthal, que historicamente os chineses conseguiram criar uma burocracia para administrar esse vasto país, o segundo maior do mundo, mas até hoje não conseguiu criar um sistema político capaz de administrar pacificamente a luta pelo poder entre as elites e as transferências de poder.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário