Os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçaram hoje a Colômbia, acusando-a de violar o espaço aéreo equatoriano para matar o segundo homem na hierarquia das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e porta-voz internacional da guerrilha, Raúl Reyes.
Como o acampamento dos guerrilheiros ficava a dois quilômetros da fronteira, Correa alegou que não pode ter havido engano. Ele acusou o presidente colombiano, Álvaro Uribe, de ter mentido quando disse que Reyes havia morrido em combate: "Os 15 corpos encontrados estavam de pijama. Foram mortos dormindo, depois de ser localizados por equipamentos de alta tecnologia, provavelmente de uma potência estrangeiro."
Se Uribe não se desculpar publicamente, Correa ameaça levar o caso às "últimas conseqüências". O líder equatoriano conta com o apoio de seu aliado, Hugo Chávez, que foi ainda mais ameaçador, embora sua ameaça não seja levada à sério.
"Sr. ministro da Defesa, envie 10 batalhões para a fronteira com a Colômbia, batalhões de tanques, e mobilize a Força Aérea", vociferou o caudilho venezuelano em seu programa de rádio.
Chávez fechou a embaixada venezuelana em Bogotá e alertou: "Não queremos guerra, mas não vamos permitir que o império norte-americano, seu cachorrinho, o presidente Uribe e a oligarquia colombiana nos dividam. (...) Se fosse em território da Venezuela, eu mandaria aviões de guerra."
Simpatizante das FARC, o presidente venezuelano estava negociando a libertação de reféns seqüestrados pelo grupo terrorista. Reyes era seu principal interlocutor.
Nos últimos dois meses, as FARC libertaram seis ex-parlamentares colombianos. Chávez pediu publicamente que a guerrilha deixasse de ser considerada um grupo terrorista, argumentando que é uma força política legítima com um "projeto bolivarista".
Em resposta, mais de um milhão de colombianos se mobilizaram pela Internet e organizaram manifestações de protesto em todo o mundo. Mas Chávez é um bonapartista que só ouve sua própria voz.
A morte de Reyes complica a libertação da ex-senadora e ex-candidata à Presidência da Colômbia Ingrid Betancourt, que tem dupla nacionalidade. É também francesa. Também atinge o projeto chavista para legitimar as FARC e lhes dar participação no governo.
Uribe, cujo pai foi morto pela guerrilha, chegou ao poder em 2002 com a intenção de derrotar militarmente os grupos rebeldes colombianos.
Seus dois antecessores, Ernesto Samper e Andrés Pastrana, abriram negociações com os rebeldes, sem sucesso. Como as FARC ganham centenas de milhões de dólares anualmente com o tráfico de cocaína e a Colômbia tem um histórico de matar ex-guerrilheiros convertidos à vida política civil, o diálogo fracassou.
Assim, Uribe nega-se a negociar diretamente com as FARC para não legitimá-las como força política. Vai contra seu projeto de "segurança democrática".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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