sábado, 15 de março de 2008

China dá ultimato a manifestantes do Tibete


A ditadura militar da China declarou uma "guerra popular" contra os monges lamaístas e os manifestantes que desde segunda-feira, 10 de março, relembram o aniversário da revolta de 1959 no Tibete, massacrada pelo regime comunista chinês. Deu prazo até segunda-feira próxima para se entregarem às autoridades chinesas, que acusam o Dalai Lama, líder espiritual do Tibete e ganhador do Prêmio Nobel da Paz 1989, pelos protestos.

Na sexta-feira, 14 de março, cerca de mil manifestantes tomaram as ruas do centro histórico de Lhassa, a capital tibetana, depredaram símbolos do poder de Beijim, como o Banco da China e lojas de chineses, e enfrentaram o Exército Popular de Libertação e a polícia de choque.

A capital do Tibete está ocupada por tropas e tanques.

Neste sábado, a televisão chinesa apresentou os primeiros vídeos sobre a batalha em Lhassa. A agência oficial de notícias Nova China disse que 10 pessoas morreram, todas "civis inocentes".

O governo tibetano no exílio declarou em Daramsalá, na Índia, que pelo menos 30 pessoas foram mortas pelas forças de segurança da China. Mas testemunhas afirmam ter contado pelo menos 67 cadáveres num necrotério em Lhassa.

Grupos de defesa dos direitos humanos denunciam 100 mortes. Os governos dos Estados Unidos, da Austrália e de vários países da Europa fizeram um apelo às autoridades chinesas para que evitem usar a violência. Mas, a julgar pelo Massacre na Praça da Paz Celestial, em Beijim, em 3 a 4 de junho de 1989, quando centenas, talvez milhares, de pessoas foram mortas, na última vez em que o regime comunista foi desafiado em grande escala, a expectativa é de nova matança.

A intenção dos manifestantes e do Movimento Tibete Livre, que tem representantes na Europa e nos Estados Unidos, é intensificar as manifestações até a Olimpíada de Beijim, marcada para 8 a 20 de agosto. O ator hollywoodiano Richard Gere, uma das figuras destacadas do movimento, está propondo um boicote aos Jogos Olímpicos.

Desde o século 13, o Tibete é dominado pela China. Só foi independente durante um curto período, de 1912 a 1950, da criação da República da China até a vitória da revolução comunista, quando o país viveu uma guerra civil e a ocupação japonesa, na Segunda Guerra Mundial, que lá começou antes. Neste período, diversas regiões do interior da China eram dominadas por senhores da guerra.

Em 1931, o Exército Imperial do Japão invadiu e ocupou a Manchúria e, em 1937, o Leste da China, dominando o país até o fim da guerra, em 1945.

Um ano depois da vitória da revolução comunista liderada por Mao Tsé Tung, o novo regime ocupou o Tibete, tentando reconstruir o que considerava o território histórico da China. Isso provocou a revolta de 1959, quando Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, fugiu para o exílio no Norte da Índia, onde lidera um governo no exílio.

Desde então, a ditadura militar chinesa adota uma política de migração forçada para mudar a composição étnica do Tibete. Hoje, a maioria da população seria de chineses da etnia hã, que são mais de 90% da população da China, a maior do mundo, com 1,3 bilhão de pessoas.

Os chineses étnicos foram os principais alvos da revolta popular que explodiu ontem na cidade sagrada de Lhassa, centro histórico do lamaísmo, o budismo tibetano. Foram os monges lamaístas que iniciaram os protestos na segunda-feira. Serão eles os principais alvos da reação chinesa.

As autoridades comunistas responsabilizaram o Dalai Lama. Tentam caracterizar a revolta como um movimento ilegítimo orquestrado no Ocidente para prejudicar a imagem da China no momento em que o país se destaca como uma superpotência econômica e organiza a Olimpíada de Beijim.

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