A primeira mulher candidata a vice-presidente dos Estados Unidos por um grande partido, Geraldine Ferraro, abandonou ontem o comitê financeiro da campanha da senadora Hillary Rodham Clinton pela candidatura do Partido Democrata à Casa Branca na eleição de 4 de novembro. Há dois dias, Ferraro, vice na derrotada chapa de Walter Mondale em 1984, declarou que o senador Barack Obama "só está onde está por ser negro".
Em outras palavras, Ferraro apela para o racismo da maioria branca nos EUA para insinuar que o movimento popular que levou Obama à liderança na luta pela candidatura democrata tem uma conotação racial.
Desde o início da campanha, o senador por Illinois apresenta-se como americano e não como candidato dos pobres ou dos negros. Ele lidera a disputa pelos delegados que indicariam o candidato democrata na convenção nacional do partido, a ser realizada em Denver, no Colorado, no final de agosto.
Sem chances de alcançar Obama tanto no voto popular como no número de delegados, a campanha de Hillary joga a carta racial. Com isso, divide inapelavelmente o partido e marcha, no máximo, para uma vitória de Pirro, um general que obteve duas derrotas tão arrasadores contra Roma que declarou: "Mais uma vitória dessas e estou perdido".
Depois de vitórias em Heracléia e Ásculo, Pirro perdeu em Malevento, que os romanos rebatizaram para Benevento. Desde então, uma vitória com jeito de derrota é chamada de vitória de Pirro.
Obama ganhou na terça-feira passada a eleição primária no Mississípi, o estado mais pobre dos EUA, onde 37% da população é negra. Os afro-americanos são a maioria do eleitorado democrata e 92% votaram em Obama. Mas, entre os brancos, o senador teve apenas 25% dos votos.
Como os negros são apenas 12% da população americana, o voto negro não basta para eleger um presidente.É preciso ter uma boa votação entre os brancos.
A jogada da campanha de Hillary é convencer os 796 superdelegados do Partido Democrata de que a candidatura de Obama não teria chances contra o senador republicano John McCain, candidato do partido do presidente George W. Bush.
Seria a única chance para a ex-primeira-dama, que reluta em reconhecer a derrota. O problema é que na campanha de baixo nível que faz contra Obama está fazendo o Partido Democrata sangrar e se dividir.
Uma vitória que parecia garantida depois dos catastróficos governos de Bush está ameaçada. Se Hillary for a candidata, o eleitorado negro vai sair de casa para votar nela? As pesquisas indicam que não.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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