quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Trump demite ministro da Justiça e abre guerra contra investigações

A onda azul do Partido Democrata reconquistou a maioria na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos nas eleições de ontem. Não fui uma tsuname. O Partido Republicano deve ampliar a maioria no Senado, mas o presidente Donald Trump demitiu hoje o ministro da Justiça e procurador-geral, Jeff Sessions para se proteger do inquérito do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016.

A apuração ainda não terminou. Os democratas elegeram 223 deputados, cinco a mais do que o necessário para ter maioria na Câmara, e os republicanos, 199 deputados. Faltam os resultados de 13 distritos.

No Senado, os republicanos terão 51 cadeiras e os democratas 46, faltando definir três cadeiras.

Foi uma derrota para o presidente, que tinha maioria nas duas casas do Congresso. Por temor de que a maioria democrata investigue seus escândalos, conflitos de interesses e relações com a Rússia, Trump demitiu Sessions, que se negou a supervisionar o inquérito por ter mantido contato com o embaixador russo durante a campanha eleitoral.

Trump nunca engoliu a recusa. O subprocurador-geral, Rod Rosenstein, nomeou o procurador especial depois que o presidente demitiu James Comey, então diretor-geral do FBI, a polícia federal americana, em maio de 2017.

Depois de anunciar que entraria em “guerra” com a oposição se os democratas tentarem investigar ele e a família, Trump afastou Sessions e nomeou como interino Matthew Whitaker, que no ano passado declarou que Mueller não tem autorização para investigar as finanças pessoais do presidente e de sua família.

O presidente reclamou várias vezes de Sessions, insinuando que o procurador-geral deveria protegê-lo e não defender os interesses da Justiça dos EUA. Foi aconselhado a não demiti-lo antes das eleições de ontem para não prejudicar os candidatos republicanos.

Para reconquistar a Câmara, por causa do redesenho dos distritos eleitorais pelos republicanos nos estados que governam, os democratas precisavam de 55% do total de votos. Os republicanos são cada vez mais um partido conservador das pequenas cidades e das zonas rurais do país. Perdem nos grandes centros urbanos.

Apesar do excelente desempenho da economia, que cresce em ritmo de 3,5% ao ano, com desemprego de 3,7%, o menor índice desde 1969, a impopularidade do presidente, hoje na média de 42%, suas posições extremistas e os ataques ao programa do governo Barack Obama para garantir cobertura universal de saúde devolveram a maioria na Câmara aos democratas.

Obama perdeu a maioria na Câmara em 2010, no segundo ano de governo, principalmente por causa dos ataques dos republicanos a seu programa de saúde, que obriga os planos de saúde a cobrir doenças preexistentes. Agora, esta questão foi uma das grandes bandeiras dos democratas.

Os EUA têm a medicina mais desenvolvida do mundo, mas é muito cara. Os gastos somam 16% do produto interno bruto da maior economia do mundo, de cerca de US$ 20 trilhões. Uma doença como o câncer pode significar a falência da família e a morte do paciente.

Como a economia aparentemente atingiu o pico e a guerra comercial com a China ameaça provocar uma recessão, Trump pode tentar culpar os democratas. Levando em conta a taxa de desemprego e os preços das ações de empresas cotadas em bolsas de valores, o derrota do presidente em eleições intermediárias foi considerada a pior em 100 anos.

Outro fator importante na vitória democrata foi a expressiva participação das mulheres, irritadas pela misoginia de Trump. Com algumas cadeiras a definir, pelo 113 mulheres foram eleitas para o Congresso.

A líder democrata Nancy Pelosi, primeira mulher a presidir a Câmara, deve reassumir o cargo.

Alexandria Ocasio Cortez, uma socialista de origem porto-riquenha eleita por Nova York de 29 anos, será a mais jovem deputada. Ilhan Omar e Rashida Tlaib, eleitas por Minnesota e Michigan, serão as primeiras muçulmanas, enquanto Sharice Davids, do Kansas, e Debra Haaland, do Novo México, serão as primeiras mulheres indígenas no Congresso. São todas democratas.

A má notícia para os democratas é que venceram eleições locais. Das 29 cadeiras que tomaram dos republicanos para ter maioria, muitas estão em distritos conservadores onde os republicanos costumam ganhar e podem ser perdidas daqui a dois anos, nas próximas eleições.

Os republicanos devem aumentar a maioria no Senado, em eleições estaduais, e elegeram 20 dos 36 governadores estaduais, uma indicação melhor de um possível desempenho do partido na eleição presidencial de 2020. Venceram em estados-chaves como a Flórida e Ohio, decisivos na disputa pela Casa Branca.

Com a maioria na Câmara, os democratas podem denunciar o presidente e abrir um processo de impeachment, mas não têm a maioria de dois terços exigida no Senado para afastar o presidente. Parte da bancada republicana teria teria de abandonar Trump.

Uma acusação de obstrução de justiça, se Trump acabar com o inquérito do procurador especial, pode levar ao impedimento do presidente. Com certeza, os democratas vão aproveitar a maioria para investigar Trump.

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