Como qualquer economista sério sempre suspeitou, a saída da União Europeia vai trazer grandes perdas ao Reino Unido. Com o acordo anunciado na semana passada pela primeira-ministra Theresa May, haverá uma perda de 3,9% em 15 anos em relação ao que aconteceria se o país ficasse no bloco europeu, alertou um documento oficial divulgado hoje pelo governo.
O Banco da Inglaterra advertiu que uma saída dura, uma ruptura total, sem acordo com a UE, vai acarretar perdas de até 10,5% em apenas cinco anos, noticiou hoje o jornal Financial Times. Seria a maior queda na renda nacional desde a Segunda Guerra Mundial, pior do na Grande Recessão (2008-9).
Na última grande crise econômica internacional, a economia britânica recuou 6,5% e os preços das casas caíram 17%. Numa saída dura, o produto interno bruto caiu de 8% a 10,5% e o valor médio dos imóveis residenciais deve baixar 30%, pela previsão do Banco da Inglaterra.
A ala mais extremista do Partido Conservador, favorável a uma ruptura total, desprezou as duas análises econômicas, como faz desde a campanha para o plebiscito realizada em 23 de junho de 2016, que aprovou a Brexit (British exit = saída britânica).
Os economistas do governo britânico concluíram que a política comercial independente, uma das reconquistas alegadas pelos partidários da saída, não trará valor, enquanto a imigração da cidadãos de outros países da UE aumenta a prosperidade do país. As finanças públicas também serão prejudicadas pela Brexit.
Para os brexiteiros, trata-se de recuperar a soberania nacional sobre as leis, as finanças, as fronteiras, a imigração e os mares. Mas o país que um dia esteve no centro do Império Britânico, o maior que o mundo já viu, com 35,5 milhões de quilômetros quadrados de superfície, além do domínio dos mares, será reduzido a uma pequena ilha e um pedaço de outra, com um total de 242,5 mil km2. Seu poder de barganha vai encolher na mesma medida.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o primeiro-ministro Winston Churchill disse que a política externa britânica se desenvolvia em três áreas: a relação especial com os Estados Unidos, as relações com a Europa e com a Comunidade Britânica, formada pela maioria dos países do antigo império.
Hoje 50% do comércio exterior britânico é com a Europa. O maior valor do Reino Unido para os EUA, além da aliança militar é ser uma ponte com a UE. As grandes empresas transnacionais com fábricas do país estão de olho no mercado comum europeu, assim como os bancos que fazem de Londres o maior centro financeiro do continente. Tudo isso será perdido sem a Europa.
Com sua visão ultranacionalista do princípio de soberania nacional, o presidente Donald Trump despreza uma entidade supranacional como a UE e trabalha para desmantelar o bloco europeu. Não fará nenhuma concessão econômica, a não ser pelo peso específico da economia britânica, assim como não fará qualquer concessão ao Brasil por causa de um alinhamento ideológico do governo Jair Bolsonaro.
Os países do antigo império, com o ressentimento histórico de ex-colônias, também não vão criar uma relação especial com o Reino Unido. Para os mais bem-sucedidos, Índia, Austrália e Canadá, as relações com os EUA são hoje muito mais importantes.
A ressaca pós-imperial traz ainda o risco de independência da Escócia. No último plebiscito, os escoceses decidiram continuar no Reino Unido por 55% a 45% por causa das vantagens econômicas da União em vigor desde 1707, que incluem o acesso ao mercado europeu. Com a Brexit, é provável que a Escócia decida declarar a independência para permanecer na Europa.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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