Em mais uma patética distorção da realidade, o presidente Donald Trump contrariou a análise da Agência Central de Inteligência (CIA) e eximiu hoje o príncipe-herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed ben Salman, de responsabilidade pela morte do jornalista dissidente Jamal Khashoggi, brutalmente assassinado no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2 de outubro.
Ao justificar sua decisão, Trump acusou o Irã pela guerra civil no Iêmen, por desestabilizar o Iraque, financiar a milícia xiita libanesa Hesbolá, sustentar o ditador sírio, Bachar Assad (que acusou exageradamente por "milhões de mortes'), de ser inimigo dos Estados Unidos e de Israel, e de ser "considerado o maior patrocinador mundial de terrorismo".
Como de costume, o presidente americano ignora a realidade e constrói sua própria versão mentirosa. A Arábia Saudita e as monarquias petroleiras do Golfo Pérsico são os maiores patrocinadoras do terrorismo dos muçulmanos sunitas, inclusive da rede terrorista Al Caeda e do Estado Islâmico.
O governo saudita não financia diretamente esses grupos, que são uma ameaça a seu regime. Como o país tem 6 mil príncipes, não faltam financiadores para o extremismo muçulmano sunita. MbS, como o príncipe é mais conhecido, prometeu combater o jihadismo.
Depois de atacar o Irã, Trump afirmou que sua viagem à Arábia Saudita gerou negócios de US$ 450 bilhões para os EUA, outro exagero, inclusive de US$ 110 bilhões para a indústria bélica americana, o que está mais perto da realidade.
Quando falou do assassinato de Khashoggi, o presidente disse que talvez nunca se saiba o que realmente aconteceu. Trump aceitou as desculpas do rei Salman e do príncipe-herdeiro, que alegaram não ter conhecimento do planejamento e da execução do crime bárbaro.
"Talvez ele soubesse, talvez não", desconversou Trump, referindo-se ao príncipe.
Em uma monarquia absolutista como a Arábia Saudita, é praticamente impossível que um jornalista importante seja assassinado sem que a cúpula do regime saiba, especialmente porque o crime foi cometido por agentes da guarda pessoal de Mohamed ben Salman, como assinalou o relatório da CIA, ignorado por Trump.
"De qualquer maneira", acrescentou Trump, "nosso relacionamento é com o Reino da Arábia Saudita. Tem sido um grande aliado em nossa importante luta contra o Irã. Os EUA pretendem continuar sendo um aliado inabalável da Arábia Saudita para garantir os interesses do nosso país, de Israel e de todos os nossos outros parceiros na região. É nosso objetivo prioritário eliminar totalmente a ameaça do terrorismo através do mundo!"
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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