Parentes de membros da alta cúpula do regime comunista da China, inclusive do presidente Xi Jinping e do ex-primeiro-ministro Wen Jiabao, usam empresas de fachada com sede nas Ilhas Virgens Britânicas (IVB), um paraíso fiscal, para depositar fortunas no exterior, revelam documentos obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos publicados pelo jornal inglês The Guardian.
Há suspeitas de que entre US$ 1 trilhão e US$ 4 trilhões tenham saído da China sem deixar rastro desde 2000.
Durante dois anos, os repórteres examinaram mais de 200 gigabytes de documentos vazados de duas grandes companhias das Ilhas Virgens Britânicas, identificando mais de 21 mil clientes da China e de Hong Kong com negócios suspeitos.
A investigação mostra a atuação decisiva de bancos e empresas ocidentais como PricewaterhouseCoopers, Credit Suisse e UBS para abrir as empresas no paraíso fiscal.
O extraordinário crescimento chinês nos últimos 35 anos, o mais espetacular da história, elevou o produto interno bruto do país a segundo maior do mundo, com estimativa de US$ 9,3 trilhões em 2013, mas produziu enorme desigualdade social. Enquanto 100 homens mais ricos da China têm junto mais de US$ 300 bilhões, 300 milhões de pessoas sobrevivem com US$ 2 por dia.
Uma empresa de Lily Chang, filha do ex-primeiro-ministro Wen Jiabao, recebeu US$ 1,8 milhão do banco americano J P Morgan Chase, noticiou em novembro o jornal The New York Times. Esse pagamento chamou a atenção das autoridades dos EUA para a prática do banco de contratar parentes de altos funcionários chineses.
O marido de Lily, Liu Chunhang, ex-funcionário do banco americano Morgan Stanley, hoje atua na regulamentação bancária na China. Ambos têm conta nas IVB, assim como Wen Yunsong, filho de Wen Jiabao, um investidor e atual presidente de uma estatal de serviços de satélite.
Em 27 de dezembro de 2013, Wen Jiabao enviou mensagem a um jornalista de Hong Kong negando envolvimento em negócios ilícitos e "abuso de poder para ganho pessoal".
Deng Jiagui, casado com a irmã mais velha do presidente Xi Jinping, investidor e empresário do ramo imobiliário, é dono de uma empresa nas IVB em sociedade com dois outros magnatas do setor de imóveis que no ano passado ganharam uma concorrência de US$ 2 bilhões.
Outros principezinhos, termo usado para falar da vida aristocrática dos filhos da elite comunistas chinesas, com empresas para lavar dinheiro incluem Li Xiaolin, filha do ex-primeiro-ministro linha-dura Li Peng, executiva de uma companhia estatal de energia; Hu Yishi, primo do ex-presidente Hu Jintao; e Wu Jianchang, genro do grande líder reformista Deng Xiaoping.
A elite econômica da nova China capitalista também recorre ao paraíso fiscal. Pelo menos 16 dos homens mais ricos do país, com uma fortuna conjunta superior a US$ 45 bilhões, apareceram na investigação.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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