Sob pressão da inflação e da escassez de divisas, depois de dez anos de intervenção no câmbio, a Argentina adotou uma nova política monetária e deixou o peso se desvalorizar 14% em dois dias. Foi a maior queda desde o colapso da dolarização na crise de 2001-2.
No câmbio oficial, o dólar rompeu a barreira psicológica dos sete pesos, chegou a 8,34, mas recuou no fechamento para oito pesos; no mercado paralelo, foi a 13 pesos.
Em apenas três semanas de 2014, a moeda argentina perdeu 18,6% do valor, em contraste com 24% em todo o ano passado. A inflação oficial de 2013 ficou em 10,9%, enquanto institutos de pesquisas privados calculam que foi de 28% e os sindicatos pedem reajustes salariais correspondentes. O fantasma da inflação elevada, que atormentou o país nos últimos 40 anos, com a exceção do período de polarização (1991-2001), está de volta.
Desde 2011, as reservas cambiais argentinas em moedas fortes caíram de US$ 52 bilhões para US$ 29 bilhões. Só para comparar, o Brasil acumulava anteontem US$ 376 bilhões em reservas internacionais, uma sólida garantia para enfrentar crises.
Até hoje, a Argentina não saldou todas as suas dívidas do calote de 2001, de US$ 100 bilhões. Por isso, não consegue financiamento no mercado internacional.
Nos últimos meses, o governo começou a controlar o câmbio, impedindo os argentinos de comprar dólares como fazem historicamente em momentos de crise. A Secretaria de Comércio Exterior faz um microgerenciamento das importações. À espera da desvalorização, nas últimas semanas, os exportadores atrasaram a venda de soja na expectativa de obter uma cotação melhor pelo dólar.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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