Apesar das rígidas políticas de controles de gastos públicos impostas pela União Europeia para conter a crise econômica, ou talvez por causa delas, só dois dos 28 países do maior bloco comercial do mundo conseguiram diminuir suas dívidas públicas no início de 2013, revelam dados divulgados hoje pelo Eurostat, o escritório oficial de estatísticas da UE.
O total das dívidas dos 17 países da Zona do Euro subiu 150 bilhões de euros no primeiro trimestre de 2013 para 8,75 trilhões de euros, 92,2% do produto regional bruto. Na UE como um todo, ainda com 27 países, já que a Croácia entrou em 1º de julho, ficou em 85,9% do PIB.
Na Alemanha, a dívida caiu de 81,9% do produto interno bruto no fim de 2012 para 81,2% no fim do primeiro trimestre deste ano. Ainda está muito longe do limite de 60% imposto pelo pacto de estabilidade para sustentar o euro.
A França, segunda maior economia europeia, viu a dívida subir de 90,2% para 91,9%.
Já a Estônia tem a menor dívida percentual do bloco, que caiu no mesmo período de 10,1% para 10% do PIB.
Cinco países europeus têm dívidas públicas acima de 100% do PIB. O endividamento é maior na Grécia (160,5%), submetida há quatro anos a um rigoroso programa de ajuste fiscal, na Itália (130,3%), em Portugal (127,2%) e na Irlanda (125,1%).
Grécia, Portugal e Irlanda receberam ajuda de emergência da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em troca, tiveram de aceitar rigorosos programas de ajuste acusados de agravar ainda mais a situação de economias que já estavam em declínio.
O maior problema é a falta de crescimento. A Eurozona não cresce desde o outono de 2011 no Hemisfério Norte. A Itália, por exemplo, tem um déficit público baixo, mas não cresce há um ano e nove meses. Na Espanha, cuja dívida é de 88,2% do PIB, o maior problema é o sistema financeiro, abalado pela explosão da bolha especulativa no mercado imobiliário.
Como na Grécia, o desemprego de um quarto da população ativa e de mais de metade dos jovens torna a situação ainda mais crítica na Espanha. Em Portugal, o desemprego chegou a 18%.
"A Europa decidiu reduzir os déficits num momento em que o setor privado estava fraco", observa o economista Zsolt Darvas, do centro de estudos Bruegel, de Bruxelas, na Bélgica. Foi um erro imposto pela Alemanha que fez com que o continente seja o único que ainda não saiu da Grande Recessão.
Nos Estados Unidos, o governo reduziu impostos e aumentou os gastos. O déficit orçamentário explodiu, chegando a US$ 1 trilhão por ano durante vários anos. Com a recuperação econômica moderada, os aumentos de impostos e cortes de gastos acertados neste ano, o déficit caiu significativamente.
O Japão também está fazendo políticas de estímulo sob a liderança do primeiro-ministro Shinzo Abe, um nacionalista preocupado com a ascensão da China. Cresce em ritmo de 4% ao ano.
A Grécia foi submetida a uma receita muito diferente. A troika (UE-FMI-Banco Central Europeu) impôs alta de impostos e redução de despesas governamentais, agravando uma situação que já era muito ruim.
Ao não adotar políticas anticíclicas, contra o ciclo econômico, que era de queda, a troika condenou a Grécia a uma recessão que está no sexto ano. Mas o discurso da austeridade e do rigor são populares na Alemanha, que teria de entrar com a maior parte de investimentos governamentais maciços para retomar o crescimento.
Assim, antes das eleições de setembro na Alemanha, em que a chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel é franca favorita, é improvável qualquer mudança nesta política fracassada. Mesmo depois, é improvável que os alemães e outros povos do Norte da Europa abram seus cofres para seus sócios do Sul, que consideram indisciplinados, ineficientes e corruptos.
O risco maior é para a integração da Europa. Merkel está mais preocupada consigo mesma. Até hoje, não apresentou seu projeto europeu, sua proposta para o futuro do maior bloco comercial do planeta, que decidiu ir além do livre comércio, mas tropeçou na crise do euro.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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