Depois de 19 dias retido na área de trânsito do Aeroporto Cheremetievo, em Moscou, o ex-técnico subcontratado pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos Edward Snowden, que revelou o programa de megaespionagem via Internet chamado Prisma, anunciou hoje que deve pedir asilo à Rússia antes de vir para a América Latina, onde recebeu ofertas de asilo da Venezuela, da Nicarágua e da Bolívia.
Snowden passou ao jornal esquerdista inglês The Guardian a informação de que o governo dos EUA instalou equipamentos de espionagem nos servidores de grandes empresas americanas de informática, como Apple, Facebook, Google, Microsoft, Skype, Twitter e Yahoo.
Quando a denúncia estourou, ele estava em Hong Kong, um território autônomo da China. Como Snowden deu detalhes sobre a espionagem eletrônica dos EUA contra o regime comunista chinês, as autoridades da China o deixaram escapar. Snowden seguiu para Moscou, de onde pediu asilo político para 21 países, inclusive o Brasil. Conseguiu em países latino-americanos com governos de esquerda antiamericanos.
Sob pressão dos EUA, o Equador não ofereceu asilo a Snowden. Mas, depois que o avião do presidente da Bolívia, Evo Morales, foi proibido de entrar em Portugal, na Espanha, na França e na Itália por suspeita de que Snowden estivesse a bordo, Venezuela, Bolívia e Nicarágua estão dispostas a lhe acolher.
A questão é um dos temas centrais da reunião de cúpula do Mercosul que se realiza hoje em Montevidéu, no Uruguai, num momento em que só as críticas à descortesia diplomática da Europa e o repúdio à espionagem dos EUA unem o bloco sul-americano.
Cada vez com mais problemas de divisas, a Argentina reforça o protecionismo, violando um dos princípios básicos da integração regional, o livre comércio dentro do Mercosul. O Paraguai, que volta dia 15 de agosto depois de ser suspenso pelo golpe contra o presidente Fernando Lugo, rejeita a participação da Venezuela, que entrou pela porta dos fundos, sem ser aprovada pelo Congresso paraguaio, numa manobra do Brasil e da Argentina, aproveitando a ausência do sócio mais pobre..
Mesmo assim, Bolívia e Equador devem se tornar membros plenos do bloco. Até agora, eram membros associados. Participavam da zona de livre comércio, mas não das decisões políticas do Mercosul.
A entrada de mais dois países bolivaristas - antiliberais, anticapitalistas e antiamericanos - afasta ainda mais o Mercosul de sua proposta original de regionalismo aberto, uma associação de países interessada em ter uma voz mais forte e maior poder de barganha no mundo globalizado.
Um dos temas em pauta é a abertura de negociações de liberalização comercial com a União Europeia, que depende de fortes concessões do setor agrícola europeu para conseguir cobrir pelo menos 80% do comércio bilateral, uma exigência das normas da Organização Mundial do Comércio, tendo em vista a competitividade do agronegócio no Brasil e na Argentina. A entrada da Venezuela pode atrapalhar.
O governo venezuelano não negociou antecipadamente sua adesão às regras do Mercosul. A herança ideológica de Hugo Chávez e seu "socialismo do século 20" não valoriza o livre comércio nem a competição dentro do sistema capitalista. Na Venezuela, as empresas precisam de autorização do governo para demitir funcionários. Isso inibe investimentos.
A Venezuela vive uma séria crise de desabastecimento e inflação, e o presidente Nicolás Maduro, inexperiente e sem carisma, pouco mais do que um pelego chavista, não tem propostas para superar a situação.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Professor... tenho uma pergunta.. O Estado não possui o direito de fechar seu espaço aéreo? Não é um direito soberano? Não existe passagem inocente como o Direito Marítimo... então, sinceramente não entendo o repúdio. Se ele fosse alvejado, aí sim.. uma afronta aos Protocolos de Montreal.. e com relação à vistoria austríaca no avião do cocaleiro uma violação à Convenção de Viena ( uma ironia).. mas, no que diz respeito ao Espaço Aéreo.. me parece uma besteira, mesmo porque o avião presidencial boliviano já foi usado no passado para tráfico de drogas.. e professor me aceita no Facebook, lhe mandei um convite semana passada.. meu nome é Gustavo Afonso Costa..
É o chefe de Estado de um país com quem eles mantêm relações diplomáticas. Tem imunidade diplomática. Não havia justificativa para fechar o espaço aéreo.
Postar um comentário