Há um golpe de Estado em marcha no Egito, denunciou hoje o assessor de segurança nacional da Presidência. O prazo-limite dado pelos militares para que governo e oposição se entendam esgotou-se hoje às 11h30 pelo horário de Brasília.
As Forças Armadas ocuparam a televisão estatal e devem fazer um pronunciamento nas próximas horas. O presidente Mohamed Mursi estaria há seis horas em prisão domiciliar. Há notícias de que o ultimato para que os partidos políticos cheguem a um acordo seria prorrogado.
Outras fontes dizem que Mursi estaria no Ministério da Defesa, sob a proteção da guarda presidencial. O jornal francês Le Monde disse que ele foi proibido de sair do Egito.
Em entrevista à rede de televisão americana CNN, o escritor Naguib Abadir negou que se trate de um golpe de Estado, alegando que "é uma revolução contra um presidente que abusou do poder e tentou concentrar todos os poderes legislativos".
Nas ruas do Cairo, há gigantescas manifestações rivais: de um lado, as oposições secularistas; do outro, os partidos islâmicos que apoiam Mursi. Pelo menos 23 pessoas morreram e outras centenas saíram feridas dos confrontos das últimas horas.
Há movimento de tropas e blindados em Suez e no Sinai, onde veículos do Exército teriam sido colocados junto a mesquitas, temendo uma reação violenta dos islamitas.
A Irmandade Muçulmana promete não recuar diante da iniciativa dos militares de remover o primeiro presidente eleito da História do Egito. Um militante islamita disse à CNN que "o Exército não pode atirar contra a multidão".
Na Espanha em 1936, no Irã em 1953, no Sudão em 1989, na Argélia e no Tajiquistão em 1992, golpes militares contra líderes populares levaram a ditaduras e guerras civis. Na Argélia, que também fica no Norte da África, a anulação do segundo turno das eleições parlamentares que seriam vencidas pela Frente Islâmica de Salvação (FIS), em 1992, levou a uma guerra civil com mais de 100 mil mortes.
Os Estados Unidos estão preocupados. Como maior país árabe em população, com 85 milhões de habitantes, o Egito é líder do mundo árabe. O caos no país pode ser contagiado. Um ativista da Irmandade Muçulmana já ameaçou dar aos militares egípcios o "mesmo destino do Exército baathista de Assad", numa referência à guerra civil na Síria.
A derrubada do governo islamita egípcio, considerado moderado, prejudica os esforços internacionais para trazer os partidos muçulmanos radicais para o jogo político, evitando assim o recurso à violência e ao terrorismo. Ao depor Mursi, os militares egípcios deram poder às massas para exigir a queda de outros presidentes no futuro, criando um precedente perigoso.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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