Mais de 30 anos depois de ser escrito e 51 anos depois dos acontecimentos, o último volume da história da fracassada invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, contada pela Agência Central de Inteligência (CIA), o serviço de espionagem da Presidência dos Estados Unidos, vai permanecer em segredo. A decisão foi da juíza Gladys Kessler.
A invasão foi uma tentativa de exilados cubanos de derrubar a ditadura de Fidel Castro, de 14 a 19 de abril de 1961, com o apoio do governo americano, quando ficou evidente o caráter socialista da revolução cubana.
O ataque levou Fidel a pedir à União Soviética a instalação de armas nucleares em Cuba para defender à revolução. Quando os EUA descobriram, em 14 de outubro de 1962, começou o período de maior tensão da Guerra Fria. Nunca o mundo esteve tão perto de uma guerra nuclear. Em 27 de outubro, a crise foi desarmada e uma invasão americana a Cuba abortada na última hora.
Em troca da retirada dos mísseis soviéticos, os EUA retiraram mísseis de curto alcance da Turquia e se comprometeram tacitamente a não invadir Cuba.
No ano passado, o Arquivo da Segurança Nacional, uma biblioteca e instituto de pesquisas, pediu a desclassificação de toda a história da CIA sobre a invasão da Baia dos Porcos para publicá-la. Na quinta-feira passada, a juíza "rejeitou sua inclusão na publicação final" e o isentou de ser revelado com base na Lei de Liberdade de Informação, informa a companhia jornalística americana McClatchy Newspapers.
A operação teria sido articulada no fim do governo Dwight Eisenhower (1953-61) pelo então vice-presidente Richard Nixon, um notório anticomunista. O relatório do inspetor-geral da CIA atribuiu o fracasso da invasão a informações incorretas, mau planejamento, despreparo e inadequação do pessoal envolvido e falha na comunicação com o presidente John Kennedy.
Na parte mantida sob sigilo, o historiador Jack Pfeiffer critica o relatório do inspetor-geral e responsabiliza o governo Kennedy pelo fracasso da invasão da Baía dos Porcos. A juíza decidiu que sua divulgação desestimularia analistas da CIA de tentar interpretações "inovativas, não ortodoxas e impopulares" de documentos por medo de sua futura divulgação.
A grande questão irresolvida é justamente essa: quem foi responsável pelo fracasso? Faltou apoio do governo Kennedy, desinteressado por uma operação herdada do governo anterior? Ou a vitória da revolução cubana era inevitável sem uma intervenção militar em grande escala?
Talvez Pfeiffer nem tivesse muito a acrescentar, mas a posição da CIA certamente não contribui para o julgamento da história.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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