O senador Barack Obama tornou-se hoje o primeiro negro a ser candidato à Presidência dos Estados Unidos por um grande partido, com chances de conquistar a Casa Branca.
Grande orador, favorito natural diante de um concorrente muito mais velho, a grande dúvida que paira sobre a candidatura Obama é se os EUA, que há 50 anos tinham segregação racial no Sul, evoluíram para eleger um presidente negro (na verdade, mulato, de mãe branca americana e pai negro queniano, mas para todos os efeitos políticos e simbólicos, negro).
Obama já tem o apoio de 2.154 delegados à Convenção Nacional do Partido Democrata que vai oficializar a candidatura à eleição presidencial de 4 de novembro, superando a marca de 2.118 delegados, o que garante a maioria na convenção. Mas sua rival, a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton, ainda não aceitou a derrota.
Para o discurso da vitória, o senador escolheu Saint Paul, Minnesotta, sede da convenção republicana, no início de setembro, para mais um excelente discurso. Obama agradeceu aos eleitores pela vitória "numa disputa de altíssima qualidade" em que disse "ter aprendido com os rivais como amigos. Eles são líderes deste partido e deste país".
Ele cumprimentou Hillary pela vitória em Dakota do Sul, dizendo que "Hillary Clinton fez história nesta campanha", sua tentativa de unir o partido em torno de sua candidatura à Casa Branca. Em seguida, se dirigiu diretamente aos eleitores de Hillary, cujos votos vai precisar: "Vamos conquistar cobertura universal de saúde e Hillary tem um papel central nesta luta. Nosso país é mais rico por causa da senadora Hillary Clinton. Eu sou um candidato melhor porque precisei enfrentar Hillary Rhodam Clinton nesta disputa. Unidos, vamos traçar um novo rumo para os EUA".
Depois de buscar a unidade do partido, Obama se voltou contra o candidato do Partido Republicano à Presidência dos EUA, senador John McCain, o verdadeiro adversário em 4 de novembro: "Presto homenagem ao senador McCain pelos serviços prestados e por suas conquistas, mesmo que ele escolha negar as minhas".
Primeiro, Obama acusou McCain de representar o continuísmo da política econômica dos governos George Walker Bush, colocando a economia na frente, como maior problema no momento para o povo americano. "O senador McCain tem fama de ser independente dentro de seu partido, mas nesta campanha está se alinhando. Votou com o governo Bush 95% das vezes no Senado", disparou Obama.
"Em política externa, a mudança não começa com a continuação de uma guerra que nunca deveria ter sido autorizada, em primeiro lugar", atacou o candidato democrata. Mas, em seguida, fez uma concessão. Já posando como comandante-em-chefe em potencial, reconheceu implicitamente que não poderá retirar as forças americanas do Iraque correndo, "mas não por cem anos", alusão a um dos argumentos de McCain sobre a presença militar dos EUA no Iraque.
A guerra derrotou Hillary, observou Carl Bernstein, um dos repórteres do Escândalo de Watergate, em uma mesa-redonda da CNN. Falava do apoio à guerra que Hillary deu ao autorizar Bush a usar a força no Senado. Ela teve dificuldade de explicar.
Quando Hillary alegou que Obama é jovem e inexperiente, ele tem 46 anos, Obama respondeu: "Mais importante do que a experiência é ter a capacidade de fazer o julgamento correto desde o primeiro dia". Foi um sólido argumento de campanha ancorado na rejeição da opinião pública à guerra no Iraque.
No discurso da vitória, o primeiro negro em condições de chegar à Presidência dos EUA pediu uma campanha eleitoral civilizado: "Antes de sermos democratas ou republicanos, somos todos americanos", disse, apelando para o eleitorado flutuante, aquele que muda de partido.
Apelou também a grupos específicos onde precisa conquistar eleitores, como o operariado branco de baixa instrução, onde Hillary levou ampla vantagem. Lembrou "os trabalhadores fazendo piquete" em suas greves".
O objetivo final é "um mundo melhor, mais gentil e mais justo. Este é o nosso momento e o nosso tempo. É hora de virar a página, trazer novas idéias e uma nova direção a este país que amamos".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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