A Cruz Vermelha estimou hoje em até 128 mil o total de vítimas e as Nações Unidas elevaram para até 2,5 milhões sua estimativa sobre o número de flagelados pela passagem do ciclone Nargis há 11 dias em Mianmar, a antiga Birmânia. Mas a ditadura militar que desgoverna o país há 46 anos insiste em não aceitar a presença estrangeira e já é acusada por organizações não-governamentais de roubar os alimentos enviados para as vítimas da tragédia.
Depois de um encontro de duas horas em Yangum entre os primeiros-ministros da Tailândia, Samak Sundaravej, e de Mianmar, Thein Sein, coube ao chefe de governo tailandês mandar a mensagem da junta militar mianmarense: "Mianmar é um país de 60 milhões de habitantes. Tem governo, povo e setor privado que podem resolver o problema sozinhos. Não há fome nem epidemias no país."
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Miliband, herdeiro da corrente de Tony Blair no Partido Trabalhista britânico, ameaçou mais uma vez usar a força.
A ONU está negociando com a Tailândia a abertura de um corredor terrestre para entregar a ajuda aos milhões de flagelados, já que o regime militar de Mianmar rejeitou a proposta de abertura de um corredor aéreo e marítimo.
Mais cinco aviões militares de transporte dos Estados Unidos levaram suprimentos hoje para Yangum. Até agora, houve oito vôos com ajuda americana, no total de 90 toneladas. Mas a junta rejeitou a entrada no país da Marinha dos EUA.
"Água, comida, equipamento sanitário, suprimentos médicos e material para fazer abrigos estão chegando ao país em quantidades cada vez maiores", declarou o subsecretário-geral da ONU para ajuda humanitária, John Holmes. "A questão é quanto desta ajuda está chegando às áreas e pessoas afetadas. O quadro não é muito claro."
Sem a ajuda de estrangeiros, o socorro às vítimas é mais lento. Aumenta o risco de epidemias: "Os especialistas dizem que entre 10 a 14 dias depois de um desastre desses, quando as condições são insanas e as pessoas não recebendo a ajuda que necessitam, comida, água limpa e abrigo, e se juntam para enfrentar a situação, uma doença pode se propagar rapidamente."
Corriam rumoes pelas ruas de Yangum nesta quarta-feira que a junta militar trocou os biscoitos energéticos enviados pelo Programa Mundial de Alimentos da ONU, que contêm todos os nutrientes e vitaminas necessários para pessoas em situação de emergência, por biscoitos comuns de água e sal. Teria guardado o melhor para os militares de Mianmar.
Para agravar ainda mais uma situação que já é trágica, outra grande tempestade que pode se transformar num ciclone tropical está se formando na região e deve cruzar o Delta do Rio Irrauade, arrasado pelo ciclone Nargis.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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