Os produtores rurais da Argentina recusaram a proposta de redução do imposto sobre exportações anunciada ontem pelo governo da presidente Cristina Kirchner e decidiram manter a greve reiniciada na quarta-feira, agravando ainda mais uma crise que já dura 90 dias.
Cristina reuniu o ministérios e diversos governadores aliados na Casa Rosada para apresentar a sugestão do governo. Pela proposta, há reduções nas alíquotas superiores. A alíquota máxima, de 52,7%, só será aplicada se a tonelada de soja passar de US$ 750 e sobre a parte da renda do produtor acima desses US$ 750, explicou o ministro da Economia, Carlos Fernández, homem de confiança do casal Kirchner.
Pelo decreto de 11 de março, os ganhos acima de US$ 600 por tonelada de soja eram taxados a 95%.
"Confio que isso acabe com as preocupações da maioria dos agricultores", declarou o chefe da Casa Civil, Alberto Fernández, o superministro da Casa Rosada desde o governo Néstor Kirchner (2003-07).
Mas os ruralistas não ficaram satisfeitos. Exigem o fim desse imposto com alíquota móvel de acordo com o preço internacional da soja.
A popularidade da presidente caiu 20 pontos para 26% por causa do conflito com o campo, que chegou a provocar desabastecimento num dos celeiros do mundo. São 40 milhões de habitantes num país com capacidade para produzir alimentos para 350 milhões.
O governo Cristina Kirchner, na verdade um segundo mandato Kirchner com troca de comando mas não de política, partiu para o confronto. Mas os produtores rurais não cedem.
Para o presidente da Associação Rural Argentina, Luciano Miguens, "as novas medidas parecem mais do mesmo", ou seja, de um espírito taxador do casal Kirchner.
Com a preocupação de manter o modelo econômico e por causa dos problemas de crédito derivados da renegociação forçada e parcial da dívida depois do colapso da dolarização da era Menem (1989-99) em 2001, o governo argentino precisa aumentar a arrecadação.
Os fazendeiros e agricultores argentinos ganharam muito dinheiro com o aumento dos preços internacionais do trigo, da soja e da carne. A sanha arrecadadora do governo se volta contra eles, a pretexto de redistribuir a renda.
Só que nenhum produtor agüenta calado alíquotas deste tamanho hoje em dia. Para o vice-presidente da Federação Agrária Argentina, Pablo Orsolini, "punir os sojicultores não adianta absolutamente nada. A curva superior [das alíquotas] foi modificada mas ainda é muito alta. Isso não resolve nada", protestou.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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