terça-feira, 8 de abril de 2008

General pede pausa na saída de tropas do Iraque

Depois de admitir que os progressos na guerra são "frágeis e reversíveis", o comandante militar dos Estados Unidos no Iraque, general David Petraeus, pediu hoje uma pausa na retirada das tropas americanas em julho, quando haverá 140 mil soldados americanos no país, para reavaliar a situação. Nesta quarta-feira, faz cinco anos da queda do ditador Saddam Hussein.

Em depoimento no Congresso, onde foi interrogado pelos três candidatos à Casa Branca na eleição presidencial de 4 de novembro, o general deixou entender que preferia não mandar soldados de volta para casa, como pediu aos gritos um manifestante enquanto ele propunha a pausa.

Antes do depoimento do general, o candidato do Partido Republicano à presidência, senador John McCain, defensor da guerra e do aumento de tropas ordenado pelo governo George W. Bush no ano passado, elogiou a redução da violência. Para McCain, uma retirada rápida, como querem seus adversários do Partido Democrática, seria catastrófica para o Oriente Médio e os interesses dos EUA, provavelmente provocando um "genocídio", palavra que usou diversas vezes.

Veterano do Vietnã, McCain tenta posar como o candidato mais qualificado para ser comandante-em-chefe, embora tenha confundido sunitas com xiitas em recente viagem ao Oriente Médio.

O general Petraeus destacou a redução do número de mortes e atentados desde junho do ano passado, quando o reforço ordenado por Bush começou a dar resultado no campo de batalha. Na época, o Iraque estava à beira de uma guerra civil entre árabes sunitas e árabes xiitas capaz de se transformar numa conflagração geral no Oriente Médio. Mas admitiu que o progresso é "frágil e reversível".

Há sinais claros de que os iraquianos rejeitam a violência terrorista da rede Al Caeda, liderada por Ossama ben Laden, que sugeriu no mês passado que o Iraque é a base ideal para "libertar a Palestina", afirmou o general. Os sunitas se organizaram em milícias conhecidas como Os Filhos do Iraque, que hoje tem 90 mil homens e são aliadas dos EUA.

Se a situação melhorou nas regiões de maioria sunita, os combates de duas semanas atrás nas áreas xiitas de Bagdá e Bássora revelam uma competição por recursos e poder que estava controlada por causa da trégua declarada em agosto do ano passado pelo aiatolá Muktada al-Sader, líder do Exército Mehdi, a maior milícia do Iraque.

Mais uma vez, declarou o general Petraeus, ficou evidente "o papel destrutivo do Irã", que teria treinado comandos e fornecido as armas usadas nos ataques contra a superprotegida Zona Verde da capital iraquiana, onde ficam o governo, as embaixadas estrangeiras e o comando militar dos EUA.

"A Síria deu alguns passos positivos mas não faz o suficiente para impedir o envio de armas e recursos para a Al Caeda", prosseguiu o comandante americano.

Ao mesmo tempo, a ineficiência das forças de segurança e do governo do Iraque "alimentam a criminalidade e a violência. Estamos monitorando de perto as mortes de civis", acrescentou Petraeus, o contrário do que fazia o primeiro comandante militar americano no Iraque, general Tommy Franks, que declarou no início da guerra: "Não contamos corpos".

"O número de ataques é muito menor do que há um ano", comentou o general Petraeus, "o que impede Al Caeda de reestimular a violência sectária" entre sunitas e xiitas. Al Caeda está assim mais distante do povo iraquiano.

Para que os EUA tenham sucesso, propôs o general, a ação militar precisa ser combinada com operações de inteligência, diplomacia e a reconciliação política dos iraquianos. Ele admitiu que as eleições regionais e municipais e a volta dos refugiados criarão novos desafios a partir do outono no Hemisfério Norte, razão pela qual se opõe à retirada defendida pelos candidatos democratas, que "aumentaria os riscos regionais e globais para os EUA", especialmente na guerra contra Al Caeda.

A rede terrorista está em fuga mas não foi derrotada, concluiu. Sua área de operação diminuiu, mas os jihadistas tentam se estabelecer em Mossul, na região curda no Norte do Iraque.

Por isso, Petraeus considera sem sentido estabelecer um cronograma para a retirada antes de fazer uma profunda reavaliação.

Em resposta às perguntas dos senadores, o comandante militar americano reconheceu que a operação do governo iraquiano contra as milícias xiitas "poderia ser sido muito mais planejada". Ele só foi informado em cima da hora pelo primeiro-ministro Nuri al-Maliki e o desempenho das tropas iraquianas foi medíocre.

Com a intenção de marcar suas diferenças em relação a McCain e se apresentar como mais qualificada para ser comandante-em-chefe do que seu rival democrata, o senador Barack Obama, a senadora Hillary Clinton insistiu em que o governo Bush está sempre afirmando que está fazendo progressos, que a situação esta melhorando e que em breve tudo estará muito melhor no Iraque: "Mas o que vemos na prática é uma repetição das políticas fracassadas".

Se os adversários de uma retirada apontam para os riscos de uma saída rápida das tropas americanas do país conflagrado pela invasão e derrocada de Saddam Hussein, que caiu há cinco anos, em 9 de abril de 2003, Hillary alerta para os custos de continuar na guerra que ela apoiou com seu voto no Senado. A senadora promete iniciar a retirada 60 dias depois de sua posse, se for eleita presidente.

Para marcar sua diferença em relação aos outros dois candidatos e se apresentar como o único que foi contra a guerra desde o início, Obama fala em retirar todas as forças de combate americanas do Iraque em um ano e meio, deixando um contingente de 30 mil soldados para treinar as forças de segurança iraquianas.

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