Quando o senador Barack Obama já posava como candidato democrata, a senadora e ex-primeira dama Hillary Clinton deu a volta por cima. A exemplo de seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, nas eleições prévias do Partido Democrata em 1992, está de volta à corrida à Casa Branca.
Com uma campanha agressiva e negativa, atacando diretamente seu rival, Hillary obteve vitórias importantes em dois grandes estados na terça-feira, Texas e Ohio, em 4 de março de 2008.
Obama ainda lidera a contagem de delegados à convenção nacional que vai indicar oficialmente o candidato do partido. Mas a obamania perdeu o embalo que parecia irresistível.
Primeiro, acusou o senador de plágio, roubando suas idéias e citando frases de outros, inclusive de um governador pró-Obama.
Depois, a campanha de Hillary distribuiu uma foto de Obama vestido em trajes muçulmanos durante uma visita ao Quênia, terra do pai do senador por Illinois. Imediatamente, locutores de rádio conservadores que apóiam o Partido Republicano passaram a citar nome completo do senador: Barack Hussein Obama.
Hillary também ironizou os discursos otimistas mas vagos de Obama, dizendo, por exemplo, que "de repente, o céu vai se abrir, um coro celestial vai cantar e todos os problemas serão resolvidos".
Também fez anúncios de televisão agressivos anti-Obama, como um em que o telefone vermelho da Casa Branca tocava às três da manhã informando sobre uma grande crise internacional. Neste anúncio e em todos os seus discursos, insistiu que tem a experiência necessária para ser presidente dos Estados Unidos e que tem soluções prontas, em vez das idéias vagas de Obama.
Deu resultado. No Texas, as pesquisas indicam que dois terços dos que decidiram seu voto nos últimos dias optaram por Hillary.
Ao mesmo tempo, Obama cometeu erros. Ohio é um dos estados que mais sofreu com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, da sigla em inglês), perdendo 50 mil empregos na indústria.
Ambos os candidatos democratas atacaram o acordo, danto munição ao candidato republicano John McCain para se apresentar como campeão do livre comércio. O presidente George Walker Bush aproveitou para lembrar que as exportações americanas para o México e o Canadá somam cerca de US$ 380 bilhões a cada ano.
Enquanto Obama atacava o Nafta, um de seus assessores foi ao Canadá avisar que era apenas um argumento de campanha. O ex-presidente George Bush, pai do atual presidente, fez o mesmo em relação à União Soviética em 1991. Avisou o então presidente Mikhail Gorbachev que as acusações não era para valer.
Essa falsa propaganda abalou a imagem de Obama, revelando um político igual à velha guarda de Washington que ele tanto critica, tentando se apresentar como novo e diferente.
Como favorito, Obama passou de nova sensação da política nos EUA a alvo preferencial de Hillary e McCain. Não conseguiu dar explicações convincentes sobre suas relações com Tony Rezko, um empresário de Chicago que foi seu arrecadador de fundos para a campanha.
Rezko está sendo processado criminalmente por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro. Obama comprou uma casa ao lado da dele em Chicago. Em sua defesa, limitou-se a dizer que não fez nada de errado, não havendo nenhuma acusação contra ele.
Tudo isso pesou. A terça-feira em que poderia consolidar sua candidatura depois de um mês com 11 vitórias consecutivas começou com a 12ª vitória, em Vermont. Mas Hillary levou em Rhode Island, Ohio e no Texas.
Em Ohio, Hillary recuperou o apoio das bases sindicais do partido, prometendo soluções efetivas para os novos desempregados. No Texas, venceu por uma pequena margem graças aos votos latino e feminino.
A questão agora é se, ganhando a candidatura democrata, Hillary terá uma vitória de Pirro, um general da Antigüidade que derrotou Roma duas vezes, em Heracléia e Ásculo. O exército de Pirro sofreu tantas baixas que não resistiu à terceira batalha, sendo finalmente derrotado em Malevento, cujo nome os romanos logo mudaram para Benevento.
Enquanto o Partido Democrata sangra numa longa luta que pode se arrastar até a convenção nacional de 4 de novembro, os republicanos aproveitarão as críticas feitas entre si por Hillary e Obama para atacar os democratas na batalha final pela Casa Branca.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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