Há muito tempo o Brasil sonha com a liderança da América do Sul. Mas no momento da 4ª Reunião de Cúpula da União Européia, da América Latina e do Caribe, a região parece mais dividida do que nunca, constata a revista inglesa The Economist na edição que circula a partir desta sexta-feira. No artigo A Diminuição do Brasil, a revista acrescenta que para muitos brasileiros o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um observador impotente diante das manobras do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
O pressuposto é que Chávez inspirou a estatização do gás e do petróleo da Bolívia, decretada em 1º de maio pelo presidente Evo Morales. A maior vítima, diz o Economist, foi o Brasil. Maior consumidor do gás natural boliviano, terá de pagar 60% mais.
Para a revista, "a resposta de Lula pareceu fraca. Em vez de defender os direitos contratuais do Brasil, teve um encontro em 4 de maio não só com o líder boliviano e o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, mas também com Chávez. Lula disse que a Bolívia estava agindo de acordo com seus direitos".
Na opinião dos críticos, foi mais um sinal da confusão da política externa de Lula. Entre eles, está o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e no Reino Unido Rubens Barbosa, hoje diretor de relações internacionais da Federação das Indústrias de São Paulo, para quem "a política externa das últimos 20 anos foi prejudicada" por colocar uma suposta afinidade ideológica acima do interesse nacional e de uma integração regional baseada em regras e instituições.
The Economist aponta uma contradição entre o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que declarou serem "essenciais" as boas relações com os Estados Unidos, e o secretário-geral do Itamarati, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, favorável a "reagir às iniciativas políticas da hiperpotência" pela "promoção de alianças com países da periferia".
Isto levou o Brasil e se aproximar da África, da Ásia e do Oriente Médio, "com magros resultados", segundo o Economist.
Desde o início do governo, continua a revista, Lula colocou a integração latino-americana como prioridade de política externa. Mas o Mercosul nunca esteve tão mal. "O Brasil foi atrás do sonho da união sul-americana antes de fortalecer e aprofundar o Mercosul", declarou ao Economist o professor brasileiro Alfredo Valladão, que leciona numa universidade francesa.
O projeto da Comunidade Sul-Americana de Nações, lançado pelo Brasil em 2004, parece irrelevante diante das divisões no subcontinente. A Colômbia e o Peru seguiram o exemplo do México, Chile e América Central, fazendo acordos de livre comércio com os Estados Unidos. Agora o Uruguai pode fazer o mesmo.
Ao mesmo tempo, Chávez, Morales e o presidente cubano, Fidel Castro, criaram a Alternativa Bolivarista para as Américas. O chanceler brasileiro entende que endurecer com a Venezuela e a Bolívia trará conseqüências negativas. O Brasil usaria sua influência para moderar o caudilho venezuelano.
Pode ser, desconfia o Economist. "Mas o Brasil falhou ao articular uma alternativa ao chavismo. Há pouco tempo, os líderes regionais tinham um projeto de integração baseado na defesa da democracia e no cumprimento dos contratos. Esta visão, conclui a revista, está sendo sacrificada por um impulso infantil "antiimperialista". O Brasil pode pagar por isso.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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