Em entrevista ao jornal colombiano El Tiempo, o ex-presidente do Uruguai José Mujica afirmou que, "se a Colômbia disser não ao acordo de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), dará a impressão de ser um povo esquizofrênico que se aferra à guerra como forma de vida."
Mujica fará parte da comissão de fiscalização do cumprimento do acordo de paz, que será assinado em 26 de setembro na cidade histórica de Cartagena. Ele lamentou que mais de 3 mil dirigentes sindicais tenham sido mortos na guerra civil colombiana: "Em direitos trabalhistas, a Colômbia parece um país primitivo. É um país riquíssimo e está entre os mais desiguais do mundo."
O ex-presidente uruguaio, hoje senador, um dos ídolos da esquerda latino-americana, convocou os jovens a votar sim no referendo sobre o acordo de paz, marcado para 2 de outubro de 2016. Ele também aconselhou o segundo maior grupo guerrilheiro colombiano, o Exército de Libertação Nacional e abandonar a luta armada e negociar a paz.
"A guerra não pode ser objetivo da vida", raciocinou Mujica. "Nas velhas definições acadêmicas de guerra, esta se faz por uma paz melhor, mas o objetivo não é a guerra, é a paz. Se vamos viver em guerra permanente, estamos locos."
Daqui para a frente, acrescentou, a luta deve ser civil, pacífica e democrática: "Que se insiram na sociedade, que trabalhem, que usem a experiência que tem no campo a favor do desenvolvimento agrário, do campesinato, da inclusão, das escolas, da infraestrutura e muitas coisas mais - e lutem por tudo isso."
Até abril de 2017, Mujica vai fazer parte da comissão que vai acompanhar o desarmento, a reintegração dos guerrilheiros e a instalação do tribunal especial de crimes de guerra para quem não for beneficiado pela anistia por ter cometido crimes contra a humanidade.
"Farei tudo pela construção da paz por três razões: pela Colômbia, pela América e pelo mundo", declarou Pepe Mujica. "O ser humano chegou a um estágio em que precisa se propor a sair da pré-história. Temos de arquivar as armas como recurso para resolver nossas diferenças. Temos de sair disto. Por quê? Porque o homem nunca teve tanta força como hoje em dia.
"Se seguimos nesta lógica de guerra, estaremos expostos a que um dia apareça um louco de merda com possibilidade de apertar o botão e armar um desastre", concluiu Mujica, numa referência ao candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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