Com 62% dos votos dos filiados, o deputado Jeremy Corbyn foi reeleito ontem líder do Partido Trabalhista do Reino Unido com amplo apoio nas bases sindicais e na ala jovem. Como 75% dos deputados trabalhistas rejeitam sua liderança, é provável uma divisão no partido, que não tem a menor chance de vencer eleições gerais com o atual líder, um esquerdista radical com ideias atrasadas dos anos 1960s.
Corbyn convocou hoje os deputados descontentes a se unirem sob a liderança dele. No discurso da vitória, afirmou que é sua responsabilidade unir o partido, mas é dever dos deputados aceitar o resultado da votação e concentrar energias na oposição governo da primeira-ministra conservadora Theresa May.
"Eleições são passionais e com frequência são ditas coisas no calor do debate que às vezes mais tarde lamentamos, mas temos de lembrar sempre que em nosso partido temos muito mais em comum do que o que nos divide", declarou o líder reeleito.
O desafiante, Owen Smith, era um dos membros do governo paralelo da oposição que se demitiram no fim de junho de 2016 para pressionar Corbyn a renunciar depois da derrota do partido no plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.
O líder trabalhista é um eurocético. Em 1975, votou contra a adesão à então Comunidade Econômica Europeia, que considerava um clube de países capitalistas. Desta vez, não teria se empenhado suficientemente, facilitando a vitória dos conservadores mais à direita e de grupos neofascistas como o Partido da Independência do Reino Unido.
Do ponto de vista eleitoral, o Partido Trabalhista perdeu quase todas as cadeiras da Escócia na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico nas eleições de 2015 depois de fazer campanha contra a independência da Escócia no plebiscito realizado em 2014. Sem uma bancada escocesa forte, fica difícil para os trabalhistas conseguirem maioria.
Uma das razões do repúdio da maioria dos deputados a Corbyn é a expectativa de perda de cem cadeiras nas próximas eleições. Neste caso, haveria um sério risco de que o Reino Unido se torne um país com um partido dominante, o Partido Conservador.
Assim, há uma grande possibilidade de que deputados descontentes deixem o Partido Trabalhista e se aproximem do Partido Liberal-Democrata, arrasado nas últimas eleições depois de ser o sócio menor no governo de coalizão do primeiro-ministro conservador David Cameron, para formar um novo partido.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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