O ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Israel Shimon Peres morreu hoje aos 93 anos. Era o último líder da geração que fundou o Estado de Israel, em 1948. Foi um dos principais defensores das negociações de paz com os palestinos. Peres ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1994, mas jamais venceu uma eleição, talvez por nunca ter sido militar e não ser considerado suficientemente linha dura.
Shimon Peres nasceu em Wiszniew, na Polônia, hoje parte da Bielorrússia, em 2 de agosto de 1923. Sua pai era comerciante de madeira e a mãe, bibliotecária. A família falava hebreu, iídiche e russo em casa. Na escola, aprendeu polonês e mais tarde inglês e francês.
Em 1932, o pai de Peres emigrou para a Palestina e se instalou em Telavive. O resto da família se juntou a ele em 1934. Os parentes que ficaram na Polônia foram mortos no Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial.
Na juventude, Peres aderiu ao movimento trabalhista, decisivo na criação de Israel, em 1948. Aos 29 anos, foi nomeado ministro da Defesa pelo fundador e primeiro primeiro-ministro israelense, David ben Gurion. Ele negociou a compra de aviões de guerra franceses e instalou a central atômica de Dimona, essencial para o desenvolvimento das armas nucleares de Israel.
Como diplomata, Peres negociou o apoio do Reino Unido e da França a Israel na Guerra de Suez, em 1956, tornando a França na principal aliada de Israel. Na Guerra dos Seis Dias, quando a Força Aérea de Israel destruiu as aviações inimigas em terra, os bombardeios foram realizados por jatos Mirage franceses.
Só a partir da Guerra do Yom Kippur, em 1973, sob a influência de Henry Kissinger, os Estados Unidos se tornaram o principal aliado de Israel.
Em 1977, o partido conservador Likud derrotou o Partido Trabalhista, que voltaria ao poder com Peres por dois anos (1984-86) numa grande aliança e como partido dominante em 1992 sob a liderança de Yitzhak Rabin, que junto com Peres resolveu negociar a paz com os palestinos nos Acordos de Oslo, que criaram a Autoridade Nacional Palestina (ANP) em 1994.
Peres, Rabin e o líder palestinos Yasser Arafat foram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz em 1994. Quando um terrorista israelense de extrema direita matou o primeiro-ministro Rabin, em novembro de 1995, Peres voltou à chefia do governo, mas perdeu as eleições do ano seguinte para o atual primeiro-ministro, o linha dura Benjamin Netanyahu, que paralisou o proceso de paz.
A próxima tentativa de negociar a paz coube ao primeiro-ministro trabalhista Ehud Barak (1999-2001), em 2000, no fim do governo Bill Clinton. Sua queda levou ao poder o arquilinha dura Ariel Sharon, que decidiu abandonar o Likud e criar um partido mais ao centro chamado Kadima (Avante) para negociar a paz, com o apoio de Peres, que aderiu ao novo partido.
Vítima de um acidente vascular cerebral, Sharon ficou inconsciente em 4 de janeiro de 2006. Seus sucessores no Kadima, Ehud Olmert e Tzipi Livni, não conseguiram apoio eleitoral para levar a frente o plano de paz de Sharon. O atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e seus atuais aliados não mostram interesse real em negociar a paz com os palestinos.
Em 2007, Peres foi eleito presidente de Israel, um cargo decorativo de chefe de Estado que ocupou até 2014. Ele sofreu um acidente vascular cerebral em 13 de setembro de 2016, dia do histórico aperto de mão entre Rabin e Arafat no jardim da Casa Branca, em Washington, em 1993, e não se recuperou.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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