Na véspera dos 25 anos da queda do Muro de Berlim, celebrados hoje, o último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, advertiu para o risco de "uma nova guerra fria" por causa do conflito na Ucrânia, que atribuiu mais ao "triunfalismo" do Ocidente do que às políticas agressivas do presidente da Rússia, Vladimir Putin, para subordinar as ex-repúblicas soviéticas.
Com sua tentativa de democratizar a URSS, Gorbachev foi o maior responsável pelo fim do comunismo soviética e pela libertação dos países da Europa Oriental ocupados por Stalin no fim da Segunda Guerra Mundial. A queda do muro e a reunificação da Alemanha simbolizaram o fim da guerra.
Na época, os Estados Unidos e seus aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se comprometeram a não mover suas tropas além da fronteiras da Guerra Fria, mas não impediram a adesão dos países da Europa Oriental como Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia à aliança atlântica. Afinal, era um direito desses países se proteger da Rússia, uma inimiga histórica.
Para Putin, que considera o fim da URSS a "maior catástrofe geopolítica so século 21", restou a tarefa de tentar resgatar pelo menos parte do poder imperial soviético. Assim, depois ocupar regiões da ex-república soviética, respondeu a uma provocação do então presidente georgiano Mikheil Saakachvili com uma guerra, em 2008.
Quem for hoje às repúblicas autônomas da Abecásia e da Ossétia do Sul vai encontrar republiquetas governadas por mafiosos russos, a exemplo do que acontece com a república da Crimeia, tomada da Ucrânia num plebiscito ilegal, em março de 2014.
Sem poderio econômico para competir com o Ocidente, Putin tentou impedir um acordo de associação da Ucrânia à União Europeia, deflagrando uma revolução que levou à fuga para a Rússia do presidente Viktor Yanukovich, em fevereiro de 2014.
Desde então, Putin nega legitimidade ao governo ucraniano. Ignorou o Memorando de Budapeste, de 1994, pelo qual a Rússia herdou as armas soviéticas prometendo, em troca, garantir a segurança das ex-repúblicas soviéticas que as entregassem. Anexou a Crimeia. A partir de abril, fomenta uma rebelião de russos étnicos no Leste da Ucrânia.
Em resposta, os EUA e a UE impuseram sanções econômicos que levaram a Rússia à estagnação. O conflito com o Ocidente aproximou a Rússia da China. Ambas têm interesse em enfraquecer o Ocidente, mas a China não quer conflito, enquanto Putin manda bombardeiros estratégicos sobrevoar a Europa, numa provocação.
Como bom tático e péssimo estrategista, Putin obtém pequenas vitórias enquanto afunda a economia do país e se coloca numa posição de onde não pode recuar sem sofrer uma derrota política. Assim, se alguém está alimentando uma nova guerra fria, é o dirigente do Kremlin.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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