Se as pesquisas estiverem corretas, daqui a uma semana o senador Barack Obama deve ser eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos em 4 de novembro, batendo o senador republicano John McCain, um veterano que foi prisioneiro de guerra no Vietnã.
Um presidente negro no país que há pouco mais de 40 anos tinha segregação racial já é uma revolução. Mais importante ainda, Obama é um presidente dos EUA que o resto do mundo pode amar. Essa é uma enorme vantagem para um país que perdeu prestígio e autoridade moral sob o governo de George W. Bush.
Obama representaria a volta do poder suave, sutil, de persuasão. O poder da comunicação, o cinema de Hollywood, o rock’n’roll, os blues e o jazz, blue jeans e também a Coca-Cola, o Cadillac e outras marcas contribuíram mais para a vitória na Guerra Fria dos que as armas, observa o professor Joseph Nye, ex-subsecretário da Defesa no governo Clinton.
A vitória na Guerra Fria foi uma vitória do estilo de vida americano.
O governo George W., dominado pelos neoconservadores, se propunha a tirar as vantagens que os EUA não teriam tirado sob Bill Clinton (1993-2001) da vitória na Guerra Fria, que eles atribuíam ao presidente Ronald Reagan (1981-89). Acabou jogando fora o prestígio ao invadir o Iraque com um pretexto furado.
Nunca o antiamericanismo foi tão forte no mundo. Sempre foi forte na América Latina, pelo domínio imperial que os EUA exerceram historicamente sobre o resto do continente.
Hoje, é mais radical no mundo muçulmano, mas em poucos países do mundo os EUA têm uma imagem favorável – e a crise financeira só agrava a situação: os modelos americanos estão em baixa.
Não basta uma eleição presidencial para mudar. Mas já é um bom começo. O maior comício da campanha de Obama foi um discurso para 200 mil pessoas em Berlim.
Barack Hussein Obama II nasceu em 4 de agosto de 1961, em Honolulu, Havaí, filho de pai queniano de mesmo nome e de Ann Dunham, uma americana branca do Kansas, um dos estados mais conservadores dos EUA. Eles se conheceram na Universidade do Havaí e se separam quando Obama tinha dois anos.
Ele foi morar com a mãe na Indonésia, onde ficou até 10 anos, quando voltou a Honolulu para morar com os avós.
Depois de terminar o ensino médio, Barack Obama foi fazer faculdade em Los Angeles, mas acabou se transferindo para a Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque. Ficou quatro anos em Nova Iorque e foi para Chicago, onde foi contratado como diretor de projetos de desenvolvimento comunitário na pobre Zona Sul da cidade.
Em 1988, ele vai pela primeira vez à Europa e ao Quênia para conhecer a família. No fim do ano, entra na Faculdade de Direito da Universidade de Harvard. Lá ele foi editor e tornou-se o primeiro presidente negro da Harvard Law Review, a revista acadêmica da escola.
De volta a Illinois, Obama virou professor de Direito na Universidade de Chicago, onde dava um seminário sobre igualdade racial bastante concorrido.
Sua carreira política começa em 1996, com a eleição para o Senado Estadual de Illinois. Reeleito em 1998 e 2002. Em 2000, queria concorrer à Câmara de Representantes mas perdeu uma prévia do partido para o deputado Bobby Rush.
A eleição para o Senado Federal, em 2004, abriu caminho para a candidatura à Casa Branca. Em 10 de fevereiro de 2007, Obama lançou sua candidatura sob o olhar descrente dos que consideravam inevitável a vitória da senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton.
Com seu talento de grande orador e uma mensagem genérica de mudança e esperança, Obama empolgou as multidões, mobilizou a comunidade negra, que finalmente se sente representada de fato, e boa parte da juventude. Através da Internet, arrecadou US$ 600 milhões.
Na Superterça-Feira, 5 de fevereiro, quando houve eleições primárias em 22 estados, Hillary percebeu que tinha um adversário formidável. Obama parecia presidencial. Tomou a dianteira e nunca mais a cedeu.
Sob o fogo pesado da oponente na disputa interna do Partido Democrata, sua candidatura pareceu perder o brilho dos grandes discursos, como o discurso sobre raça, em que ele promete “lutar por uma União mais perfeita, sem o pecado original da escravidão” acima das diferenças de cor de pele, sem ódio, sem rancor, sem vingança.
Ao projetar um futuro melhor, Obama encontrou uma imagem positiva de uns EUA melhores do que são hoje. Logo depois das convenções nacionais dos partidos que confirmaram as candidaturas no final de agosto e início de setembro, Obama e McCain estavam praticamente empatados nas pesquisas de opinião.
A crise financeira global e a incapacidade do governo Bush de apresentar uma resposta terminaram por sepultar, até prova em contrário, a candidatura do senador McCain.
Aos 72 anos, ele tem excelentes serviços prestados à nação. É um herói de guerra e um senado que muitas vezes contrariou seu próprio partido em defesa de suas convicções, o que também não é comum nos EUA.
Mas só conquistou a candidatura do Partido Republicano porque depois de dois governos de George W. Bush esta é uma eleição para a oposição democrata vencer. O próprio eleitorado conservador estava acomodado, ainda que McCain tenha aberto mão de toda sua suposta rebeldia para garantir o voto conservador.
Só virou o jogo quando lançou a governadora do Alasca, Sarah Palin, como candidata a vice. Aos 44 anos, ex-miss e ex-atleta na universidade, ultraconservadora, caçadora, evangélica e contra o abordo, o Furacão Sarah, que se definiu como uma “pitbull de batom”, empolgou a direita conservadora, mas acabou por alienar o eleitorado mais de centro, independente, que é quem decide eleições.
A vantagem democrata é evidente. Os últimos campos de batalha são estados onde George Bush ganhou em 2004 e Obama pode ganhar agora, como Ohio, Virgínia e Pensilvânia. McCain faz um último apelo ao bolso. Acusa Obama de ser um socialista que quer distribuir a riqueza. Já se fala até numa avalanche em 4 de novembro.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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