A trágica guerra civil na República Democrática do Congo, que já foi chamada de Primeira Guerra Mundial Africana, por envolver em certos momentos seis países e diversas forças irregulares, está de volta.
No Leste do país, rebeldes da etnia tútsi avançam rumo à capital provincial de Goma, diante da impotência da maior força da paz das Nações Unidas no mundo inteiro para conter a ofensiva. A força internacional de paz prepara a retirada dos estrangeiros que trabalham em ajuda humanitária, mas não consegue proteger a população civil congolesa.
Há dois dias, uma pessoa morreu durante um protesto diante do quartel-general da ONU em Goma contra o reinício da guerra na região. Os manifestantes acusavam a força de paz de permitir que as forças do general renegado Laurent Nkunda derrotassem o Exército do Congo.
Na terça-feira, os rebeldes estavam a cerca de cem quilômetros ao norte de Goma, capital da província de Kivu do Norte. Estão se aproximando de Rutshuru e Kibumba, onde vivem dezenas de milhares de deslocados ou refugiados internos da longa guerra civil congolesa.
A guerra começou em abril de 1994 com o avanço da Frente Patriótica Ruandesa e a morte do presidente de Ruanda, Juvenal Habyarimana, seguida pelo genocídio cometido pelo Exército dominado pela maioria hutu que batia em retirada e a milícia Interahawe (Destemidos, os que vêm para matar).
Quando eles se refugiaram no Leste do Congo, entraram em conflito com os baniamulengue, que são tútsi e portanto eram aliados do novo regime no poder em Kigale, sob a liderança do coronel Paul Kagame, da FPR. Esse conflito está na origem da guerra civil congolesa.
Em outubro de 1998, o general rebelde Laurent-Desiré Kabila deixou seu refúgio nas Montanhas da Lua, no coração da África e realizou seu sonho de marchar até Kinshasa e derrubar o ditador Mobutu Sese Seko, que mudara o nome do país para Zaire.
Os rebeldes tútsis, agora liderados pelo general Nkunda lançaram uma grande ofensiva no domingo, 26 de outubro de 2008, e chegaram a 20 quilômetros de Goma, destruindo veículos da ONU e obrigando milhares de civis a fugir para o sul em direção à capital da província.
"A missão de paz da ONU deve ser mais ativa, cobrou Jano Luneno, um líder da comunidade local.
O Congresso Nacional pela Defesa do Povo, de Nkunda, acusa o Exército de colaborar com as Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR), que inclui os Interahawe, a milícia e os soldados responsáveis pelo genocídio de 800 mil a 1 mihão de pessoas entre abril e julho de 1994.
Tanto o Exército quanto as FDLR exploram minas de ouro e estanho no Congo. Cerca de 80% da produção congolesa de minério de estanho vêm das províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul.
Houve vários acordos de paz nos últimos anos. A Primeira Guerra Mundial Africana é dividida entre a Primeira Guerra do Congo (1996-7), quando Mobutu é derrubado, e a Segunda Guerra do Congo (1998-2003), considerada o conflito mais mortal depois da Segunda Guerra Mundial.
Entre conflitos, fomes e doenças provocadas ou agravadas pela guerra, estima-se que 5,4 milhões de pessoas morreram na longa guerra civil congolesa das últimas duas décadas.
Depois de 2003, restaram alguns focos de conflitos neste vasto país que não tem uma infra-estrutura que o integre.
Agora, cerca de 100 mil civis fugiram de casa em Kivu do Norte desde agosto, quando o acordo de paz firmado em janeiro desabou.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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