O governo da Argentina anunciou ontem uma redução no imposto sobre exportações para pequenos produtores rurais. Eles voltaram a pagar 35%, como faziam até 11 de março, antes do governo aumentar a alíquota para 44%.
A medida foi anunciada à tarde pelo ministro da Economia, Martín Lousteau. Em seguida, a presidente Cristina Kirchner fez um pronunciamento à nação e pediu o fim do bloqueio de estradas que, depois de 19 dias de paralisação, já provoca desabastecimento.
Em Buenos Aires, os açougues amanheceram sem carne nesta segunda-feira. Para um país com a tradição agropecuária da Argentina e uma capacidade de produzir alimentos para uma população dez vezes maior do que tem, é um absurdo total e completo.
Mas a manobra kirchnerista não deu certo. A tentativa de dividir os ruralistas, oferecendo um corte de impostos para quem exporta até 500 toneladas, não deu certo.
As quatro entidades que organizaram a greve decidiram manter o movimento até quarta-feira, mas prometem deixar passar uma quantidade limitada de caminhões para evitar o desabastecimento, o que provocaria a revolta da população.
O problema do governo Cristina é que não passa de uma continuação da presidência do marido, Néstor Kirchner.
Ao controlar preços e manipular a taxa de câmbio para tentar conter a inflação, o governo argentino precisa manter o superávit primário e o equilíbrio das contas públicas. Sem investimento externo por causa do calote da dívida e das condições impostas pelo governo Néstor Kirchner aos credores, só restou a Cristina aumentar impostos.
Agora, toda a política econômica está em cheque. Em seu discurso, Cristina acusou a oligarquia rural, inimiga histórica do peronismo, dizendo esperar que os fazendeiros sintam-se como parte e não como proprietários do país. Ela também chamou os grevistas de piqueteiros, comparando-os com a tropa de choque do kirchnerismo nas manifestações de rua, liderada por Luis d'Elia.
Os piqueteiros surgiram durante a crise do colapso da dolarização da era Menem (1989-99), em 2001-02, e foram cooptados pelo governo Kirchner, que os usou para cercar postos de gasolina e outras empresas que aumentaram preços sem o aval da Casa Rosada.
Na semana passada, ocuparam a Praça de Maio, diante da sede do governo, e enfrentaram a classe média que fazia panelaços contra o governo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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