quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Medo da China atrapalha liberalização comercial

Um dos maiores obstáculos nas negociações de liberalização comercial da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) é o Fator China, afirmou ontem a advogada Soraya Rosar, assessora da Confederação Nacional do Comércio (CNI). Ela falou nesta terça-feira sobre as negociações de produtos industriais no 3º Curso de Comércio e Negociações Internacionais para Jornalistas, realizado no Rio de Janeiro pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e o Instituto de Comércio e Negociações Internacionais (Ícone).

Todo o mundo está com medo da China. Este receio dificulta a abertura comercial, observa Soraya Rosar: “Hoje o Fator China é fundamental para inibir avanços porque todas as concessões precisam ser estendidas à China e todos temem uma invasão de produtos chineses.”

Soraya Rosar não acredita que a Rodada Doha esteja morta. A crise nas negociações, prevê, é temporária e natural com o crescimento da OMC, uma organização internacional que opera por consenso e que tem hoje 149 países-membros.

Ao falar da história do sistema multilateral de comércio, a assessora da CNI lembrou que o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt) foi criado em 1948: “Nas primeiras rodadas, até os anos 70, só se preocupou em cortar tarifas. O Brasil, um dos 23 países fundadores, não participava das negociações mas se beneficiava das concessões.

Com a queda de tarifas industriais, surgem as barreiras não-tarifárias e outros temas que vão mudando a agenda do sistema. Na Rodada Tóquio (1973-79), já são 102 países e seis anos.

Na Rodada Uruguai (1986-94), entram produtos têxteis, agricultura, serviços e mecanismos de solução de conflitos comerciais. Com 123 países, são necessários oito anos para um acordo, que cria a OMC.

Agora na Rodada do Milênio ou do Desenvolvimento, lançada com grandes ambições em Doha, no Catar, em novembro de 2001, estão na mesa tarifas, barreiras não-tarifárias, regras, agricultura e serviços. Com 149 países, Soraya estima que serão necessários oito a dez anos para se chegar a um acordo.

“Há complicadores”, admite a advogada, “como as eleições [de 7 de novembro] nos Estados Unidos. Se está difícil com os republicanos [com maioria no Congresso], pior ainda com os democratas. A autorização para promoção comercial [dada pelo Congresso ao governo George W. Bush] acaba no final de 2007. Mas as eleições na França talvez tragam uma esperança. O presidente Jacques Chirac é um símbolo do protecionismo agrícola. Talvez venha uma nova geração com outra cabeça.”

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