quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Carter acusa Bush de abandonar valores dos EUA

Sob George Walker Bush, o governo dos Estados Unidos mudou radicalmente políticas que eram consenso entre democratas e republicanos, abandonando princípios e valores americanos fundamentais, acusa o ex-presidente Jimmy Carter.

“Não há dúvida de que este governo se afastou, de maneira radical e sem ser pressionado, de políticas consensuais que eram adotadas por presidentes democratas e republicanos”, analisa o ex-presidente.

Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, Carter, que hoje se dedica à democracia e aos direitos humanos, criticou a doutrina de guerras preventivas, a guerra no Iraque, o embargo econômico a Cuba, o uso de força excessiva por Israel no Líbano, o apoio incondicional a Israel no Oriente Médio, os cortes de impostos, as ameaças à separação entre Igreja e Estado nos EUA, e a aliança entre fundamentalistas cristãos e a direita do Partido Republicano.

“Sempre tivemos um compromisso com a paz em vez de guerra preventiva”, observou o ex-presidente Carter. “Sempre tivemos uma política de não ir à guerra a não ser que nossa segurança fosse diretamente ameaçada e agora temos uma política de ir à guerra preventivamente. Outro desvio sério é a ameaça entre a separação entre Igreja e Estado. É uma política adotada desde Thomas Jefferson (1801-09). Também nunca tivemos um governo que aprove clara, aberta e consistentemente cortes de impostos que beneficiam unicamente aos mais ricos em detrimentos das famílias trabalhadoras americanas.”

A invasão do Iraque, desnecessária na visão de Jimmy Carter, piorou a imagem dos EUA no mundo. A situação ficou ainda pior “agora que os EUA estão apoiando e encorajando Israel no seu ataque injustificado contra o Líbano”.

Mesmo que Israel tenha sido atacado, “não vejo qualquer justiticativa moral ou legal para o bombardeio maciço contra toda a nação libanesa”, declarou Carter.

Outra crítica do ex-presidente em relação ao atual governo foi quanto à política para o Oriente Médio. Carter alegou que todos os presidentes americanos - Gerald Ford, ele, George Bush sr. e Bill Clinton - tentam adotar uma postura de mediadores no conflito árabe-israelenses: “Em seis anos, este governo não tentou negociar um acordo entre israelenses e palestinos”.

Carter mediou os acordos de Camp David, negociados entre 1977 e 1979 entre Israel e Egito. Foi o primeiro acordo de paz entre Israel e um país árabe. Em 27 anos, nunca foi violado.

“Você nunca tem certeza do resultado de uma negociação”, ensina o veterano estadista. “Mas sabe que, se não tentar, o problema vai continuar ou tornar-se ainda pior.”

Um problema sério para Jimmy Carter é a aliança da direita republicana com fundamentalistas cristãos nos EUA: “Os fundamentalistas acreditam que tem uma relação especial com Deus e que suas idéias são as idéias de Deus. Portanto, por definição, como estão falando por Deus, quem quer que discorde está errado. Quem discorda é infiel e inferior. O próximo passo é ver os oponentes como subumanos e desprezar suas vidas. Outra coisa é que os fundamentalistas negam-se a negociar com quem discorda profundamente deles. Este governo tem uma política de não negociar com quem discorda radicalmente, o que também implica o abandono de uma política do passado. E fundamentalistas não costumam reconhecer seus erros”.

Mas o ex-presidente está certo de que a democracia americana traz os elementos necessários à correção de seus erros históricos, da escravidão no século 19 ao movimento pelos direitos civis nos anos 60 do século 20. “Superamos o macarthismo durante a Guerra Fria, que atemorizava o país tanto quanto o terrorismo hoje”, mencionou Carter. “Há uma boa chance de que os democratas reconquistem a maioria numa das casas do Congresso em novembro.”

Um dos nove presidentes que passaram pela Casa Branca na era Fidel Castro, Carter diz que não deseja mal ao líder cubano, dois anos mais moço do que ele. Culpa o boicote econômico dos EUA pela manutenção do regime: “Na minha opinião, o embargo fortalece Fidel e perpetua o comunismo em Cuba. Um volume maior de negócios, comércio, turismo e visitas entre Cuba e os EUA apressaria o fim do regime de Castro”.

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