O prazo dado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para que o Irã pare de enriquecer urânio e suspenda seu programa nuclear termina em 31 de agosto. Está claro que a república islâmica não pretende aceitar a imposição da ONU. No sábado, dia 26, o presidente Mahmoud Ahmadinejad inaugurou uma usina de água pesada e reiterou que o programa nuclear iraniano é pacífico e irreversível. Se há fortes suspeitas de que não seja pacífico, a questão central é como reagirão os Estados Unidos, que temem não só um ataque contra Israel como a transferência de tecnologia nuclear militar para grupos terroristas.
Desde 22 de agosto, quando o Irã entregou sua resposta às propostas das grandes potências do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha) e da Alemanha propondo “sérias negociações” sem precondições, o governo George W. Bush articula a imposição de sanções contra o regime dos aiatolás. Elas poderiam ir de medidas econômicas, como boicote à venda de equipamentos para a indústria do petróleo e artigos de luxo ao Irã, até restrições para viagens ao exterior de altos dirigentes iranianos.
O problema é que o Irã ameaça retaliar com um embargo à venda de petróleo. Como é o quarto exportador mundial num mercado extremamente tenso porque a procura é pouco menor do que a oferta, a saída do petróleo do Irã do mercado ou um boicote aos EUA e seus aliados poderiam jogar os preços do petróleo para US$ 100 o barril. Uma recessão mundial seria inevitável.
Talvez por isso a China e a Rússia, duas potências com poder de veto na ONU que têm negócios com o petróleo iraniano, resistam à intenção americana de adotar sanções contra o Irã.
Sem o apoio das antigas potências comunistas, os EUA ameaçam impor sanções unilaterais contra a república islâmica. Isto gerou uma reação indignada do regime dos aiatolás, que descreveu a tentativa como “um insulto ao Conselho de Segurança da ONU”. Outro dado relevante é que os EUA já impõem diversas sanções econômicas ao Irã desde os anos 80. Sozinhos, os EUA não fariam grande diferença.
A perspectiva de “negociações sérias” não agrada muito aos EUA nem a seu principal aliado no Oriente Médio, Israel, que consideram a proposta iraniana uma tentativa de ganhar tempo até que seu programa nuclear se torne irreversível.
Que outros meios teriam os EUA para impedir os aiatolás de fabricar a bomba atômica? “O Irã, que hoje se beneficia da riqueza do petróleo, não precisa de nada e não depende de ninguém”, adverte o jornalista Anatole Kaletsky, colunista do jornal inglês The Times. Na sua opinião, sanções econômicas só fortaleceriam o presidente radical Ahmadinejad, que não se cansa de pedir a destruição de Israel.
Além de posar como vítima do imperialismo americano, o Irã ainda se beneficiaria de uma nova rodada de aumento nos preços do petróleo. Como controla o Estreito de Ormuz, por onde passam 40% do petróleo negociado internacionalmente, poderia provocar um abalo ainda maior no mercado, elevando o preço do petróleo para US$ 150 por barril.
Resta a opção militar. Confira a íntegra deste artigo na minha coluna de política internacional em www.baguete.com.br.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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