quarta-feira, 31 de maio de 2006

EUA admitem negociar com Irã, petróleo cai e bolsas sobem

A possibilidade de negociações diretas entre os Estados Unidos e o Irã, suspeito de desenvolver armas nucleares, provocaram uma queda de cerca de 1% nas cotações do petróleo. Isto provocou alta na Bolsa de Valores de Nova Iorque e ajuda na recuperação da bolsa de S. Paulo, que teve alta de 0,36%. Mas o índice Bovespa termina maio com queda de 10%. Os papéis da América Latina caíram 15% este mês, a maior queda em dois anos.

Os EUA devem participar das negociações com o Irã até agora conduzidas pela União Européia e a Rússia. A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, deixou claro que a exigência continua a mesma: o Irã precisa suspender o enriquecimento de urânio. Se a república islâmica, quarto maior produtor mundial de petróleo, concordar, aí os EUA estarão dispostos a negociar diretamente.

Minuta do Fed revela preocupação com inflação

A minuta da última reunião do Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve Board (Fed), o banco central dos Estados Unidos, realizada em 10 de maio, mostra a preocupação com a inflação. Embora os formuladores da política monetária americana tenham citado riscos tanto de aumento da inflação quanto de desaceleração da economia, eles cogitaram a possibilidade de aumentar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual.

O aumento foi de 0,25, deixando a taxa em 5%. Foi o décimo sexto aumento consecutivo de 0,25 ponto percentual. A simples avaliação da possibilidade de um aumento maior indica que o Fed está preocupado com o crescimento de preços, pressionados sobretudo pela alta do petróleo. Isto aumenta as chances de novo aumento na próxima reunião, em 29 de junho.

Haveria então um risco maior de desaceleração da economia dos EUA e de fuga de capital dos chamados mercados emergentes, onde o risco é maior, para o mercado americano. Por causa disto, muitos estrategistas estão recomendando aos investidores que revejam as suas carteiras para diminuir o peso dos países emergentes, na expectativa de que os preços de suas ações cairão por algum tempo.

Os fundos focados em mercados emergentes caíram 8,4% nas quatro semanas até 26 de maio e os de América Latina, 8,3%. No ano, ainda apresentam resultado positivo de 10,2% e 15,4%, respectivamente.

"A alta nas taxas de juros nos EUA não é boa para o mercado de ações americano porque aponta para uma desaceleração da economia. Não é boa para os países emergentes porque os investidores podem sair destes mercados em busca de aplicações mais seguras", analisou Jeff Tyler, gerente de fundos da corretora American Century Investments.

Tyler prevê uma elevação da taxa básica de juros nos EUA dos atuais 5% ao ano para 6,5%, o que na sua opinião pode tornar "muito altos" os preços das ações dos mercados emergentes.

Para Larry Smith, operador sênior do fundo de hedge Third Wave Global Investors, a perspectiva de taxas de juros mais elevadas no mundo inteiro jogam os mercados numa situação não vista há vários anos: "A maior preocupação dos mercados é com os erros dos bancos centrais, com aumentos exagerados nas taxas de juros. Há uma falta de confiança nos dirigentes dos bancos centrais", especialmente no novo presidente do Fed, Ben Bernanke.

Os analistas temem que Bernanke erre na dose para se mostrar duro no combate à inflação, acabando com o atual ciclo de crescimento da maior economia do mundo, que já dura cinco anos.

Smith vê boas oportunidades na Europa e no Japão, dois pólos da economia mundial que estão se recuperando.

Já Quincy Crosby, estrategista-chefe de investimentos da corretora Hartford, espera queda no Japão e nos mercados emergentes: "Temos um mundo em que os juros estão subindo e o risco sobe com eles porque estão enxugando a liquidez. Isto significa que as posições de risco ficam ainda mais arriscadas. Há uma fuga para a realidade. Não acredito que a queda tenha acabado. Alguns investidores estão esperando para ver se o mercado se recupera. Nem todos podem sair ao mesmo tempo."

terça-feira, 30 de maio de 2006

Petróleo sobe e derruba Bolsa de Nova Iorque

O preço do petróleo subiu US$ 1,28 hoje na Bolsa Mercantil de Nova Iorque, chegando a US$ 72,65 por barril. Depois caiu para US$ 72 mas o estrago estava feito.

A alta do petróleo e as notícias sobre a queda de confiança do consumidor americano derrubaram a bolsa de valores de Wall Street, que caiu mais de 180 pontos ou 1,63%. Todas as 30 ações que compõem o Índice Dow Jones caíram, o que não acontecia desde 22 de setembro de 2004.

A maioria das bolsas européias e asiáticas também caiu.

EUA mandam mais 1,5 mil soldados para tentar conter violência no Iraque

O aumento da violência na província de Anbar levou o comandante militar dos Estados Unidos no Iraque, general George Casey, a pedir reforço, no momento em que aumenta a pressão política interna nos EUA por uma retirada ao menos parcial. Ele pediu que toda a 2ª Brigada da 1ª Divisão Blindada, com 3,5 mil soldados, seja enviada para se somar aos 133 mil militares americanos que ocupam o país. O presidente George W. Bush decidiu enviar 1,5 mil soldados estacionados no vizinho Kuwait.

Hoje a onda de violência no Iraque deixou mais de 50 mortos e outros 100 feridos.

Na semana passada, o embaixador americano no Iraque, Zalmay Khalilzad, admitiu que parte de Anbar está sob controle dos rebeldes. Um xeque sunita confirmou ao jornal The Washington Post que a capital, Ramadi, está dominada pelo terrorista jordaniano Abu Musab al-Zarkawi, representante d'al Caeda no Iraque, a tal ponto que "ele mata qualquer um que entre ou saia da base americana. Paramos de nos reunir com os americanos, francamente, porque eles não conseguem nos proteger".

Além de Anbar, ontem foi um dia especialmente violento no Iraque, com pelo menos 60 mortes, sendo 33 na capital, Bagdá, onde aumenta o conflito entre árabes xiitas e árabes sunitas.

Mas o que mais atraiu a atenção dos americanos foi um carro-bomba detonado contra um comboio militar americano, que matou dois jornalistas ingleses que trabalhavam para a rede de televisão CBS. Desde o início da guerra, em março de 2003, 71 jornalistas foram mortos, superando as 69 mortes da Segunda Guerra Mundial e as 63 no Vietnã.

Na véspera, dois soldados britânicos foram mortos em Bássora, principal cidade xiita do Sul do Iraque, aumentando para 11 o total de militares britânicos mortos no Iraque neste mês, o número mais alto desde o início da guerra.

O governo americano promete concluir ainda esta semana o inquérito sobre uma chacina de 24 civis iraquianos por fuzileiros navais em Haditha, em 19 de novembro, e tentativas de encobrir a matança.

Banco Mundial adverte para risco de emergentes

A dependência cada vez maior dos chamados países emergentes de capital estrangeiro barato dos países ricos aumenta o risco de volatilidade no mercado financeiro internacional, alerta um estudo do Banco Mundial divulgado hoje. O relatório adverte que uma possível fuga de capitais seria crítica neste momento para os países em desenvolvimento e o abalo da segunda-feira passada aumentou o nervosismo dos investidores, adverte o jornal inglês Financial Times, porta-voz do centro financeiro de Londres.

"O momento é tão crítico que dá pouco tempo a estes países para desenvolver seus mercados", afirma o autor do relatório, Mansoor Dailami. "Metade das economias em desenvolvimento está metade fora, metade dentro do sistema financeiro global. São meio abertas e meio fechadas."

Pelos cálculos do Banco Mundial, os investidores privados colocaram um recorde de US$ 491 bilhões nos mercados emergentes em 2005. No ano anterior, tinham investido US$ 397 bilhões, informa o Wall St. Journal, porta-voz do centro financeiro de Nova Iorque.

Alguns economistas acreditam que estes investimentos foram feitos sem uma avaliação de risco adequada. "O capital estrangeiro pode ajudar a financiar investimentos que tornem os países pobres mais ricos", observa o WSJ.

"O pior cenário é um choque repentino - algo como um grande surto de gripe aviária, uma desaceleração da China ou uma alta inesperada nas taxas de juros - capaz de levar os investidores a decidir que um retorno baixo em ativos de países em desenvolvimento simplesmente não compensa os riscos", diz o Journal.

Uma fuga rápida do capital estrangeiro abalaria o crescimento dos países em desenvolvimento, deixando dívidas, juros mais altos, queda nas bolsas de valores e menor demanda por suas exportações.

Neste momento, a Bolsa de Valores de São Paulo cai mais de 3%. O real está em queda. Mas o mercado ainda acredita numa queda de 0,5 ponto percentual amanhã na taxa básica de juros do Banco Central, hoje em 15,75% ao ano.

Confiança do consumidor americano cai

Apesar do crescimento robusto dos Estados Unidos no primeiro trimestre do ano, a uma taxa anual de 5,3%, a confiança do consumidor americano está em queda. O íncide de maio caiu para 103,2, depois de atingir 109,6 em abril, nível mais alto em 4 anos.

Numa pesquisa recente do Wall Street Journal e da rede de televisão NBC, 77% dos entrevistados se manifestaram mais inseguros do que confiantes na maior economia do mundo, que produz US$ 13 trilhões por ano. Os maiores temores são o aumento nos preços do petróleo e a guerra no Iraque.

Bush nomeia presidente de banco para Tesouro

O presidente George W. Bush nomeou hoje o diretor-presidente do banco de investimentos Goldman Sachs, Henry Paulson jr., para secretário do Tesouro dos Estados Unidos, em substituição a John Snow.

Paulson "tem uma vida inteira de experiência empresarial", declarou Bush ao fazer o anúncio, no Jardim de Rosas da Casa Branca. "Ele tem um conhecimento íntimo dos mercados financeiros e uma habilidade para explicar questões econômicas numa linguagem clara."

Neste sentido, Bush segue o exemplo de seu antecessor Bill Clinton, que em 1995 escolheu Robert Rubin, com grande experiência em Wall Street, para substituir Lloyd Bentsen. Rubin teve um papel decisivo para acalmar os mercados durantes as crises da Ásia e da Rússia.

Paulson afirmou que "a economia americana é verdadeiramente maravilhosa" mas advertiu que não pode se acomodar. "Temos de tomar medidas para manter nossa vantagem competitiva no mundo."

Ele deve ser confirmado pelo Senado sem problemas. Assume o cargo num momento em que a maior economia do mundo apresenta sinais positivos mas suscita dúvidas por causa do efeito inflacionário dos preços do petróleo, pressionados pela guerra no Iraque, a crise em torno do programa nuclear do Irã e riscos políticos em outros grandes exportadores.

Os ex-secretários do Tesouro de Bush, Paul O'Neill e Snow, têm grande experiência como empresários mas pouca em Wall Street, o centro financeiro de Nova Iorque.

É a sétima mudança recente no governo Bush, que luta contra uma impopularidade crescente devida sobretudo à guerra do Iraque e ao aumento do preço da gasolina.

O presidente trocou Porter Goss pelo brigadeiro Michael Hayden como diretor-geral da CIA (Agência Central de Inteligência) e Andrew Card por Joshua Bolton na chefia da Casa Civil. Rob Portman saiu do cargo de representante comercial dos EUA, uma espécie de ministro do Comércio Exterior. Foi para o lugar de Bolton como diretor de orçamento, sendo substituído por Susan Schwab.

Scott McClellan deixou de ser o principal porta-voz da Casa Branca, função exercida agora por John Snow. E Karl Rove, considerado o principal marqueteiro de Bush, continua como subchefe da Casa Civil mas agora se dedica à política eleitoral, passando a subchefia para políticas para Joel Kaplan.

Paulson, de 60 anos, formou-se em literatura inglesa na Universidade de Dartmouth em 1968. Trabalhou no governo Richard Nixon (1969-74) e estava há 32 anos no banco Goldman Sachs.

Colômbia reelege linha-dura

Nem toda a América Latina está guinando para a esquerda. No domingo, 28 de maio, cerca de 7,3 milhões de colombianos reelegeram no primeiro turno o presidente conservador Álvaro Uribe Vélez para um segundo mandato de quatro anos. Referendaram assim sua política de “segurança democrática”, que significa negar legitimidade à guerrilha e dar combate sem trégua aos grupos armados de esquerda e aos traficantes de drogas com os milhões que recebe dos Estados Unidos no Plano Colômbia. É o grito de um país cansado de cinco décadas de guerra civil.

Uribe teve 62,2% dos votos válidos e a maior votação da História da Colômbia, superando os 6,1 milhões que o conservador Andrés Pastrana obtivera no segundo turno em 1998. Assim, apesar da abstenção de 57%, sua vitória tem legitimidade. Seu percentual superou os 53% que lhe valeram a vitória, também no primeiro turno, em 2002. É a primeira vez que um presidente colombiano é reeleito pelo voto popular.

A grande abstenção pode ser explicada para falta de alternativa. Caudilhesco e autoritário, Uribe é amado ou odiado. Não há meio termo.

Em segundo lugar, ficou Carlos Gaviria, do Pólo Democrático Alternativo, com 22% ou 2,5 milhões de votos. Isto consolida a formação de uma esquerda democrática que, na visão da Revista Cambio, dirigida pelo escritor Gabriel García Márquez, desponta como uma alternativa de poder para 2010. E tira a legitimidade da guerrilha.

O presidente colombiano, cujo pai foi assassinado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) numa tentativa de seqüestro em 1983, foi vereador e prefeito de Medelim, senador e governador do departamento de Antióquia. Elegeu-se também no primeiro turno em 2002 com uma plataforma linha-dura que chama de "segurança democrática" em que nega legitimidade política à guerrilha, prometendo combater a violência política e o tráfico de drogas sem fazer concessões.

Os dois presidentes anteriores, o liberal Ernesto Samper e o conservador Andrés Pastrana, tentaram em vão negociar a paz com uma guerrilha que hoje se alimenta com os narcodólares do tráfico de cocaína.

Mas mesmo com os US$ 8,5 bilhões que o país recebeu desde 2000 dos Estados Unidos no Plano Colômbia, a área plantada com coca e a produção de cocaína no país não diminuíram. E a guerrilha, que se beneficia com o tráfico nas "áreas liberadas", ganhando US$ 400 a 500 milhões por ano com atividades ilegais, não tem estímulo para abandonar a luta armada. Há mais de 3 mil colombianos seqüestrados, inclusive a ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt, desde 23 de fevereiro de 2002.

Os paramilitares de direita das Autodefesas Unidas da Colômbia, vistos como aliados informais de Uribe na luta contra as guerrilhas de esquerda, anunciaram sua desmobilização. O Exército de Libertação Nacional promete fazer o mesmo. As FARC não abandonaram a luta mas desta vez não boicotaram as eleições.

Durante o primeiro governo Uribe, a Colômbia, que tem a terceira maior população da América Latina, 42 milhões de habitantes, cresceu 4,7% em média e 5% no ano passado. Também negociou um acordo de livre comércio com os EUA, o que levou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusado de apoiar as FARC, a retirar seu país de Comunidade Andina de Nações.

DESAFIOS PARA URIBE
Com a redução da violência e a melhora da situação econômica, ajudada pela alta nos preços do petróleo, carvão e níquel, já se comenta que Uribe deve concorrer a um terceiro mandato. Mas seus desafios são formidáveis, como apontam reportagens da Revista Cambio e do jornal El Tiempo:

1. Derrotar a guerrilha e obrigá-la a negociar: em 2002, as FARC eram tão fortes que Uribe prometeu apenas “conter o avanço da guerrilha”. Ele recuperou parte das áreas dominadas pela guerrilha mas seu sucesso foi limitado. Precisa infligir mais derrotas e prender chefes guerrilheiros importantes para forçar as FARC a negociar. O presidente precisa concluir um acordo de paz com o enfraquecido ELN.

2. Desmobilizar e reintegrar os grupos paramilitares de direita: Mais de 36 mil membros das Autodefesas Unidas da Colômbia, grupos armadas de direita criados para combater a guerrilha, foram desmobilizados. O governo precisa entrar nas suas areas de atuação não só para garantir que realmente abandonaram a luta armada como para impedir que os guerrilheiros de esquerda as ocupem. Outro desafio é reintegrar socialmente os paramilitares, tanto para evitar que voltem à guerra clandestina como para impedir que entrem para a criminalidade. Estima-se que 12 mil paras ainda não se desmobilizaram. Uribe prometeu distribuir a eles cerca de 200 mil do um milhão de hectares recuperados de bandos armadas e traficantes. Até agora, só distribuiu 5 mil.

3. Manter o crescimento econômico com redução da pobreza: A maioria dos colombianos acredita que a economia está melhor do que há quatro anos. Mas a distribuição de renda continua sendo uma das piores da América Latina. Quase metade dos colombianos vive na pobreza e 6,6 milhões são miseráveis. Os 50% mais pobres recebem 14,2% da renda nacional, enquanto os 20% mais ricos ficam com 60%. Sob Uribe, o país cresceu 4,7% ao ano em médio e 5% no ano passado, o maior índice desde 1996.

4. Assinar o acordo de livre comércio com os EUA: depois de dois anos de negociações, o acordo foi anunciado em fevereiro. Mas restam ainda questões pendentes sobre sete produtos agropecuários que impedem a assinatura do acordo. A oposição do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que se retirou da Comunidade Andina de Nações porque Peru e Colômbia negociam acordos com os EUA, deve facilitar a aprovação no Congresso Americano.

5. Fazer uma reforma tributária integral: Uribe comprometeu-se a manter a carga fiscal em 21% do produto interno bruto colombiano, de US$ 142 bilhões. A alíquota mais alta do imposto de renda, de 38,5%, é das mais elevadas da América Latina. Mas tem tantas deduções e isenções que os contribuintes mais ricos acabam pagando menos do que em outros países. O imposto sobre valor agregado (IVA), equivalente ao imposto sobre circulação de mercadorias e serviceos (ICMS), tem nove alíquotas diferentes, de 2% a 45%. Os tributaristas questionam os impostos sobre a folha de pagamento, as transações financeiras e as exportações, alegando que prejudicam as atividades produtivas.

6. Descentralização do sistema de saúde: Há 13 anos, só 20% dos colombianos tinham acesso ao sistema; hoje, são 70%. Ainda assim, 13 milhões de colombianos continuam sem acesso à saúde. A rede hospitalar pública está em crise: hospitais importantes foram fechados; outros pararam de oferecer certos serviços. Teme-se ainda que o acordo de livre comércio com os EUA, ao reconhecer o direito de propriedade intelectual, dificulte a distribuição de medicamentos genéricos, encarecendo o custo da saúde.

7. Universalizar o ensino e melhorar a qualidade da educação: como no Brasil, houve avanços importantes no acesso à educação mas ele ainda não é universal e a qualidade do ensino é ruim. O índice da analfabetismo é de 9,2%. De cada 100 crianças, 22 não estão na escola; 32,6% não concluem o ensino médio. Só 7,5% têm diploma universitário e 1,4% é pós-graduado. O país gasta com educação 4,5%, quando deveria ser pelo menos 7,5%. Mas o maior desafio é melhorar a qualidade do ensino.

8. Evitar uma ruptura com Hugo Chávez: a pior crise aconteceu no início do ano passado, quando a Colômbia foi acusada de seqüestrar o líder guerrilheiro Rodrigo Granda, conhecido como o “chanceler das FARC”, na Venezuela, subornando para isto funcionários venezuelanos. As relações comerciais são boas. A Colômbia vende mais de US$ 1,6 bilhão por ano ao vizinho e importa da Venezuela US$ 1,1 bilhão. Mas Chávez retirou a Venezuela da Comunidade Andina em protesto porque Peru e Colômbia negociaram acordos de livre comércio com os EUA.

9. Erradicar as plantações ilícitas e buscar apoio internacional contra o narcotráfico: em seis anos, os EUA deram US$ 8,5 milhões à Colômbia para combater a guerrilha e o tráfico de drogas. Mas nem a área cultivada com coca quanto a produção de cocaína diminuiu. O governo cita dados sobre milhares de hectares de onde a coca foi erradicada e centenas de toneladas de cocaína apreendidas. Sob intensa pressão, os traficantes se reorganizaram em pequenos cartéis: se há seis anos, a produção de coca se concentrava em três departamentos, hoje se espalha por pelo menos 23 dos 32 departamentos colombianos.

10. Combater a corrupção e evitar mais escândalos: segundo a Controladoria, os departamentos e municípios receberam no ano passado 2,3 bilhões de pesos mas só investiram 14% em programas sociais. É preciso combater a infiltração de grupos mafiosos e paramilitares na máquina do Estado.

É importante notar que nenhuma das publicações menciona a violência entre os maiores problemas do país. Há poucos anos, todas as grandes cidades colombianas figuravam entre as mais perigosas da América Latina. Uma combinação de programas sociais, de saúde e de educação nas áreas carentes com polícia comunitária reduziu sensivalmente a violência urbana. Hoje a Venezuela de Chávez tem uma taxa de mortalidade violenta maior do que a Colômbia.

DESARTICULAÇÃO DOS PARTIDOS
Outro efeito do governo Uribe foi a desarticulação do quadro político tradicional na Colômbia, antes dominado pelos partidos Liberal e Conservador. O presidente veio do Partido Liberal mas na prática suas políticas são conservadoras. Uribe é um caudilho personalista. O urubismo ocupou o lugar dos partidos tradicionais

Com os 2,5 milhões de votos (22%) para Carlos Gaviria, que defendeu uma negociação de paz com as FARC, uma nova esquerda democrática, o Pólo Democrático Alternativo, tira legitimidade da guerrilha e surge como opção de poder para as eleições de 2010.

O grande derrotado nas eleições foi o Partido Liberal. Seu candidato, Horacio Serpa, perdeu pela terceira vez seguida. Com apenas 11% e 1,4 milhão, obteve a votação mais baixa e a pior colocação para seu partido, que sempre ficava entre os dois primeiros, em décadas.

Para a Revista Cambio, foi um segundo Palonegro, referência a uma batalha de 1900 em que o exército liberal foi aniquilado pelas forças conservadoras e ficou longe do poder por três décadas. Nunca o liberalismo esteve tão perto de desaparecer. Tanto em 1998 quanto em 2002, os liberais tinham amplas maiorias no Congresso. Mas na legislatura passada foram cooptados pelo uribismo.

Com Uribe reeleito, se o ex-presidente Alan García ganhar o segundo turno da eleição presidencial no Peru em 4 de julho e o conservador Felipe Calderón derrotar o ex-prefeito da Cidade do México Andrés Manuel López Obrador na eleição presidencial mexicana, em 2 de julho, a guinada para a esquerda da América Latina estará em questão.

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Papa pede em Auschwitz perdão pelo Holocausto

Todo ser humano deveria ir a Auschwitz pelo menos uma vez na vida. Todo alemão deveria ser obrigado a ir. É o maior pesadelo da História. Naquele centro de extermínio e no vizinho campo de concentração de Birkenau, os nazistas mataram 1,6 milhão de pessoas, na maioria judeus, durante a Segunda Guerra Mundial.

Ontem foi a vez do papa alemão Bento XVI, que chegou a se alistar, por obrigação, na Juventude Nazista. Auschwitz era um quartel do Exército da Polônia situado numa região pantanosa entre o Rio Vístula e seu afluente, o Sola. Fica num importante entroncamento ferroviário da Europa Oriental. Por isso foi usado para receber os judeus do Leste, principalmente da Hungria.

Depois de tomar a Polônia em setembro de 1939, no início da guerra, os nazistas se instalaram em Auschwitz em 20 de maio de 1940. Em 14 de junho deste ano, 728 presos políticos poloneses trazidos de Tarnów foram os primeiros a ser internados lá. Inicialmente o campo de concentração foi usado para prender intelectuais e membros da resistência polonesa, criminosos e homossexuais alemães.

Logo foram construídas instalações especiais, inclusive as casas de banho que seriam usadas como câmaras de gás. Mais tarde, seriam acrescentados os fornos crematórios.

Os primeiros judeus chegaram da Eslováquia e da Alta Silésia em 1941. Neste mesmo ano, o campo foi visitado por Heinrich Himmler, chefe das SS, a tropa de elite de Hitler que operava os campos de concentração. Ele ordenou a conclusão de um novo campo ali perto, Birkenau.

Na entrada de Auschwitz, os nazistas colocaram uma frase sarcástica: "Arbeit Macht Frei" (O trabalho te libertará). Quem não tinha condições de trabalhar, ia diretamente para as câmaras de gás. Em setembro de 1941, os primeiros poloneses e soviéticos foram mortos com gás cianídrico.

Quando os nazistas decidiram adotar a "solução final" para exterminar os judeus, na Conferência de Wanssee, em 20 de janeiro de 1942, Auschwitz tornou-se uma peça central da máquina de matar de Hitler. Lá, mulheres foram esterilizadas e o Dr. Josef Mengele fez experiências de engenharia genética com seres humanos.

Mais de 1,6 milhão de pessoas foram mortas em Auschwitz-Birkenau, sendo 1,1 milhão de judeus, até a libertação do campo por tropas soviéticas em 27 de janeiro de 1945. Quando todo o horror foi revelado, com as figuras cadavéricas de seus sobreviventes em pele e osso, o mundo começou a questionar por que nunca houve uma ação militar específica para libertar Auschwitz e os outros campos de concentração nazistas.

Além dos líderes políticos dos aliados contra Hitler, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt e o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, o papa Pio XII foi acusado de não denunciar os campos de concentração. De 1941 a 1944, diversos relatos sobre Auschwitz chegaram ao comando militar aliado. Churchill teria preparado um bombardeio aéreo, desistindo porque os prisioneiros seriam mortos sem que o Holocausto fosse interrompido.

“Neste lugar de horror, de crimes em massa contra Deus e o homem que não tem comparação na história, falar é quase impossível e especialmente difícil e opressiva para um papa que vem da Alemanha", declarou Bento XVI ao visitar o campo.

"Num lugar como este, a gente fica sem palavras, e no fundo pode haver só um silêncio aterrador, um silêncio que é um grito interior para Deus. Por quê, Senhor, ficaste calado? Como pudeste tolerar tudo isto?", se perguntou Joseph Ratzinger, o primeiro papa alemão a visitar a terrível fábrica da morte dos nazistas.

"Este silencio, no entanto, logo se converte luego num pedido em voz alta de perdão e de reconciliação; um grito a Deus para que não permita nunca mais uma coisa semelhante", acrescentou o Papa, diante do monumento internacional às vítimas do Holocausto em Birkenau.

Talvez os melhores relatos literários da tragédia de Auschwitz sejam os livros do escritor italiano Primo Levi, que sobreviveu ao campo para se suicidar depois, não conseguindo resistir à tortura permanente em que se transformou sua vida.

Estive em Aschwitz em setembro de 1998, durante uma viagem pela Europa Oriental. É um lugar aterrador. Com voz sombria, a guia do Museu de Auschwitz-Birkenau descrevia para que serviam os diferentes pavilhões e instalações. O rosto dos visitantes se transfigurava à medida em que as atrocidades eram recontadas. Havia celas para morrer de fome, outras para morrer de falta de ar,um paredão crivado de balas, os laboratórios do Dr. Mengele.

Pior ainda, para mim, foi ver as pilhas e pilhas de objetivos que pertenciam às vítimas de Auschwitz: malas, sapatos, roupas, dentaduras de onde foram roubados os dentes de ouro, sapatinhos infantis...

Dá vontade chorar. As pessoas se comovem e choram. A gente se sente mal, culpado por pertencer à espécie animal que foi capaz de engendrar tamanho massacre contra si mesma. Aí o visitante de Auschwitz começa a sentir-se mal consigo mesmo. É quando se dá conta de que por mais que se sofra ao visitar o campo, este sentimento não é nada, absolutamente nada, comparado com um segundo do que suas vítimas viveram ali.

É uma culpa infinita. Auschwitz e Hiroxima são as imagens definitivas do século 20.

Onda de ataques mata pelo menos 60 no Iraque

Pelo menos 60 pessoas, inclusive dois jornalistas a serviço da TV americana CBS, morreram hoje no Iraque numa série de explosões. Entre os principais alvos, estavam ônibus que transportavam cidadãos comuns.

No atentado mais sangrento, 14 pessoas morreram e outras 17 saíram feridas quando uma bomba destroçou um ônibus que levava trabalhadores de Khalis para Campo Achraf, sede de um grupo guerrilheiro iraniano. Um porta-voz dos Mujahedins (Guerrilheiros) do Povo, braço armado do Partido Comunista Iraniano, acusou o Irã.

Um carro-bomba tendo como alvo uma patrulha do Exército do Iraque matou 12 pessoas, na maioria estudantes, em um distrito sunita do Norte de Bagdá. Num bairro xiita do Noroeste da capital iraquiana, uma bomba provocou a morte de pelo menos oito pessoas.

Os dois jornalistas eram britânicos. O cinegrafista Paul Douglas, de 48 anos, e o operador de videoteipe James Brolan, de 42, acompanhavam a 4ª Divisão de Infantaria do Exército dos Estados Unidos quando o blindado em que iam foi atacado por um terrorista suicida com um carro-bomba no bairro de Karrada, também em Bagdá. Um capitão e um tradutor também foram mortos.

Em Bássora, no Sul do Iraque, dois soldados britânicos morreram ontem com a explosão de uma bomba deixada na beira do caminho por onde passavam.

A onda de violência dominou os debates na Assembléia Nacional, onde os diversos partidos se acusaram mutuamente pela falta de acordo que impediu até agora que o primeiro-ministro Nuri al-Maliki nomeie os ministros da Defesa e do Interior, fundamentais para restaurar a segurança abalada desde a invasão americana, em março de 2003.

Deputado Aldo Rebelo: Brasil precisa pagar preço pela liderança na América do Sul

Se quiser levar avante seu projeto de integração da América do Sul, o Brasil precisa proporcionar oportunidades econômicas para os países vizinhos, afirmou hoje o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB), em palestra no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.

Ao falar sobre os desafios da integração, o deputado ponderou que "é difícil sustentar o argumento mantendo superávits comerciais" com os países vizinhos, "enquanto em outro pólo [os Estados Unidos] lhes são oferecidas oportunidades imediatas. É preciso abrir perspectivas de desenvolvimento econômico e social, dar condições materiais aos vizinhos. Sem isso, o Mercosul não resiste".

Na sua opinião, isto precisa se apoiar em dois princípios:
• o respeito à democracia; e
• a reciprocidade no respeito aos interesses de cada país.

O presidente da Câmara citou como exemplo deste esforço o Fundo de Estruturação e Investimento do Mercosul, com dotação prevista de US$ 200 milhões anuais, 70% vindos do Brasil.

Aldo Rebelo observou que "a globalização condiciona a ação das instituições no nosso país. Tudo hoje passa pela política externa", que, depois da nacionalização do gás e petróleo pela Bolívia, com prejuízos para a Petrobrás, pode ser até tema da campanha eleitoral para a Presidência da República.

"O Brasil faz parte da América Latina, mais especificamente da América do Sul", constatou o deputado. "Temos 17 mil quilômetros de fronteira com sete países de línguas espanhola e com as três guianas. Somos resultado da mesma expansão colonial marítima. Nossa independência e formação do Estado Nacional aconteceram na mesma época."

Ele defendeu a melhora das relações com os EUA, "sem submissão nem unilateralismo". Mas argumentou que, "com a Europa, temos vínculos civilizatórios mais profundos e maior confiança". Disse ainda que "é preciso olhar o mundo como um todo, para a China e a Rússia. Já somos próximos do Japão".

Rebelo reconheceu que a crise com a Bolívia complicou o processo de integração, advertindo para "não deixar a retórica contaminar as relações nem a recorrência à História, trazendo de volta fatos passados já resolvidos", como a conquista do Acre, citada pelo presidente boliviano, Evo Morales, como exemplo das injustiças históricas que acredita terem sido cometidas contra seu país.

Na questão energética, "devemos lutar pela interdependência", ponderou o presidente da Câmara.

Para Aldo Rebelo, a chamada "guerra das papeleiras", o conflito entre Uruguai e Argentina sobre a instalação de duas fábricas de papel e celulose na margem oriental do Rio Uruguai, sob protesto dos argentinos, é mais "um conflito comercial". Ele admitiu que o Mercosul precisa se institucionalizar mas, neste caso específico, que levou o Uruguai a ameaçar deixar o bloco, propôs uma solução negociada entre os líderes e não a criação de regras ambientais comuns para a instalação de papeleiras em todo o Mercosul, como sugeriram as oposições do Uruguai e da Argentina.

Milhares de afegãos protestam contra EUA

Milhares de pessoas protestaram hoje os Estados Unidos no Afeganistão. Tudo começou porque um veículo militar americano abalroou vários carros para abrir caminho nas ruas da capital, Cabul, matando pelo menos quatro pessoas.

Imediatamente, populares cercaram o veículo e atacaram os americanos com pedras. Os soldados reagiram abrindo fogo. Mas isto só icendiou ainda mais os ânimos, levando milhares de pessoas a protestar diante da Embaixada dos EUA e do palácio presidencial, aos gritos de: "Morte aos Estados Unidos!" e "Morte a [o presidente] Karzai!"

Foi um protesto muito violento. Muitos manifestantes estavam armados de paus e pedras. Eles queimaram carros, lojas, delegacias e até um hotel recém inaugurado. O Exército e a Polícia investiram contra a multidão.

Ao todo, pelo menos 14 pessoas foram mortas e outras 150 ficaram feridas.

Os violentos protestos em Cabul acontecem semanas depois do início de uma ofensiva dos rebeldes talebã, a milícia que governou o Afeganistão de 1996 até a invasão americana de outubro de 2001, uma resposta aos atentados de 11 de setembro de 2001, já que o regime dos talebã abrigava Al Caeda, o grupo terrorista responsável pelos ataques aos EUA. Pelo menos 300 pessoas morreram nos combates entre os talebã, os EUA e as forças de segurança afegãs, os mais violentos desde a queda do governo do mulá Omar, em novembro de 2001.

Na madrugada de hoje, um bombardeio americano numa região montanhosa do distrito de Kajaki, no Sul do país, teria matado 50 supostos talebã, informou o vice-governador da província de Helmand, Amir Mohammed Akhunzada. O aumento da violência provocou um reforço das tropas da Organização do Tratado do Atlântico (OTAN), a aliança militar liderada pelos EUA, que deve intensificar os ataques contra os talebã no Sul do Afeganistão, principal reduto dos rebeldes.

domingo, 28 de maio de 2006

Uribe é reeleito na Colômbia

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, foi eleito para um segundo mandato. Com metade das urnas apuradas, às 17 horas em Bogotá (19h em Brasília), Uribe estava eleito. Ele recebeu mais de 62% dos votos válidos e a maior votação da história do país, cerca de 7,3 milhões de votos, superando os 6,1 milhões de Andrés Pastrana no segundo turno em 1998.

Seus maiores desafios serão derrotar a guerrilha e negociar a paz, desmobilizar e integrar os grupos armados irregulares de direita e de esquerda, manter o crescimento econômico e distruir a riqueza (49% dos 42 milhões de colombianos são pobres), fortalecer as relações com os Estados Unidos, evitar um conflito com o presidente da vizinha Venezuela, Hugo Chávez, e reduzir a produção de folha de coca e da cocaína. Não será fácil.

Em segundo lugar, ficou Carlos Gaviria, do Pólo Democrático Alternativo, com 22%, o que consolida a formação de uma esquerda democrática que, na visão da Revista Cambio, dirigida pelo escritor Gabriel García Márquez, desponta como uma alternativa de poder para 2010.

O grande derrotado foi o Partido Liberal, cujo candidato, Horacio Serpa, teve apenas 11,82% dos votos.

Álvaro Uribe deve ser reeleito presidente da Colômbia hoje no primeiro turno

O presidente Álvaro Uribe deve vencer hoje, no primeiro turno, a eleição para presidente da Colômbia. As pesquisas de opinião lhe dão cerca de 60% das preferências. Em segundo lugar, vem Carlos Gaviria, do recém-criado Pólo Democrático Alternativo, de esquerda, que defende a negociação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, um grupo guerrilheiro de inspiração marxista que luta há mais de 40 anos contra o Estado colombiano.

Uribe, cujo pai foi assassinado pelas FARC numa tentativa de seqüestro em 1983, foi prefeito de Medelim e governador do departamento de Antióquia. Elegeu-se também no primeiro turno em 2002 com uma plataforma linha-dura que chama de "segurança democrática" em que nega legitimidade política à guerrilha, prometendo combater a violência política e o tráfico de drogas sem fazer concessões.

Mas mesmo com os US$ 4,5 bilhões que recebeu dos Estados Unidos no Plano Colômbia, a área plantada com coca no país não diminuiu. E a guerrilha, que se beneficia com o tráfico nas "áreas liberadas", ganhando US$ 400 a 500 milhões por ano com atividades ilegais, não tem estímulo para abandonar a luta armada. Há mais de 3 mil colombianos seqüestrados, inclusive a ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt, desde 23 de fevereiro de 2002.

Os paramilitares de direita das Autodefesas Unidas da Colômbia, vistos como aliados informais de Uribe na luta contra as guerrilhas de esquerda, anunciaram sua desmovilização. O Exército de Libertação Nacional promete fazer o mesmo. As FARC não abandonaram a luta mas desta vez não estão boicotando as eleições.

Durante o primeiro governo Uribe, a Colômbia, que tem a terceira maior população da América Latina, 42 milhões de habitantes, cresceu 4,7% em média e 5% no ano passado. Também assinou um acordo de livre comércio com os EUA, o que levou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusado de apoiar as FARC, a retirar seu país de Comunidade Andina de Nações.

Mas com a redução da violência e a melhora da situação econômica, ajudada pela alta nos preços do petróleo, carvão e níquel, já se comenta que Uribe deve concorrer a um terceiro mandato.

Outro efeito do governo Uribe foi a desarticulação do quadro político tradicional na Colômbia, antes dominado pelos partidos Liberal e Conservador. Em tese, ele é um liberal mas na prática suas políticas são conservadoras. Uma nova esquerda está em segundo nas pesquisas. O terceiro é Horacio Serpa, um liberal que disputa a presidência pela terceira vez.

Situação da América Latina é melhor do que parece

Os últimos meses foram muito ruins para a imagem da América Latina. Mas as perspectivas para a região são mais favoráveis do que parecem, afirma o economista Victor Bulmer-Thomas, diretor do Royal Institute of International Affairs, a Chatham House, em Londres.

Em artigo no jornal Financial Times, ele enumera os problemas:
• A ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) foi rejeitada na 4ª Reunião de Cúpula das Américas, em Mar del Plata, na Argentina, em março.
• A reunião de cúpula foi prejudicada pelas discussões públicas entre os presidentes da Argentina, Nestor Kirchner, e do México, Vicente Fox, e entre Fox e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
• Chávez usou seu poder na Venezuela para obrigar as companhias de petróleo a renegociar seus contratos em condições draconianas (dando 60% de participação à estatal Petróleos de Venezuela, a PdVSA).
• Depois de uma reunião de cúpula em Havana com Chávez e o líder cubano Fidel Castro, o novo presidente da Bolívia, Evo Morales, nacionalizou o petróleo e o gás, enviou tropas para ocupar as instalações das empresas estrangeiras e ameaçou não pagar qualquer compensação.
• Para não ficar para trás, o Equador cancelou em maio o contrato de exploração de petróleo da Occidental Petroleum.
• No Brasil, a violência irrompeu nas ruas de São Paulo, provocando mais de 150 mortes.

Esta série de problemas reforça os velhos estereótipos sobre a região, comenta o professor Bulmer-Thomas. Mas “depois de cinco anos de estagnação a partir de 1998, as economias latino-americanas tiveram crescimento saudável nos últimos anos e a tendência é que isto continue”.

O crescimento acontece com inflação baixa, saldos positivos de conta corrente e uma queda na razão dívida externa/produto interno bruto. Ao mesmo tempo, a pobreza absoluta diminui.

No plano político, observa o diretor do RIIA, a América Latina passa por um ciclo eleitoral em que os votos são arduamente disputados, os resultados difíceis de prever, e as transições pacíficas e democráticas. O apoio à democracia, que Bulmer-Thomas distingue da satisfação com ela, é elevado, segundo o instituto independente Latinobarómetro.

O panorama econômico internacional favorável – com juros baixos na maioria dos paises, rápido crescimento do comércio internacional e alta nos preços das commodities (produtos primários) – ajudou muito nos últimos anos. Mas o período anterior, de cinco anos de estagnação, deslocou o pêndulo político regional para a esquerda.

Além disso, o descaso dos Estados Unidos com a região depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, raciocina o economista, e a insensibilidade do presidente George W. Bush com a imigração alimentaram um antiamericanismo “ainda mais profundo do que nos anos 60”.

A “inteiramente previsível” guinada à esquerda confunde-se com a ascensão do populismo radical, que pode ser importante na Venezuela, nota o professor, onde Chávez distribui benesses aos amigos e dá paulada nos inimigo. Mas tem apelo limitado. Na visão de Bulmer-Thomas, o apoio do caudilho venezuelano pode prejudicar seus candidatos no México, no Equador e no Peru.

A petrodiplomacia de Chávez tem limites, argumenta o diretor da Chatham House: “Os pequenos países da América Central e do Caribe não vão trocar suas preferências no comércio com os EUA por petróleo barato.”

Com o barril de petróleo acima de US$ 50, a reeleição de Chávez em 5 de dezembro é praticamente certa. Nas outros países, a esquerda precisa cumprir suas promessas eleitorais.

Nos próximos anos, o cenário econômico internacional pode piorar. O pêndulo pode sair da esquerda.

Para o professor, a política externa brasileira está desarticulada. Terá de ser reformulada seja qual for o próximo presidente. A maneira “suave-suave” de lidar com Chávez e Morales deixou a política externa brasileira parecer tola e ineficiente.” Já se prepara uma postura de negociação mais dura.

A sobrevivência do Mercosul vai exigir uma grande liderança do Brasil. Bulmer-Thomas entende ainda que as relações com os EUA precisam “se acomodar” em questões que vão de comércio a segurança. E os EUA precisam dar mais atenção à negligenciada América Latina. Se isto for possível, conclui, talvez o antiamericanismo e o apelo do chavismo diminuam.

sábado, 27 de maio de 2006

Hamas rejeita ultimato do presidente palestino

O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que forma o atual governo palestino, rejeitou o ultimato do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) para decidir em 10 dias se aceita entrar em negociações de paz com Israel para criar dois países convivendo lado a lado: um israelense, outro palestino. Isto obrigaria o Hamas a reconhecer o direito de existência de Israel.

Um assessor do primeiro-ministro Ismail Haniya disse que o governo está aberto ao diálogo para criar um consenso nacional.

O Hamas, que venceu surpreendentemente as eleições parlamentares palestinas em 25 de janeiro deste ano, historicamente prega a destruição do Estado de Israel, embora diversos de seus líderes, numa posição mais realista, admitem a inevitabilidade da solução de dois Estados. Só que Israel se nega a negociar com o Hamas enquanto não for reconhecido como um país legítimo. Exige ainda que o movimento fundamentalista abandone a luta armada.

Para os líderes do Hamas, sua plataforma política foi aprovada nas urnas. Eles exigem a retirada total de Israel dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967, como precondição para abandonar a luta armada. É uma posição irrealista mas mostra o reconhecimento de que os territórios palestinos são a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, e não toda a Palestina.

Duas pesquisas dão 20 pontos de vantagem a García para eleição de 4 de junho no Peru

A oito dias do segundo turno da eleição presidencial no Peru, duas pesquisas de opinião dão cerca de 20 pontos de vantagem ao ex-presidente Alan García sobre o candidato ultranacionalista Ollanta Humala, contradizendo uma sondada da Pontifícia Universidade Católica do Peru em que Humala reduzia a distância para apenas oito pontos percentuais.

Nas novas pesquisas, do instituto CPI e da Universidade do Peru, o ex-presidente aparece com quase 60% dos eleitores decididos, enquanto Humala, apoiado pelos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, tem pouco mais de 40%.

Em uma advertência a Chávez, o atual presidente do Peru, Alejandro Toledo, exigiu que o caudilho venezuelano "deixe de intervir na política peruana" e cuide para não "semear tempestades na região".

Outra pesquisa divulgada hoje dá 42,8% para García e 28,6% para Humala. Isto significa que há quase 30% de indecisos, o suficiente para mudar o resultado indicado pelas pesquisas.

Humala reduz vantagem de García no Peru

O candidato ultranacionalista Ollanta Humala reduziu para oito pontos percentuais a vantagem que o ex-presidente Alan García tinha nas pesquisas para o segundo turno da eleição presidencial do Peru, em 4 de junho. Em pesquisa do Instituto de Opinião Pública da Pontifícia Universidade Católica do Peru divulgada ontem, García tinha 54% das preferências e Humala 46%.

Humala, um ex-oficial golpista, concorre pela União pelo Peru, prometendo nacionalizar os recursos naturais e usar as empresas estatais para realizar programas sociais, na linha dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales. Tem o apoio da esquerda. Sua votação é maior na zona rural.

García, do Partido Aprista (de Apra, Aliança Popular Revolucionária Americana), símbolo do populismo de esquerda no Peru, fez um governo desastroso de 1985 a 1990. Deixou uma hiperinflação de 7.000% ao ano e a guerra civil contra os grupos Sendero Luminoso e Tupac Amaru, abrindo involuntariamente o caminho para a ascensão de Alberto Fujimori, que derrotou a guerrilha e a hiperinflação com um golpe e violações dos direitos humanos, de tortura a assasinatos, inclusive com grupos de extermínio.

Hoje García tem o apoio da direita e do centro. Virou o anti-Humala. Tem maior votação nas cidades. Já teve 22 pontos de vantagem. A redução da vantagem indica que Humala tem uma chance porque o número de indecisos era grande nas pesquisas anteriores, em torno de 25%. À medida em que a eleição se aproxima, cai o número de indecisos.

Houve um momento na campanha em que Alan García e o presidente peruano, Alejandro Toledo, protestaram contra a tentativa do presidente venezuelano de interferir na eleição peruana. O bate-boca com Chávez prejudicou o chavista Humala.

Fuzileiros navais americanos massacraram 24 civis iraquianos inocentes, inclusive crianças

Um grupo de fuzileiros navais (marines), tropa de elite das Forças Armadas dos Estados Unidos, massacrou de forma "metódica" e "sistemática" 24 civis iraquianos na cidade de Haditha, em represália porque uma bomba colocada na beira da estrada matara um soldado americano em 19 de novembro. O escândalo, pior do que a tortura na prisão de Abu Ghraib, foi revelado pela imprensa dos EUA. Está sendo investigado pelo Departamento da Defesa, que deve processar criminalmente os autores.

Os fuzileiros navais realizaram uma patrulha Haditha em busca dos responsáveis pela morte do soldado Miguel Terrazas. A cidade fica na província de Al Anbar, no Oeste do Iraque, um dos centros da rebelião sunita contra a invasão americana. Oficialmente o Pentágono informara que haviam morrido 15 civis iraquianos, no fogo cruzado ou bombardeio. Agora, acredita-se que os soldados mentiram para encobrir a matança, como antecipou semanas atrás a revista Time.

A reportagem provocou o inquérito do Serviço Naval de Investigação Criminal.

A primeira parte do relatório já chegou à Comissão das Forças Armadas do Senado. Os fuzileiros navais ficaram de três a cinco horas em Haditha. Para vingar a morte do companheiro, atiraram indiscriminadamente contra civis inocentes, como cinco homens que estavam junto a um táxi. Também entraram em pelo menos duas casas e mataram todos os presentes, "ïnclusive mulheres e crianças".

Pelo menos três fuzileiros navais suspeitos foram removidos de seus postos, embora oficialmente o Pentágono se negue a vincular seu afastamento ao massacre. Como a investigação está em andamento, o porta-voz do Departamento da Defesa considerou "ïnadequado fazer comentários".

Mas o comandante do Corpo dos Fuzileiros Navais, que na hierarquia das Forças Armadas dos EUA têm o mesmo status dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, foi quinta-feira ao Iraque para "reforçar os ideais, os valores e os padrões" de conduta dos marines e o respeito às leis de guerra, como as Convenções de Genebra.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Presidente palestino pressiona Hamas a reconhecer Israel

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, ameaçou ontem convocar um referendo sobre o processo de paz com Israel, se o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que controla o atual governo palestino, não reconhecer o direito de existência de Israel e não retomar as negociações de paz. Abbas está pressionando os líderes do Hamas a assinar um plano de 18 pontos formulado no mês passado por militantes do Hamas e da Fatah (Luta), o partido de Abbas, fundado pelo falecido líder palestino Yasser Arafat.

Este plano defende a criação de um Estado palestino na Faixa de Gaza e na Cisjordânia dentro das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel ocupou estas duas regiões mais as Colinas do Golã, que pertenciam à Síria, e a Península do Sinai, devolvida ao Egito depois do acordo de paz de Camp David, em 1979. Isto implicaria o reconhecimento de Israel e a renúncia ao projeto do Hamas de "libertar toda a Palestina", o que exigiria a destruição de Israel.

"Se vocês não concordarem", advertiu o presidente palestino, "vou perguntar diretamente ao meu povo se aceita ou não este plano".

Abbas está convencido de que o Hamas venceu as eleições parlamentares de 25 de janeiro porque é considerado menos corrupto e seus serviços sociais são mais eficientes. O porta-voz do Hamas, Ghazi Hamad, admitiu que seu partido foi eleito com outra plataforma, de continuar a luta armada e não reconhecer Israel, "mas se o povo tomar uma decisão diferente, vamos respeitar a decisão. Não somos contra acordos políticos".

Nas últimas duas semanas, houve choques entre militantes do Hamas e da Fatah, criando risco de uma guerra civil entre os palestinos. Ontem, foi proposto um "diálogo nacional".

Em visita aos EUA, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, recebeu um apoio discreto do presidente George W. Bush para seu plano de definir unilateralmente as fronteiras de Israel até 2010, se não for possível chegar a um acordo de paz com os palestinos. Israel se nega a negociar com o Hamas até que o movimento fundamentalista abandone a luta armada e reconheça a existência do Estado judaico.

A Europa e os EUA consideram o Hamas um grupo terrorista e suspenderam a ajuda internacional ao governo palestino, no valor de centenas de milhões de dólares depois que o movimento chegou ao poder. Israel também parou de transferir os impostos que arrecada nos territórios árabes ocupados.

Como Israel tem um peso enorme na política interna americana, os dois grandes partidos disputam qual é o mais favorável a Israel. Por isso Bush aprovou com alguma relutância o plano unilateral de Olmert, que não agrada à Europa e principalmente aos países árabes.

Times de Londres quer se internacionalizar

O jornal The Times, de Londres, anunciou hoje que vai lançar uma edição americana no dia 6 de junho, dentro de um plano para se internacionalizar.

"Este é um momento-chave do projeto de tornar The Times numa marca internacional", declarou o editor-chefe, Robert Thompson. "Vimos um grande aumento do número de nossos leitores nos Estados Unidos. É bom que ele esteja presente nas ruas de Nova Iorque".

The Times é editado pela News Corporation, do empresário australiano naturalizado americano Rupert Murdoch, um dos maiores magnatas da mídia do mundo, com fortunal pessoal estimada em mais de US$ 6 bilhões. Além do Times, ele é dono dos tablóides mais vendidos na Grã-Bretanha, The Sun e News of the World, da Sky TV, da Star TV, da Fox e do jornal The New York Post.

A edição americana do Times será impressa na gráfica do New York Post em tamanho menor do que o formato padrão.

Núcleo da inflação sobe 0,2% nos EUA animando mercados

Os preços ao consumidor subiram em média 0,5% nos Estados Unidos em abril mas o núcleo da inflação, excluídos os preços de energia e alimentos, aumentaram apenas 0,2% em abril, contra 0,3% em março, aliviando um pouco o temor de que o Federal Reserve Board (Fed), o banco central americano, volte a elevar a taxa básica de juros, hoje de 5% ao ano, na sua próxima reunião, em 29 de junho. A inflação anual caiu de 3,3% para 3,1%, e o núcleo da inflação para 2,1%, levemente acima da meta do Fed, que é de 1% a 2%.

A renda familiar cresceu 0,5%, empatando com a inflação, então não houve crescimento real. O consumo doméstico aumentou 0,6% mas, ajustado pela alta da inflação, subiu apenas 0,1%. O índice de confiança do consumidor permaneceu estável.

Com a expectativa de que a inflação não represente maiores riscos, as bolsas de valores subiram hoje na Ásia, na Europa, nos EUA e na América Latina.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

López Obrador se aproxima de Calderón na disputa pela Presidência do México

Depois de uma queda acentuada nas últimas semanas, o ex-prefeito da Cidade do México Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), recuperou-se e encostou no candidato conservador Felipe Calderón, do governante Partido de Ação Nacional (PAN).

Uma pesquisa publicada pelo jornal Reforma indica que hoje Calderón teria 39% dos votos contra 35% para López Obrador, que liderou as sondagens durante muito tempo. Em relação à pesquisa anterior, Calderón caiu um ponto percentual e López Obrador cresceu dois. Roberto Madrazo, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que dominou a política mexicana de 1929 a 2000, permanece em terceiro com 22% das preferências.

A eleição presidencial mexicana será realizada em 2 de julho e não terá segundo turno. Ganha o candidato mais votado, sem necessidade de ter a metade mais um dos votos válidos, como na maioria dos países latino-americanos.

Bush e Blair estão sob pressão para anunciar início da retirada do Iraque

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, recebeu hoje na Casa Branca o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, com uma agenda carregada: a programa nuclear do Irã, o aumento dos ataques dos talebã no Afeganistão e a crise no processo de paz entre israelenses e palestinos. Mas tudo isto fica em segundo plano diante da Guerra no Iraque.

Blair fez uma visita surpresa ao país ocupado por americanos e britânicos, depois da posse do primeiro governo permanente desde a queda do ditador Saddam Hussein, em 9 de abril de 2003. Foi levar pessoalmente seu apoio ao primeiro-ministro Nuri al-Maliki.

O novo governo afirmou que em 2007 as forças de segurança do Iraque estarão em condições de controlar o país sem a necessidade das forças invasoras. Malik ainda não conseguiu nomear os ministros da Defesa, do Interior e da Segurança Pública. Mas anunciou que a transferência do controle da segurança começa no próximo mês pelas províncias de Samawa e Amara.

Sob intensa pressão de seus eleitorados, cada vez mais descontentes com a guerra, Bush e Blair podem anunciar o início da retirada das tropas que invadiram o Iraque. Mas será uma retirada meramente simbólica. Como advertiu o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, uma saída prematura das forças anglo-americanas do Iraque pode virar um "pesadelo", com guerra civil, transformação do país num centro de treinamento e irradiação de terroristas, e intervenção dos países vizinhos.

Senado americano aprova nova lei de imigração

O Senado dos Estados Unidos aprovou hoje leis que dão oportunidade aos 11 milhões de imigrantes ilegais de pedir cidadania americana, reforçam a segurança na fronteira e criam a figura do trabalhador convidado, que terá permissão para trabalhar antes de obter a cidadania. A aprovação é uma vitória do presidente George W. Bush.

Pelo projeto, quem estiver há mais de cinco anos ilegalmente nos EUA poderá pedir cidadania, desde que esteja empregado e atenda a uma série de exigências, inclusive conhecimento de inglês o pagamento de impostos atrasados. Estima-se que este seja o caso de 7 milhões de ilegais.

Quem estiver no país de 2 a 5 anos poderá se inscrever no programa para trabalhadores convidados, que teriam prazo de permanência máximo de 3 anos, devendo depois voltar a seu país de origem ou pedir visto de residência permanente. Este sria o caso de 3 milhões de pessoas.

Os ilegais que entraram há menos de 2 anos terão de sair dos EUA e se inscrever no programa para trabalhadores convidados em seus países de origem. Eles seriam um milhão.

Mas a legislação que passou no Senado terá de ser conciliada com um projeto muito mais duro aprovado pela Câmara, que não cria o trabalhador convidado e considera todos os imigrantes ilegais criminosos. Acredita-se que haja 1 milhão de brasileiros vivendo ilegalmente nos EUA.

Escândalo da Enron dá cadeia para empresários nos EUA

O fundador e ex-diretor-presidente da empresa de energia Enron, Kenneth Lay, e o ex-diretor-administrativo, Jeffrey Skilling, foram condenados por fraudes contábeis que levaram a companhia, apontada durante anos pela revista Fortune como uma das inovadoras dos Estados Unidos, à falência em 2001. Eles podem ficar décadas na prisão.

A empresa de eletricidade, gás natural e comunicações empregava 21 mil pessoas. Chegou a declarar um faturamento de US$ 101 bilhões em 2000. Mas naufragou no final de 2001, quando foi revelado que praticara fraudes contábeis sistematicamente. Foi, na época, a maior falência da História dos EUA. Deixou imediatamente 4 mil desempregados.

Agora, depois de seis dias de deliberações, o júri constituído por oito mulheres e quatro homens condenou Ken Lay por todas as seis acusações de fraude e conspiração que pesavam sobre ele. Jeff Skilling foi considerado culpa por 19 acusações de fraude, conspiração, falso testemunho e uso indevido de informação privilegiada. Foi absolvido em outras nove. Eles podem pegar 5 a 10 anos de cadeira por cada uma das condenações. A sentença será proferida em setembro.

A Enron, uma empresa do Texas, era ligada ao presidente George Walker Bush, que chamava Lay pelo apelido, e contribuiu para a campanha eleitoral de Bush em 2000.

O escândalo da Enron foi superado pela quebra da empresa de telecomunicações World.com, a maior até hoje. Em resposta, o Congresso dos EUA aprovou a Lei Sarbanes-Oxley, que impõe normas rígidas de transparência para a contabilidade das empresas.

Está aí um bom exemplo para o Brasil, que vive uma onda de violência e corrupção sem precedentes em sua história democrática, marcada por uma impunidade que começa no Palácio do Planalto. Em países decentes, os corruptos e ladrões vão para a cadeia.

Aqui, a Justiça acaba de libertar o Bispo Rodrigues, ex-deputado preso no ano passado com sete malas cheias de dinheiro e acusado agora na Operação Sanguessuga, que fraudava licitações para compra de ambulâncias para o sistema público da saúde. O Supremo Tribunal Federal mandou prender de novo os envolvidos em mais este escândalo de corrupção. Mas os chamados crimes do colarinho branco raramente são punidos no Brasil. Devolução do dinheiro, então, nem pensar.

EUA crescem 5,3%, abaixo da expectativa do mercado

A maior economia do mundo cresceu a uma taxa anual de 5,3% no primeiro trimestre deste ano, revelou hoje o Departamento do Comércio dos Estados Unidos. Este índice é superior à estimativa anunciada há um mês, que foi de 4,8%, mas ficou abaixo da expectativa média do mercado, que era de 5,6%.

É o ritmo de crescimento mais forte desde o terceiro trimestre de 2000, depois de uma alta do PIB de apenas 1,7% no último trimestre do ano passado, por causa do impacto do furacão Katrina. Mas a maioria dos economistas acredita que os EUA crescerão menos no segundo semestre.

A venda de casas usadas caiu 2% em abril. Como estes dois dados reduzem o medo da inflação e o temor de que o Federal Reserve Board (Fed), o banco central americano, aumente a taxa básica de juros, hoje em 5% ao ano, na sua próxima reunião, no final de junho, a Bolsa de Nova Iorque fechou em alta de 0,8%. As ações da General Motors subiram 8% depois que o banco de investimentos Merrill Lynch melhorou sua avaliação de risco.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Venda de casas novas sobe 4,9% mas encomendas à indústria caem nos EUA

A maior economia do mundo manda mais sinais contraditórios, desafiando a capacidade de análise dos economistas que tentam prever se o Federal Reserve Board (Fed), o banco central dos Estados Unidos, vai aumentar a taxa básica de juros, hoje em 5% ao ano, na sua próxima reunião, no final de junho. O medo da inflação e do aumento dos juros provocou a chamada fuga para a qualidade, para aplicações mais seguras, na segunda-feira, derrubando as bolsas de valores no mundo inteiro.

Inesperadamente, a venda de casas novas aumentou 4,9% em abril nos EUA. No final do mês passado, havia 565 mil casas no mercado, um novo recorde equivalente a 5,8 meses de vendas pelo ritmo atual dos negócios. Mas apesar do aumento do estoque de casas para vender, houve um aumento de preços, de uma média de US$ 232 mil para US$ 238,5 mil, e os financiamentos estão mais caros por causa das sucessivas altas nos juros. Isto inibe novos negócios.

Houve uma queda de 6% no número de novos pedidos de financiamento, informou a associação de bancos que financiam a compra de imóveis. Então, examinando-se os dados em detalhes, o mercado imobiliário não está tão aquecido quanto o aumento de 4,9% na venda de casas novas sugere.

Ao mesmo tempo, as encomendas de bens duráveis para a indústria caíram 4,8% em abril, atingindo principalmente as fábricas de aviões e de computadores. Um indicador importante, as encomendas de bens de capital não-ligadas ao setor de defesa diminuíram em 1,7%, em contraste com uma alta de 3,6% em março.

As encomendas de bens duráveis costumam oscilar, dependendo da distribuição. Para o economista Drew Matus, do banco de investimentos Lehman Brothers, "estes dados não sugerem uma queda sustentada na atividade manufatureira. De fato, a combinação de diferentes dados indica que a indústria deve continuar trabalhando em níveis saudáveis".

Sem maiores novidades, a Bolsa de Nova Iorque fechou com uma pequena alta, de 0,17%, enquanto o preço do barril de petróleo caiu 45 centavos, fechando em US$ 69,41.

Europa quer dura regulamentação para futebol

Para salvar o espírito do esporte mais popular do mundo, às vésperas da Copa do Mundo, a União Européia anuncia que pretende impor uma dura regulamentação sobre o futebol profissional, incluindo limites para os salários dos jogadores, um controle rígido sobre casas de apostas e empresários de jogadores.

No relatório divulgado ontem, o ex-vice-primeiro-ministro de Portugal José Luís Arnaut aborda vários problemas, entre eles a regulamentação das atividades dos empresários e agentes que negociam jogadores, das apostas, a integridade das competições, o risco de que o esporte seja usado para 'lavagem' de dinheiro do crime organizado, a propriedade dos clubes, o verdadeiro tráfico de jovens atletas, o racismo e a xenofobia, o nacionalismo exacerbado.

"Se estas questões não foram atacadas com urgência", adverte Arnaut, "há um risco real de que a propriedade dos clubes de futebol caia em mãos erradas, que os verdadeiros valores do esporte se percam e que o público fique cada vez mais desapontado com o espetáculo."

Ben Laden afirma que Moussaoui é inocente

O terrorista mais procurado do mundo, Ossama ben Laden, voltou a desafiar os Estados Unidos. Em fita divulgada ontem, o líder da rede terrorista Al Caeda afirma que o único condenado pelos atentados de 11 de setembro de 2001, o franco-marroquino Zacarias Moussaoui, é inocente.

"Posso garantir que o irmão Moussaoui é inocente porque eu mesmo escolhi os mártires de 11 de setembro", diz uma voz identificada como de Ben Laden.

Seu objetivo é desmoralizar a Justiça dos EUA e se apresentar como superior ao presidente George W. Bush, que mesmo governando a nação mais poderosa do planeta não consegue capturar o terrorista saudita. Serve também como poderoso instrumento de propaganda para mobilizar mais voluntários para o martírio em operações suicidas contra dos EUA e seus aliados.

América Latina vive sob sombrio reinado da máfia

A recente onda de violência em São Paulo foi apenas uma mostra, a “ponta do iceberg”, afirma a revista alemã Der Spiegel. Por toda a América Latina, os governos estão capitulando diante dos gângsteres.

O repórter Jens Glusing descreve uma visita à favela de Vigário Geral, apresentada como “uma das mais perigosas do Rio de Janeiro”. A entrada está bloqueada por contêineres de recolhimento de lixo. Ao perceberem a aproximação de um estranho, dois jovens armados de metralhadoras conferem sua identidade e o levam até a igreja.

Lá dentro, diz a revista, as operações policiais são raras e os traficantes de drogas contam que costumam ser avisados com antecedência. Estas gangues paramilitares controlam as 700 favelas do Rio. Elas decidem se a companhia de energia elétrica pode instalar novos cabos, a que horas as lojas e escolas devem fechar, e quem pode visitar a igreja. São governos paralelos, como nas prisões de São Paulo, nas favelas de Caracas e Medelim, e nas ruas de Acapulco e na Cidade do México.

Para Der Spiegel, todo o continente marcha para trás. Gangues de seqüestradores semeiam o terror em Caracas e na Cidade do México. Em El Salvador, na Guatemala e em Honduras, as gangues adolescentes chamadas de Maras vivem de extorsão e seqüestro. Na Colômbia, os paramilitares de direita e as guerrilhas de esquerda sobrevivem do tráfico de drogas e de seqüestros.

“O crime organizado só sobrevive na impunidade”, disse à revista alemã a socióloga Alba Zaluar, “então cria seus próprios territórios para garantir que não será punida dentro deles”.

Mais trágico ainda é o diagnóstico da revista: “As democracias da América Latina, freqüentemente decrépitas, são presas fáceis. O sistema judicial mal funciona na maioria dos países; a policia é freqüentemente corrupta e coopera com traficantes de drogas. Muitos políticos são facilmente subornadas e os mandatos parlamentares são vistos como oportunidades para enriquecimento rápido”.

Depois de várias noites de terror em São Paulo, acrescenta Der Spiegel, o governo capitulou. Enviou emissários à prisão onde estava o líder do Primeiro Comando da Capital, que se auto-intutula o Partido do Crime.

Nestes tristes trópicos, as máfias não têm problemas para recrutar novos voluntários entre os milhões de jovens desempregados. A romantização do crime transforma chefões como Pablo Escobar, do Cartel de Medelim, ou Fernandinho Beira-Mar em heróis da periferia.

As prisões superpovoadas converteram-se em escolas do crime. São bases importantes do poder das gangues.

Na opinião da revista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta a reeleição como líder de um país estável que cresce para se tornar uma potência industrial. Mas antigos fantasmas como a violência e a corrupção assombram o país.

O caos em São Paulo já faz empresas estrangeiras repensarem seus investimentos no Brasil.

Der Spiegel acredita que uma vítima da violência pode ser a guinada da América Latina para a esquerda. Na Colômbia, Álvaro Uribe deve ser reeleito no primeiro turno no próximo domingo, 28 de maio, com uma política linha-dura no combate à guerrilha. No México, o candidato conservador Felipe Calderón já ameaça a liderança do esquerdista Andrés Manuel López Obrador para a eleição presidencial de 2 de julho.

Até mesmo Hugo Chávez, o histriônico presidente da Venezuela, estaria ameaçado. Caracas é hoje a cidade mais violenta do subcontinente. A taxa de homicídios triplicou desde a vitória de Chávez em 1998.

EUA acusam China de gastar três vezes mais em armas do que afirma

O Departamento da Defesa dos Estados Unidos acusa a China de gastar três vezes mais em armas do que declara oficialmente, embora ainda assim gaste muito menos do que o governo americano. A Agência de Inteligência de Defesa estima que a China gaste entre US$ 70 bilhões e US$ 105 bilhões anuais com as Forças Armadas. Entende que os investimentos em mísseis de longo alcance, marinha de guerra e aviões de combate indicam uma intenção de projetar seu poderio muito além da Taiwan, a ilha que Beijim considera uma província rebelde.

A China insiste em que não pretende se tornar uma superpotência militar e que seus gastos com defesa não ultrapassam US$ 35 bilhões, 6% do orçamento militar americano.

Entre os vizinhos da China, o Japão gasta US$ 45 milhões anuais com defesa, a Índia US$ 19 bilhões e a Coréia do Sul US$ 16 bilhões. Mas a maior potência militar na Ásia é os EUA, com bases no Japão, na Coréia do Sul e na ilha de Guam.

terça-feira, 23 de maio de 2006

Brasil não avança na proteção aos direitos humanos

O Brasil não progrediu na defesa dos direitos humanos, afirma o relatório anual da Anistia Internacional, divulgado hoje em Londres. É especialmente preocupante a situação dos pobres e excluídos, sujeitos a violências nas mãos da polícia, a tortura, execuções extrajudicias e uso de força excessiva. Para a AI, o sistema prisional é cruel, desumano e degradante. Os índios são vítimas de massacres e expulsões de suas terras ancestrais, sem que o governo cumpra as promessas de demarcar suas terras. Outros alvos são os defensores dos direitos humanos. Há uma impunidade generalizada, fruto da lentidão da Justiça ou da relutância do Judiciário em processar os violadores.

A Anistia observa que 2005 foi marcado no Brasil por uma série de escândalos de corrupção envolvendo o governo federal e o Congresso na arrecadação ilegal de fundos eleitorais, fraude na assinatura de contratos e na distribuição de verbas públicas, e compra de votos de deputados e senadores. Admite que houve esforços no desarmamento mas lamenta que a proibição da venda de armas tenha sido rejeitada.

Mesmo assim, "as autoridades federais reportaram um declínio de 8,2% nos homicídios, a primeira queda desde 1992". Mas em outubro o Comitê de Direitos Humanos da ONU denunciou a brutalidade policial e a tortura, e as ameaças aos índios.

O relatório manifesta preocupação com as execuções extrajudiciais e o uso sistemático de tortura pelas forças policiais. Entre 1999 e 2004, houve 9 mil casos no Rio e em São Paulo de mortes atribuídas a "resistência a ação policial", enfemismo para alegar que a polícia mata em legítima defesa. Estes casos, que também envolvem esquadrões da morte, como o massacre de 29 pessoas na Baixada Fluminense em 31 de março do ano passado, praticamente não são investigados, nota a Anistia.

As prisões brasileiras têm excesso de presos. Seu tratamento é "cruel, desumano e degradante". A população carcerária continua aumentando. No centro de detenções da Polínter, havia em média 90 presos por cela de 12 metros quadrados.

De janeiro a novembro de 2005, a Comissão Pastoral da Terra denunciou o assassinato de 37 trabalhadores rurais. Muitos outros morrem por falta de assistência médica e social depois de serem expulsos das terras onde viviam. No campo e na cidade, ativistas dos movimentos indígenas, dos sem-terras e dos sem-casas são alvos de ameaças e tentativas de assassinato. Em 12 de fevereiro foi assassinada no Pará a missionária americana Dorothy Stang, que defendia agricultores pobres e a Floresta Amazônica.

Foi mais uma prova de que ativistas dos direitos humanos são alvos fáceis, apesar da promessa do governo federal de criar um programa de proteção de testemunhas.

O maior problema, para a Anistia, é a impunidade. Até hoje os oficiais responsáveis pelos massacres na penitenciária do Carandiru, em São Paulo, em 1992, e de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1997, estão soltos aguardando o julgamento de recursos.

Anista denuncia abusos de direitos humanos na guerra contra o terror

A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional denuncia violações dos direitos humanos cometidas pelos Estados Unidos, com a cumplicidade da Europa, na luta contra o terror. Em seu relatório anual, também acusa a China e a Rússia de deixar "interesses econômicos e políticos mesquinhos se sobreporem aos direitos humanos". No Brasil, especialmente os pobres e excluídos, são vítimas de abusos como violência policial, tortura e execuções extrajudiciais, e são submetidos a tratamento cruel, desumano e degradante no sistema prisional.

"Os governos, coletiva e individualmente, paralisaram instituições internacionais e desperdiçaram recursos públicos na busca de interesses de segurança mesquinhos, sacrificaram princípios em nome da 'guerra contra o terror' e ignoraram grandes violações dos direitos humanos", declarou a secretária-geral da Anistia, Irene Khan, ao lançar o documento na Associação da Imprensa Estrangeira, em Londres. "Como resultado, o mundo paga um preço elevado em termos de erosão dos princípios fundamentais e um dano enorme às vidas de pessoas comuns."

Um dos escândalos denunciados foi o dos mais de mil vôos em que a CIA (Agência Central de Inteligência), o serviço de espionagem dos EUA, com a cumplicidade de países europeus, levou suspeitos de terrorismo para serem interrogados violentamente em países onde a tortura não é crime, como Marrocos, Egito, Jordânia, Síria e Arábia Saudita.

"O terrorismo de grupos armados é indesculpável e inaceitável", afirmou a secretária-gera. "Os terroristas devem ser levados à Justiça mas através de julgamentos justos e não de tortura e de detenções. Tristemente, o aumento da brutalidade de tais incidentes no ano passado é mais uma amarga lembrança de que a 'guerra contra o terror' está fracassando e vai continuar fracassando até que os direitos humanos e a segurança das pessoas tenham prioridade sobre interesses de segurança nacional mesquinhos.”

A Anistia critica a incapacidade da sociedade internacional de impedir o genocídio na província de Darfur, no Sudão: "A ação fraca e intermitente das Nações Unidas e da União Africana ficou pateticamente aquém do que era necessário em Darfur”, lamentou Irene Khan, ao falar da tragédia humanitária em que 200 mil pessoas morreram e 2 milhões fugiram de suas casas nos últimos quatro anos. Todas as partes em luta foram acusadas de violar os direitos humanos e não apenas o governo fundamentalista do Sudão e a milícia Janjaweed, criada e mantida por ele.

Para a AI, o Iraque caiu numa espiral de violência sectária entre sunitas e xiitas por culpa das forças de ocupação americanas e britânicas: “Quando os poderosos são arrogantes demais para revisar e reavaliar suas estratégias, o preço mais alto é pago pelos pobres e destituídos, no caso, iraquianos comuns, homens, mulheres e crianças”.

Entre os avanços, Anista aponta as primeiras denúncias de crimes de guerra em Uganda apresentadas ao Tribunal Penal Internacional a prisão domiciliar do ex-ditador chileno Augusto Pinochet e a detenção do ex-presidente peruano Alberto Fujimori, que quebram a impunidade histórica de ex-chefes de Estado na América Latina.

O relatório elogia a Justiça da Grã-Bretanha por impedir o governo Tony Blair de usar elementos de prova obtidos mediante tortura e o Conselho da Europa e o Parlamento Europeu por investigarem os vôos clandestinos da CIA.

Embora a lei americana proíba a tortura, o governo dos EUA a emprega em prisões clandestinas ou outros paises, acusa a AI, notoriamente no centro de detenção instalado na base americana de Guantânamo, em Cuba, onde os prisioneiros são descritos como “combatentes ilegais” para lhes negar os direitos garantidos pelas Convenções de Genebra.

“Assim como condenamos o terrorismo contra civis nos termos mais duros possíveis, devemos resistir às alegações de governos de que o terror pode ser combatido com a tortura”, insistiu Khan. Estas alegações são enganosas, perigosas e erradas. Não se pode apagar o fogo com petróleo”.

Uma linguagem dúbia e a duplicidade de padrões enfraquecem a capacidade da sociedade internacional de atacar violações dos direitos humanos em Darfur, na Colômbia, na Chechênia, no Afeganistão, no Irã, no Usbequistão e na Coréia do Norte.

As principais exigências da Anistia Internacional são:
• A ONU e a União Africana devem resolver o conflito e acabar com as violações de direitos humanos em Darfur.
• A ONU deve negociar um tratado para controlar o comércio de armas leves.
• Os EUA devem fechar o centro de detenção da base de Guantânamo e revelar o nome e a localização de todos os presos na ‘guerra contra o terror’.
• O novo Conselho de Direitos Humanos da ONU deve exigir que todos os paises adotem os mesmos padrões de respeito aos direitos humanos, seja em Darfur ou Guantânamo, na Chechênia ou na China.

Google venderá anúncios com vídeo

O Google, mais bem-sucedida empresa de busca na Internet, planeja vender anúncios com vídeo, o que deve aumentar o mercado de propaganda na rede mundial de computadores, atraindo anunciantes que ainda não entaram na Internet, revelou hoje a edição online de The Wall Street Journal. A propaganda será apresentada em sites com anúncios negociados pelo Google e não nos sites da própria empresa.

Quando o usuário clicar em cima do anúncio, verá um videoclipe. O anunciante pagará cada vez que seu anúncio for clicado. O diretor de gerenciamento de produtos do Google, Gokul Rajaram, acredita que poderá cobrar mais por anúncios com vídeo do que em simples mensagens de texto.

Será o primeiro passo para a realização de vídeos do Google, que também pensa em entrar no mercado publicitário de televisão.

Aversão ao risco traz volatilidade de volta

Depois de um dos piores dias para os mercados financeiros em anos, as bolsas de valores se recuperaram na terça-feira, 23 de maio, mas no fim do dia Nova Iorque e São Paulo terminaram em queda.

O mercado se pergunta agora se foi apenas uma correção temporária ou se a bonança dos últimos três anos na economia internacional chegou ao fim. Para o economista Roberto Troster, da Federação Brasileira dos Bancos, deve ser “apenas uma correção de carteiras”. A alta nos preços do petróleo e dos metais indicam que a demanda continua aquecida. A grande expectativa agora é sobre a inflação nos Estados Unidos, a ser anunciada na sexta-feira.

Na semana passada, as commodities tiveram suas maiores quedas em 25 anos, levando um analista pessimista de Wall Street a prever o estouro de uma bolha especulativa de produtos primários. Mas a recuperação no dia 23 sugere que a forte demanda pode manter a maior alta em mais de cinco décadas.

O ouro caiu na segunda-feira, 22 de maio, US$ 1,40, para US% 656,30, mas na terça teve alta de US$ 15. O cobre subiu 12% ou US$ 900 por tonelada, que vale agora US$ 8.480. A prata aumentou 5,7%, com a onça de 28,35 gramas custando US$ 13,24. Já o petróleo teve alta 3,4% na Bolsa Mercantil de Nova Iorque, cotado a US$ 71,55, principalmente por causa da previsão de que haverá cinco ou seis grandes furacões este ano nos EUA.

Um relatório divulgado da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevendo crescimento no Japão, na Alemanha, na Itália e na França renovou a esperança de que a economia internacional mantenha um ritmo de crescimento de 4%. Mas a aversão ao risco traz de volta a volatilidade. Os próximos meses podem ser turbulentos, com impacto sobre o Brasil.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva foi extremamente beneficiado por um cenário internacional favorável, ao contrário do que aconteceu sob Fernando Henrique Cardoso, que enfrentou crises no México, na Ásia, na Rússia e na Argentina, alem da sua própria, criada pela desvalorização do real em janeiro de 1999.

Com excesso de liquidez no mercado internacional, o dinheiro veio para o Brasil. Mas parte desta atração deve-se às elevadas taxas de juros do Brasil, que provocaram a sobrevalorização do real, prejudicando as exportações, e inibiram o crescimento. Uma forte turbulência agora abalaria a confiança na economia, uma das bandeiras da campanha de reeleição de Lula.

Leia a íntegra na minha coluna semanal em www.baguete.com.br.

Kissinger: retirada rápida do Iraque seria "pesadelo"

Se os Estados Unidos se retirarem do Iraque sem deixar um governo estável, o país pode se tornar um pesadelo, com guerra civil e intervenções dos vizinhos, adverte o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, em entrevista ao jornal francês Le Monde (20 de maio). Responsável pela reaproximação dos EUA com a China em 1971, Kissinger observa que isto não significa que Washington deva fazer um gesto de abertura em relação ao Irã para desarmar a crise provocada pela suspeita de que a república islâmica esteja desenvolvendo armas nucleares.

"É uma situação objetivamente diferente", afirma o ex-secretário de Estado mais influente da História dos EUA. "Quando o presidente Richard Nixon e eu nos aproximamos da China, a União Soviética tinha 42 divisões na fronteira chinesa e os incidentes se multiplicavam.

"Pensávamos que, se a URSS repetisse na China o que fizera na Tcheco-Eslováquia [ao esmagar a Primavera de Praga com uma invasão, em 1968], haveria conseqüências para o equilíbrio mundial."

A situação do Irã hoje é muito diferente: "Os iranianos querem nos isolar e pensam que podem fazer isto até o final do governo Bush, ganhando dois anos. A outra possibilidade é que os EUA, aliados à Europa, consigam criar um consenso para isolar e pressionar o Irã para chegar a uma solução pacífica".

Kissinger também rejeitou o paralelo de que um acordo com o Irã facilitaria a retirada dos EUA do Iraque como a reaproximação com a China teria ajudado a sair do Vietnã: "Quando cheguei à China, já tínhamos retirado 200 a 250 mil soldados americanos do Vietnã. Mas a viagem à China acentuou o isolamento do Vietnã."

O ex-chanceler - acusado de crimes de guerra pelo bombardeio do Camboja durante a Guerra do Vietnã para atacar a Trilha de Ho Chi Minh, por onde os vietcongues saiam do Vietnã do Norte para atacar o Sul, e pelo apoio a golpes militares na América Latina como o de 1973 no Chile e o de 1976 na Argentina - considera inaceitável para os EUA que o Irã tenha armas nucleares e arriscado ceder "tecnologia nuclear avançada" ao regime dos aiatolás.

No caso do Iraque, a questão central para Kissinger é como se retirar do país e encerrar a ocupação: "Se emergir um regime fundamentalista como o dos talebã nem que seja apenas numa parte do Iraque, durante ou depois da retirada americana, e se o país se tornar uma base para atividades terroristas, isto afetará todos os países com populações muçulmanas, da Europa ao Sudeste Asiático, inclusive a Índia.

"Todos temos o interesse que seja um regime laico e não jihadista", raciona o ex-secretário de Estado que dominou a política externa americana de 1969 a 1977. "Imagine as conseqüências de uma retirada rápida e prematura dos EUA do Iraque: a Turquia seria fortemente incitada a intervir na região curda. Os iranianos dominariam o Sul. Os países muçulmanos sunitas seriam tentados a fazer uma barreira contra os xiitas. Paralelamente, haveria o risco de uma guerra civil: um pesadelo para todo o mundo que colocaria de novo a questão de uma intervenção estrangeira. Então acho que uma retirada americana não é desejável, por enquanto. Não gosto do atual debate político nos EUA. Lembro-me do Vietnã. Quando se começa a fazer campanha política com a guerra, o inimigo leva vantagem no campo de batalha".

Kissinger não está seguro de que o vice-presidente Dick Cheney esteja certo ao acusar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de fazer chantagem na questão energética: "Vladimir Putin governa um país que perdeu 300 anos de hegemonia. É um país que, por suas ações no exterior, se identifica com o que agora se chama de imperialismo. Hoje os russos voltaram a suas fronteiras iniciais, o que cria um problema de identidade", analisa o ex-chanceler americano.

"Putin quer tornar a Rússia num ator central das relações internacionais, recuperar sua dignidade e seu prestígio, ser reconhecida, pelo menos pelos EUA, como um parceiro igual. Paradoxalmente, quando mais endurecermos, mais aparecerá o aspecto brutal da História Russa", prevê Kissinger.

Além da política externa, observa Le Monde, também preocupa a maneira como Putin trata das questões domésticas da Rússia. "Não é democrática", comenta o ex-secretário de Estado. "Os traços de autoritarismo do regime foram reforçados. Mas desde o fim da URSS, não houve um grande período. Houve a corrupção sob Boris Yeltsin e tanques atacando o Parlamento. Com Putin, fortaleceu-se o poder central".

Europeus pagam US$ 45 milhões para libertar reféns no Iraque

A Alemanha, a França e a Itália concordaram em pagar o equivalente a US$ 45 milhões para libertar reféns seqüestrados no Iraque, afirmou ontem o jornal inglês The Times. O jornal atribui as informações a "responsáveis pela segurança de Bagdá que tiveram papel decisivo nas negociações" para soltar os reféns. Os governos dos três países desmentiram a notícia.

Só a França pagou US$ 25 milhões. Foram US$ 10 milhões por Florence Aubenas, jornalista do Libération, em junho de 2005, e US$ 15 milhões por Christian Chesnot e Georges Malbrunot, da Radio France International e do jornal Le Figaro, em dezembro de 2004.

A Itália pagou US$ 5 milhões por outra jornalista, Giuliana Sgrena, em março de 2005, e US$ 6 milhões pour Simona Pari e Simona Torretta, membros de uma organização não-governamental, em setembro de 2004.

Já a Alemanha teria pago US$ 8 milhões, sendo US$ 5 milhões pelos engenheiros René Braunlich e Thomas Nitzschke no início deste mês e US$ 3 milhões por Susanne Osthoff, em novembro 2005. A televisão alemã ARD afirma que foram pagos US$ 10 milhões pelos dois engenheiros.

O Times declara que o governo da Grã-Bretanha nunca pagou para tentar libertar dois reféns britânicos que foram assassinados, Kenneth Bigley e Margaret Hassan, embora tenha pago os intermediários que negociavam com os terroristas.

Desde o início da invasão dos Estados Unidos, em março de 2003, 439 estrangeiros foram seqüestrados no Iraque; 44 foram assassinados e cerca de 30 ainda estão desaparecidos.

Reatamento com Líbia abre país para companhias de petróleo dos EUA

O reatamento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a Líbia, e a retirada do país da lista dos acusados de patrocinar o terrorismo, criam grandes oportunidades para as companhias de petróleo americanas, abrindo um mercado alternativo no momento em que enfrentam dificuldades na América Latina.

As sanções econômicas que os EUA impunham ao regime do coronel Muamar Kadafi foram suspensas em 2004 mas, "no setor de petróleo", como observa Fadel Gheit, analista de energia da consultoria Oppenheimer, "é tudo política. Se Kadafi for recebido na Casa Branca, em poucos dias a Exxon ou a Halliburton fecha um contra".

No momento, a Líbia, um país de 6 milhões de habitantes do Norte da África, produz 1,6 milhão de barris de petróleo por dia, o que a coloca no 16º entre os maiores produtores. Mas suas reservas estão entre as dez maiores do mundo. Além disso, é um petróleo de alta qualidade, leve e de fácil refino.

Com investimentos estrangeiros, a produção líbia pode crescer para 3 milhões de barris diários. Seria uma Venezuela sem o presidente Hugo Chávez, hoje um arquiinimigo dos EUA. Deve propor, na próxima reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), um corte na produção para agitar ainda mais o mercado onde o petróleo já está em US$ 70.

Apesar das sanções a que foi submetida pela acusação de envolvimento no atentado terrorista contra um avião da PanAm que matou 270 pessoas em 21 de dezembro de 1988, a Líbia continuou vendendo seu petróleo ao Ocidente, o que era de interesse mútuo. Mas a indústria petrolífera líbia tinha dificuldades para obter tecnologia.

Na quinta-feira passada, o governo do Equador tomou as propriedades da companhia de petróleo americana Occidental. Em 1º de maio, o novo presidente da Bolívia, Evo Morales, estatizou o petróleo e o gás. E o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está obrigando as empresas de petróleo estrangeiras a fechar acordos com a estatal PdVSA (Petróleos de Venezuela S. A.) em que esta fica com 60% do negócio.

Em viagem pelo Norte da África, na Líbia, Chávez fez suas habituais acusações aos EUA mas Kadafi preferiu manter distância prudente. Hoje é aliado dos EUA e parece muito satisfeito com isso.

segunda-feira, 22 de maio de 2006

EUA ameaçam processar jornalistas que publiquem informações confidenciais

Os jornalistas americanos que publiquem informações sigilosas podem ser processados com base na segurança nacional, advertiu hoje o ministro da Justiça dos Estados Unidos, Alberto Gonzales. No momento, os alvos podem ser os jornalistas do New York Times que revelaram o esquema de escuta e monitoramento de ligações telefônicas pela Agência de Segurança Nacional.

O ministro, que no sistema político americano acumula o cargo de procurador-geral, admitiu que podem ser rastreadas ligações telefônicas de jornalistas no curso de uma investigação sobre vazamento de informações secretas. Mas afirmou que isto nunca será feito indiscriminadamente.

"Temos a obrigação de aplicar a lei. Temos a obrigação de proteger a segurança nacional", justificou Gonzales, autor do parecer usado para manter indenifidamente centenas de prisioneiros da guerra contra o terror como "combatentes ilegais" para lhes negar os direitos garantidos pelas Convenções de Genebra, como uma acusação formal e um julgamento justo.

Nos últimos meses, jornalistas têm sido intimados a depor sobre vazamentos de informações como a revelação da identidade de uma agente secreta e do programa de monitoramento de telefones da Agência de Segurança Nacional.

A diretora executiva do Comitê de Repórteres pela Liberdade de Imprensa, Lucy Dalglish, acredita que o ministro-procurador-geral estava falando da Lei de Espionagem, de 1917, que nunca foi usada contra jornalistas: "Não consigo imaginar uma ducha fria maior na liberdade de expressão e no direito do público de saber o que o governo está fazendo - dois baluartes da democracia - do que processar repórteres."

É mais um sinal do macartismo (referência ao senador Joe McCarthy, que criou a Comissão de Atividades Antiamericanas para perseguir comunistas de 1950 a 1956, no início da Guerra Fria) que se abateu sobre a sociedade americana depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Há uma clara erosão dos direitos civis, com o Estado, sob o comando do governo George W. Bush, atropelando as garantias constitucionais dos cidadãos e violendo os direitos humanos dos presos sob suspeita de terrorismo.

Fuga para qualidade derruba bolsas no mundo inteiro

Investidores do mundo inteiro saíram hoje dos mercados de ações para opções mais seguras como bônus governamentais de países ricos, agravando as perdas registradas na semana passada nas principais bolsas de valores do mundo. A situação foi mais grave nos chamados países emergentes, como Índia, Rússia, Turquia e Brasil, que podem perder capital com uma alta de juros nos Estados Unidos.

Na Europa, os ganhos de 2006 se evaporaram com a volatilidade do mercado, que caiu mais de 2%.

O índice de mercados emergentes MSCI apresentou seu décimo dia consecutivo de queda, o que não acontecia desde a crise da Ásia de 1997-98.

A Bolsa de Mumbai (ex-Bombaim), na Índia, chegou a cair 10%. O pregão foi interrompido. No fechamento, a queda foi de 4,2%. Em Moscou, a bolsa perdeu em média 9,1% e, na Turquia, 8,3%. A Bolsa de São Paulo chegou a cair 4,5% mas recuperou parte das perdas, fechando em -3,28%.

"Há uma grande demanda por proteção", comentou Gerry Folwer, estrategista do Citigroup. "Na semana passada, os investidores e analistas acreditavam que a queda era temporária". Agora, o mercado se pergunta se o cenário internacional extremamente favorável dos últimos anos, com juros baixos na maioria dos países, está no fim.

Para David Spegel, estrategista de mercados emergentes do banco holandês ING, "é uma correção saudável. O mercado está sobrevalorizado e havia muita especulação."

Já Rafael de la Fuente, estrategista do banco francês BNP Paribas, observou que "o Brasil era um dos mercados mais procurados, então deve cair mais. Mas os fundamentos são atraentes. Não esperamos que a queda vá muito longe".

A tendência de queda vinha da semana passada. Hoje começou pela Ásia, onde um relatório do banco central da China indicou que pretende conter o rápido crescimento do crédito. No Japão, a Bolsa de Tóquio caiu 1,8%, com o índice Nikkei fechando abaixo de 16 mil pontos pela primeira vez em dois meses.

Na opinião de Frederick Kempe, do jornal The Wall St. Journal, há três anos os investidores têm tantos lucros nos mercados emergentes que se esqueceram que são muito mais arriscados. Ele prevê que os próximos meses serão de alta volatilidade.

Há quatro anos, argumenta Kempe, ex-editor do WSJ Europe, a economia mundial cresce em torno de 4% ao ano graças à estabilidade de preços, ao dinamismo da economia americana e à riqueza produzida nos chamados mercados emergentes. Para este ano, o FMI projeta um crescimento de 4,9%. Mas nas últimas duas semanas, quando o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova Iorque, caiu 2,1%, o índice de mercados emergentes do banco Morgan Stanley baixou 11%.

Um dos fatores negativos pressionando o mercado é a alta dos preços de energia, puxados pelo petróleo, por causa do aumento do risco geopolítico em grandes exportadores como Irã, Iraque, Arábia Saudita, Rússia, Venezuela e Nigéria.

O Irã está sob ameaça até mesmo de um bombardeio aéreo americano contra suas instalações nucleares, por suspeita de que esteja desenvolvendo armas atômicas. No Iraque, o primeiro governo permanente desde a queda de Saddam Hussein, em abril de 2003, assumiu no sábado e agora precisa provar que tem condições de controlar o terrorismo e a violência, num país onde morrem 20 a 30 pessoas por dia. A Arábia Saudita vive sob o risco permanente de ações de fundamentalistas muçulmanos.

Na Rússia, o presidente Vladimir Putin interveio em empresas de energia numa tentativa de restaurar pelo menos parte do poder do Kremlin da era soviética; as ações da empresa estatal Gazprom puxaram a queda de hoje em Moscou, com 12%. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está numa disputa permanente com os EUA, conta os interesses americanos na América Latina. Na Nigéria, rebeldes fazem atos de sabotagem na região produtora de petróleo no Delta do Rio Níger.

Como a instabilidade nestes países não vai diminuir num momento em que a oferta de petróleo no mercado internacional mal supera a demanda, o preço do petróleo provoca inflação. Para conter os preços, os bancos centrais elevam os juros, desestimulando as atividades econômicas.

Uma das preocupações é que Ben Bernanke, novo presidente do Federal Reserve Board (Fed), o banco central dos EUA, queira afirmar suas credenciais como rigoroso no combate à inflação, comprometendo o crescimento da economia americana, que já dura cinco anos.

Além disso, há o risco de estouro da bolha especulativa nos mercados imobiliários, superaquecidos em vários países do mundo por causa das baixas taxas de juros.

Outra ameaça para os mercados emergentes é uma possível queda nos preços das commodities, os produtos primários que constituem boa parte das exportações destes países. O economista Stephen Roach, do banco Morgan Stanley, um dos mais pessimistas de Wall Street, disse recentemente que "ativos-bolhas dominaram os mercados financeiros nos últimos seis anos. Agora estamos no meio de outra bolha - das commodities. Ela vai estourar. A questão é quando".

Roach entende que os preços das commodities seguem uma curva como a das ações de empresas da Internet no final dos anos 90. O ouro caiu hoje US$ 1,40, para US% 656,30. O preço do cobre também baixou. Ele admite que os bancos centrais estão atentos ao combate à inflação mas acredita que esta "é a batalha de ontem". Os juros nos países ricos ficaram tão baixos durante tanto tempo que criaram um ciclo de bolhas especulativas capaz de minar a luta contra a inflação.

Uma questão importante e se pelo menos alguns mercados emergentes atingiram um grau de maturidade que os emancipa. A China, por exemplo, ainda é um país emergente? Claro que tem miséria e atraso mas nada faz supor que o ritmo de sua economia perca o dinamismo nas próximas décadas.

Na sociedade da informação, com a economia baseada no conhecimento, os dois países com mais de 1 bilhão de habitantes marcham inexoravelmente para se tornarem potências mundiais.

A Índia ainda não chegou lá embora siga com perseverança o caminho da China. Por isso, a Bolsa de Mumbai chegou a cair 10% hoje. O Brasil, a Rússia e a Turquia também não. Mas a China foi menos abalada. É sem dúvida um pólo gerador de crescimento na economia mundial.

Se os EUA entrarem em crise, a economia chinesa, que tem saldo de mais de US$ 200 bilhões por ano vendendo para os americanos, vai sentir. Mas o mercado asiático já é hoje uma alternativa à Europa e aos EUA. Assim como submergiu os emergentes em 1997-98, a Ásia pode ser a locomotiva da economia mundial quando os EUA tiveram de arrumar suas contas e reduzir os déficits comercial e orçamentário.

EUA e aliados matam 200 em cinco dias no Afeganistão

Em uma violenta contra-ofensiva depois dos ataques da milícia dos Talebã (estudantes, em pachtune), forças da aliança liderada pelos Estados Unidos mataram mais 80 pessoas no Sul do Afeganistão nesta segunda-feira. A maioria seria supostamente de rebeldes talebã. Mas pelo menos 30 civis foram mortos, informou o governo local. O total de mortos desde quarta-feira sobe para mais de 200.

Um comunicado da coalizão afirma que 20 rebeldes foram mortos na vila de Azizi, em Candahar, principal centro de atuação dos talebã. As mortes de outros 80 rebeldes não estariam confirmadas.

Para o porta-voz das forças americanas, general Tom Collins, os civis morreram porque, quando atacados, os rebeldes tentam se proteger misturando-se com a população.

domingo, 21 de maio de 2006

Montenegro aprova independência

Os primeiros resultados não-oficiais indicam que a república de Montenegro votou pela independência de sua união com a Sérvia. Eram as duas últimas das seis repúblicas que formaram a moderna Iugoslávia em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, que continuavam unidas.

Por um acordo entre as partes firmado pela União Européia, a independência exige 55% dos votos. As projeções iniciais davam 55,3% para a independência. Apurados mais de 90% dos votos, a independência vence por 55,5% a 43%.

Montenegro vota em plebiscito sobre independência

O último capítulo da divisão da Iugoslávia pode ser escrita hoje, quando a pequena república de Montenegro, de menos de 700 mil habitantes, vota para decidir se permanece federada à Sérvia ou se torna independente. Por um acordo mediado pela União Européia, o movimento pela independência precisa de 55% dos votos.

Os dois lados confiam na vitória. A campanha pela independência é liderada pelo primeiro-ministro Milo Djukanovic, com a promessa de adesão mais rápida à UE e uma economia mais forte. Já a oposição alega que os fortes laços econômicos, culturais e familiares com a Sérvia serão rompidos.

Como a população é pequena, o plebiscito pode ser decidido pelos montenegrinos que moram no exterior. A diáspora pode decidir o futuro da república. Faz quase 90 anos que Montenegro foi independente pela última vez, no final da Primeira Guerra Mundial.

A dissolução da Iugoslávia era esperada desde o morte do marechal Josip Broz Tito, em 1980. Tito liderou a resistência comunista contra a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Recriou a Iugoslávia como uma federação de seis repúblicas onde a ideologia internacionalista do Partido Comunista sufocava os nacionalismos.

Mas foi a ascensão do sérvio Slobodan Milosevic à liderança do PC iugoslavo em 1986 que levou ao desmembramento do país. Apontado como um novo Tito, Milosevic foi o anti-Tito. Com o declíno da ideologia comunista, reacendeu o nacionalismo sérvio para se fortalecer no poder, deflagrando a série de guerras civis que dividiram a Iugoslávia.

Em 1987, em discurso na então província autônoma sérvia do Kossovo, onde 90% da população era albanesa e cerca de 10% sérvia, afirmou que os sérvios não seriam mais humilhados por ninguém. Em 1989, com a ameaça de guerra civil, Milosevic submeteu o Kossovo a um total controle sérvio.

Em 1991, as repúblicas da Eslovênia e da Croácia declararam independência, sendo atacadas pelo Exército Federal da Iugoslávia, dominado pelos sérvios, enquanto a Macedônia conseguiu se separar pacificamente.

A guerra na Croácia foi especialmente violenta, marcada por atrocidadades. Mas foi uma amostra do que seria a secessão da mais misturada etnicamente das repúblicas iugoslavas. A Bósnia-Herzegovina, dividida entre 44% de bósnios muçulmanos, 31% de sérvios cristãos ortodoxos e pelo menos 25% de croatas católicos, declarou sua independência em março de 1992.

A guerra da Bósnia durou três anos e marcou o primeiro fracasso da política externa e de segurança da UE, adotada pelo Tratado de Maastricht, em dezembro de 1991. Mais de 200 mil pessoas foram mortas e 2 milhões fugiram de casa. A capital, Sarajevo, ficou a maior parte do tempo sitiada. Foi alvo dos piores bombardeios realizados na Europa após a Segunda Guerra Mundial.

Pela primeira vez desde 1945, prisioineiros foram colocados em campos de concentração. A tortura e o estupro tornaram-se armas de guerra e de "purificação étnica".

Depois do massacre de Srebrenica, em julho de 1995, quando os sérvios mataram 8 mil homens adultos numa cidade teoricamente sobre a proteção das Nações Unidos, o Exército da Croácia, treinado e armado pelos EUA, recuperou o enclave sérvio de Krajina, derrubando o mito da invencibilidade sérvia.

Com maior equilíbrio no teatro de operações, surgiam as condições para os acordos de paz negociados em Dayton, nos EUA, em 1995.

Mas o Kossovo, onde tudo começou ficou de fora. Era apenas uma parte da Sérvia. Não estava assim sujeito ao direito internacional. Disto se aproveitou Milosevic para perseguir a maioria albanesa.

Em 1996, nasceu o Exército de Libertação do Kossovo. O líder sérvio aumentou a repressão e a "purificação étnica", levando a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental, liderada pelos Estados Unidos, a intervir militarmente, em 24 de março de 1999.

Oficialmente, esta foi a primeira guerra da OTAN, que festejava seus 50 anos. Mas a estrutura da organização fora usada na Guerra do Iraque (1991) para expulsar os iraquianos no Kuwait e sua Força Aérea contra os sérvios na Guerra da Bósnia.

Depois de 78 dias de bombardeio, a Sérvia se rendeu, concordando em retirar suas forças do Kossovo.

Milosevic ainda resistiu até 5 de outubro de 2000, quando caiu em meio a uma revolta popular. Em 28 de junho de 2001, ele foi enviado para Haia, na Holanda, para responder por crimes de guerra perante o Tribunal Internacional para a Antiga Iugoslávia. Em 11 de março deste ano, foi encontrado morto em sua cela.