A companhia de petróleo americana Chevron retirou seus executivos da Venezuela depois que dois funcionários foram presos numa disputa contratual com a empresa estatal Petróleos de Venezuela S. A. (PdVSA), noticiou a agência Reuters. A Chevron explora petróleo na Venezuela em associação com a PdVSA e declarou que não pretende deixar o país.
Foi a primeira batida policial em companhias de petróleo estrangeiras desde um expurgo da ditadura de Nicolás Maduro em que mais de 80 executivos da PdVSA e empresários associados foram presos sob acusação de corrupção desde o ano passado.
Os escritórios da Chevron na cidade de Puerto la Cruz, onde trabalham cerca de 150 empregados, foram revistados. Uns 30 executivos foram retirados da Venezuela.
Os dois funcionários da Chevron detidos podem ser acusados de traição por se negar a assinar um contrato de fornecimento de peças de uma fornalha preparado por executivos da PdVSA. Eles alegam que não houve concorrência e que os preços eram muito altos.
Em entrevista na sede das Nações Unidas em Nova York, o ministro do Exterior da Venezuela, Jorge Arreaza, atribuiu as prisões à luta contra a corrupção: "Na nossa indústria do petróleo e nas suas relações com outros países, havia corrupção. As decisões da procuradoria são baseadas em investigações sérias de combate à corrupção. Estas duas pessoas envolvidas têm o direito de se defender no devido processo legal."
A retirada dos executivos é um sinal evidente de que a Chevron não acredita na lisura do processo numa ditadura como a Venezuela, onde a Justiça não é independente, está sob o controle do Poder Executivo. "A decisão lógica seria se entregar às autoridades e provar sua inocência e não fugir", ironizou o chanceler venezuelano.
Em nota, a Chevron declarou seguir "um código de ética empresarial que inclui o total respeito pelas leis dos Estados Unidos e da Venezuela". A empresa não pretende sair do país. Já enfrentou prisão de executivos na Indonésia, em 2013. Aguarda a estabilização da Venezuela, país com as maiores reservas de petróleo comprovadas do mundo.
Diante do colapso da economia da Venezuela sob Maduro, as empresas estrangeiras têm cada vez mais dificuldade para manter funcionários no país à espera de dias melhores e um governo menos catastrófico. Além dos contratos suspeitos, há hiperinflação e desabastecimento generalizados.
Com faturamento de US$ 135 bilhões em 2017, a Chevron é a sétima maior empresa privada de petróleo do mundo. Na Venezuela, é sócia minoritária da PdVSA em cinco projetos. O lucro caiu 18% no ano passado para US$ 329 milhões.
No momento, a opção das empresas estrangeiras é vender seus ativos muito abaixo do valor normal ou continuar tendo prejuízos operacionais e agora ainda correr o risco de ter funcionários presos.
A PdVSA não escapa da crise venezuelana. Sua produção caiu 33% num ano para 1,51 milhão de barris por dia. É a menor em 33 anos. O combate à corrupção começou com a nomeação do general Manuel Quevedo como ministro do Petróleo e presidente da PdVSA, em 26 de novembro de 2017.
A empresa espanhola Repsol deu baixa em US$ 1 bilhão de seus ativos na Venezuela. A italiana ENI tem uma dívida não paga de 500 milhões de euros (US$ 615 milhões) com a PdVSA. A Schlumberger deu baixa de US$ 938 milhões em seus ativos venezuelanos, enquanto a Halliburton chegou a US$ 959 milhões em dois anos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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