Pelo menos 13 militantes islamistas, três soldados e quatro civis morreram numa operação do Exército da Índia no Vale da Caxemira contra grupos que lutam para que a região seja integrada ao Paquistão por ter maioria muçulmana. Foi o maior número de mortos no conflito num dia nos últimos anos.
Outras 70 pessoas saíram feridas na ação militar no distrito de Shopian. O Exército declarou que foi um sucesso: "É um dia especial para nossas forças", festejou o general A. K. Bhatt.
A Caxemira é uma região disputada entre a Índia e o Paquistão, inimigos históricos. Quando os dois países se tornaram independentes do Império Britânico, em agosto de 1947, os líderes das diversas regiões tiveram o direito de escolher onde ficariam.
Com uma exceção, as regiões de maioria muçulmana formaram o Paquistão e as de maioria hindu ficaram na Índia. O marajá Hari Singh, príncipe do estado de Jamu e Caxemira, preferiu se integrar à Índia.
Desde a independência, o Paquistão defende a realização de um plebiscito para que a população legal decida se gostaria de sair da Índia. Hoje uma parte da população defende a independência total da Caxemira. A Índia considera uma questão interna. Nega-se a internacionalizar o problema e levar para foros internacionais como a ONU.
Duas das três guerras indo-paquistanesas, em 1947 e 1965, foram causadas pela disputa pela Caxemira. A terceira, em 1971, foi a Guerra da Independência de Bangladesh ou República de Bengala.
Os dois inimigos históricos são potências nucleares assumidas oficialmente desde maio de 1998, mas fizeram seus primeiros testes nucleares décadas antes, a Índia em 1974, com ajuda da União Soviética, e o Paquistão em 1975, com apoio da aliada China.
As armas nucleares tiveram um efeito dissuasório. Desde que dominaram a bomba atômica, Índia e Paquistão não entraram mais em guerra, mas também não chegaram a um acordo de paz. A partir de 1989, grupos armados muçulmanos entraram na luta contra o que chamam de "ocupação indiana".
Quando começa o degelo, na primavera no Hemisfério Norte, os dois países se enfrentam ao longo de sua fronteira disputada. O conflito mais sério foi em 1999 em Kargil, situada a 205 quilômetros de Srinagar, a capital da Caxemira. É uma região gelada de 160 km de extensão, com postos militares a altitudes de até 5.485 metros. Pelo menos 1,2 mil pessoas morreram.
Em 2016, a insurgência se inflamou com a morte de Burhan Muzaffar Wani, um líder carismático. No domingo, houve um tiroteio na vila de Draged-Sugan. Sete milicianos foram mortos. Uma multidão saiu às ruas para protestar e dar cobertura à fuga dos rebeldes, pertencentes aos grupos Hizbul Mujahedin (Partido dos Guerreiros Santos) e Lashkar e-Taiba (Exército dos Puros).
O Exército da Índia atirou contra a multidão com balas de borracha, munição letal e gás lacrimogênio. A Internet foi desligada para impedir maior articulação dos manifestantes. Também houve um tiroteio ao redor da vila de Kachdora.
"Enquanto um caxemira estiver vivo, vamos apoiar os militantes", afirmou no hospital o estudante Numaan Ahmad Malik, de 27 anos, ferido no protesto.
No ano passado, de acordo com as autoridades indianas, 213 milicianos foram mortos, o maior número em sete anos.
"Para cada dez mortos, mais 20 pessoas vão aderir à luta até que esta terra seja libertada da ocupação indiana", desafiou Imtiyaz Ahmad, um manifestante de Kachdora.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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