Centenas de milhares de pessoas marcharam hoje na capital da Nicarágua em protesto contra o presidente Daniel Ortega convocado pelo bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez. Com a morte de 42 pessoas nas manifestações iniciadas em 18 de abril, de acordo com o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos, o movimento exige agora o fim do governo assassino, noticiou o jornal El País.
"Queremos paz! Queremos paz!", bradava a multidão ao seguir pela estrada para Masaya rumo à catedral metropolitana, onde houve um ato público. Além dos fiéis, participaram feministas, homossexuais, familiares de vítimas da repressão e camponeses que são contra a construção de um canal interoceânico pelo magnata chinês Wang Jing, que recebeu uma concessão do governo.
Os protestos começaram quando o governo anunciou um aumento das contribuições para a Previdência Social e uma redução de 5% nas pensões e aposentadorias. Quatro dias depois, no domingo, 22 de abril, Ortega recuou e revogou a reforma, mas, diante da violência repressão, o governo perdeu sua escassa legitimidade.
A cúpula da Igreja Católica critica o discurso oficial da vice-presidente Rosario Murillo, mulher de Ortega, acusando-a de manipular a religião com um discurso que se apresenta como "cristão, socialista e solidário", mas para a Igreja é uma mensagem "demoníaca, baseada na inveja e em todo o tipo de maldade".
Um dos nove de los nueve fidelitos, os comandantes da Revolução Sandinista, que derrubou o ditador Anastasio Somoza Debayle em 1979, Daniel Ortega Saavedra comandou a Nicarágua como líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) até ser derrotado por Violeta Chamorro em 1990, viúva do jornalista Pedro Joaquín Chamorro, assassinado por Somoza.
Desde que voltou ao poder pelo voto em 2007, em aliança com a velha oligarquia somozista e a Venezuela de Hugo Chavez, Ortega tratou de tomar conta da máquina do Estado para se eternizar no poder. Nas ruas hoje, é comparado a Somoza. É mais um líder da esquerda radical latino-americana que cai em desgraça.
"Bem-aventurados os que têm sede de justiça porque serão saciados!", declarou o cardeal Leopoldo Brenes ao iniciar a cerimônia. O ato foi sobretudo uma homenagem aos jovens assassinados nas últimas semanas pela polícia e por grupos paramilitares governistas.
O jornalista Miguel Angel Gahona foi morto com um tiro na cabeça quando transmitia uma manifestação ao vivo via Facebook na cidade litorânea de Bluefields, na costa atlântica.
A Igreja Católica convocou a manifestação deste domingo "para mostrar nossa fé e nosso amor pela Nicarágua", escreveu no Twitter o bispo auxiliar de Manágua. Num sinal de que rejeita concessões a Ortega, Silvio Báez acredita que "o caminho está aberto para construir de forma pacífica e cívica um novo país".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 29 de abril de 2018
Total de mortos na revolta contra Ortega chega a 42 na Nicarágua
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