Um bombardeio com armas químicas matou pelo menos 48 pessoas e intoxicou outras 500 ontem à noite na cidade de Duma, a maior da região de Guta Oriental, último reduto rebelde na região de Damasco, a capital da Síria. É o pior ataque químico desde o uso de gás sarin na vila de Khan Cheikhun, no Norte do país. Em ambos os casos, a responsabilidade é atribuída à ditadura de Bachar Assad.
Hoje ao meio-dia, o regime sírio anunciou um acordo para a retirada dos últimos combatentes da milícia extremista muçulmana Jaish al-Islam (Exército do Islã). Os rebeldes ainda não confirmaram se saem mesmo.
Desde a ofensiva das tropas leais ao regime e aliados, que incluem milícias xiitas apoiadas pelo Irã e a Força Aérea da Rússia, em 18 de fevereiro, cerca de 1,6 mil civis foram mortos e milhares de rebeldes se renderam ou foram transferidos com sua família para Idlibe, no Noroeste da Síria. Até agora, o grupo Jaish al-Islam havia rejeitado as ofertas para abandonar Duma.
Cerca de 500 pessoas foram socorridas sábado à noite nos hospitais de Duma, revelou a Sociedade Médica Sírio-Americana (SAMS, do inglês), uma organização não governamental que mantém médicos e enfermeiros no campo de batalha.
As vítimas apresentavam sintomas de "exposição a um agente químico", como dificuldades respiratórias, redução da frequência cardíaca e uma sensação de queimação nos olhos. "Uma espuma saía de suas bocas e eles exalavam um odor semelhante ao do cloro", acrescentou o comunicado da SAMS. O agente tóxico não foi identificado.
Durante os sete anos de uma guerra civil brutal, a ditadura de Assad atacou várias vezes com armas químicas. O pior ataque foi com gás sarin contra Guta em 21 de agosto de 2013, com um total de 1.729. Na época, o então presidente Barack Obama, que ameaçara bombardear a Síria se Assad usasse armas químicas, não retaliou. A Rússia propôs um acordo para acabar com o arsenal químico sírio. Foi uma manobra para proteger o aliado.
Diante da hesitação de Obama, em 30 de setembro de 2015, a Rússia interveio na guerra civil da Síria para sustentar Assad, que desde então virou o jogo e hoje controla todas as grandes cidades e a maior parte do território. As exceções são uma região do Norte invadida pela Turquia para atacar rebeldes curdos e uma região tomada da organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante por uma milícia árabe-curda apoiada pelos Estados Unidos.
Nos últimos dias, o presidente Donald Trump anunciou a retirada das forças americanas da Síria. Sob a proteção da Rússia, Assad deve ter concluído que não haveria maior risco de voltar a usar armas químicas. Mas Trump, que bombardeou a base aérea de onde partiu o ataque químico a Khan Cheikhun, ameaça retaliar mais uma vez.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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