Antiliberal, antieuropeu, antissemita e anti-imigrantes, Viktor Orban é o protótipo de líder do neopopulismo nacionalista que ressuscita o fantasma do fascismo na Europa Oriental pós-comunista. Acaba de ser reeleito para um terceiro mandado consecutivo de primeiro-ministro da Hungria.
Com 93% dos votos apurados, a aliança de seu partido, a União Cívica Húngara (Fidesz), com o Partido Popular Democrata-Cristão (KDNP) deve eleger mais de 133 dos 199 deputados da Assembleia Nacional, garantindo a maioria de dois terços necessárias para mudar a Constituição.
No discurso da vitória, Orban afirmou que o resultado dava aos húngaros "a oportunidade de se defender e de defender a Hungria". Os inimigos? Estrangeiros, muçulmanos, a burocracia de Bruxelas, o liberalismo ocidental e o bilionário húngaro naturalizado americano George Soros.
O Fidesz nasceu em 1988, fundado por jovens estudantes na época da abertura dos regimes comunistas da Europa Oriental promovida pelo líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev. A Hungria tinha o regime mais liberal e a economia mais aberta do Bloco Soviético. Foi o país que abriu a cortina de ferro, em 2 de maio de 1989, meses antes da queda do Muro de Berlim.
Depois da derrota nas eleições de 1994, Orban assumiu a liderança do partido e o levou para uma linha mais conservadora, nacionalista e populista. No último comício, na sexta-feira passada, o tema central foi o fantasma do estrangeiros: "A imigração é como uma ferrugem que lenta mas seguramente vai consumir a Hungria."
Nos últimos anos, ele não aceitou receber uma parcela dos refugiados que entraram na União Europeia proporcional à população. É contra o aprofundamento da integração europeia e se aproximar do ditador da Rússia, Vladimir Putin, que tentou fazer um acordo comercial bilateral para romper com as regras da UE.
Em segundo lugar, com 20% dos votos, ficou o partido nacionalista Jobbik, que marchou para o centro e formaria governo com o Partido Socialista, que teve 12%, e o partido verde, quarto colocado com 7%, se Orban não tivesse maioria.
O governo ganhou nas zonas rurais e nas pequenas cidades, enquanto as oposições conquistaram a maioria das cadeiras da capital, Budapeste.
Tanto o líder do Jobbik, Gabor Vona, quanto o socialista, Gyula Molnar, renunciaram. "O objetivo do Jobbik, ganhar as eleições e forçar uma mudança no governo, não foi atingido. A Fidesz ganhou. Ganhou de novo", lamentou Vona. "Nós nos consideramos responsáveis pelo que aconteceu e entendemos a decisão dos eleitores", declarou Molnar.
A vitória de Orban é uma derrota para a sociedade civil, grupos de defesa dos direitos humanos, a luta contra a corrupção e os meios de comunicação independentes. O primeiro-ministro promete "acertar as contas morais, políticas e legais" com seus adversários.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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