sexta-feira, 27 de abril de 2018

China e Índia fazem encontro de cúpula dos países do futuro

Enquanto o mundo se volta para o ditador sinistro da Coreia do Norte, que trava a última batalha da Guerra Fria, outro encontro de cúpula, talvez muito mais importante, acontece discretamente. O ditador Xi Jinping recebe hoje e amanhã, em Wuhan, na China, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.

"O dragão chinês e o elefante indiano não devem brigar entre si, mas dançar um com o outro", declarou no mês passado o ministro do Exterior chinês, Wang Yi, chamando a atenção para a necessidade de evitar um conflito na sua disputa fronteira no Himalaia.

Com as duas maiores populações do planeta, os únicos países com mais de 1 bilhão de habitantes estão entre os que mais crescem no mundo. Avançam para se tornar as economias dominantes do século 21 ao lado dos Estados Unidos e talvez da Europa. A rivalidade é inevitável.

Se a Índia é a maior democracia do mundo, na China, Xi acaba de consolidar um poder ditatorial sem comparação desde Mao Tsé-tung, no momento em que o país se firmar como superpotência econômica, política e militar.

No começo da Guerra Fria, os dois países da Ásia, grandes e pobres, forjaram laços no repúdio ao colonialismo ocidental, mas essa aliança frágil se rompeu em 1962, quando a China derrotou a Índia numa guerra de um mês.

Quando a China fez seu primeiro teste nuclear, em 1964, a Índia decidiu iniciar um programa nuclear. Testou sua primeira bomba atômica em 1974. Com ajuda da China, o vizinho e inimigo histórico Paquistão fez o mesmo em 1975. Em maio de 1998, Índia e Paquistão assumiram seu status de potências nucleares.

A China tem um cordão de pérolas ao redor da Índia, países aliados onde tem bases militares ou direito de usar portos: Paquistão, Bangladesh, Mianmar, Sri Lanka e Ilhas Maldivas. Por sua vez, a Índia tem alianças com o Japão e o Vietnã, além de uma parceria estratégica um tanto indefinida com os EUA.

A expansão chinesa naval e por terra, com a Iniciativa um Cinturão, uma Estrada, o Novo Caminho da Seda, seduzindo os países da Ásia Central com grandes investimentos em infraestrutura, é um desafio a mais para a Índia.

Na semana passada, a Força Aérea da Índia concluiu treinamento para uma guerra nuclear nas fronteiras com a China e o Paquistão, onde o armistício deixou uma linha de controle de 4.057 quilômetros, como há não uma fronteira definida e aceita.

A Índia protesta contra o corredor econômico China-Paquistão, uma série de estradas, usinas elétricas, parques industriais e zonas econômicas especiais que incluem a Caxemira em poder do Paquistão, que a Índia reivindica como parte de seu território. O Paquistão reivindica a realização de um plebiscito, na Caxemira indiana, para incorporá-la, uma vez que a maioria da população é muçulmana.

Outro problema é o refúgio que a Índia dá ao 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, o líder espiritual do budismo tibetano ou lamaísmo, desde que ele fugiu do Tibete, parte da China, em 1959, depois do fracasso de uma revolta contra o regime comunista, que conquistara militarmente o Tibete em 1951.

O Tibete era parte do Império Chinês desde o século 13, mas havia se tornado independente em 1912, quando Sun Yat-sen proclamou a República da China. Um dos objetivos centrais da revolução comunista liderada por Mao, vitoriosa em 1949, era restaurar a "integridade territorial" da China, invadida e humilhada pelas potências ocidentais desde a Primeira Guerra do Ópio (1839-42) e pelo Japão em 1931 e 1937.

Em 2017, China e Índia estiveram de prontidão frente a frente em Planalto de Doklam, uma região do reino do Butão, um protetorado indiano com uma disputa de fronteiras com a China. Quando o regime comunista chinês decidiu ampliar uma estrada, em junho, o Exército Real do Butão pediu ajuda a Nova Déli.

O impasse durou dois e meio. Acabou antes da reunião de cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) marcada para setembro de 2017 na China. Modi ameaçava boicotar o encontro. Revelaria a inutilidade do grupo, se dois países estivessem à beira da guerra.

Agora, Xi quer a presença de Modi na reunião de Organização de Cooperação de Xangai (China, Russia, Casaquistão, Paquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Usbequistão), uma associação de regimes autoritários liderada por Beijim. E conta com a Índia para defender a globalização e combater o protecionismo dos EUA de Donald Trump.

No fim do encontro, os dois líderes prometeram manter "a paz e a tranquilidade" na fronteira em disputa, fortalecer a "comunicação estratégica" e "resolver todas as nossas diferenças através de discussões pacífica", declarou o ministro do Exterior indiano, Vijay Gokhale.

Xi e Modi trocaram amabilidades e sorriram para as câmeras, mas a rivalidade geopolítica, os conflitos de fronteira e as diferenças ideológicas vão impedir a dança do dragão e o elefante enquanto os dois disputam poder a influência política no Oceano Índico.

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