O líder da revolta popular que derrubou o presidente Serge Sarkissian, deputado Nikol Pashinian, foi nomeado hoje primeiro-ministro da ex-república soviética da Armênia. Sua indicação deve ser confirmada hoje pelo Parlamento, em Ierevã, mas vai exigir votos de pelo menos 13 deputados de partidos ligados ao antigo governo.
Depois de ser presidente por dez anos, sem direito à reeleição, Sarkissian durou apenas seis dias no cargo de primeiro-ministro e caiu há uma semana em meio a uma onda de 11 dias de protestos. Quando aumentou os poderes do primeiro-ministro, ainda como presidente, prometeu nunca concorrer ao cargo.
Pashinian ameaçava manter as manifestações até a indicação de um oposicionista para chefiar o novo governo.
Em 2008, Sarkissian reprimiu com violência protestos contra sua eleição, decretou estado de emergência e colocou o então líder da oposição, Levon Ter-Petrossian, em prisão domiciliar. Dez pessoas foram mortas.
Desta vez, centenas de manifestantes foram presos, inclusive Pashinian, mas soltos em seguida. Quando 200 soldados da tropa de elite Boinas Azuis participaram desarmados de um protesto, em 23 de abril, o primeiro-ministro renunciou à chefia do governo.
A queda de Sarkissian depois de 11 dias seguidos de protestos reflete uma nova realidade nas antigas repúblicas da União Soviética. Desde a Revolução da Praça Maidan, na Ucrânia, em fevereiro de 2014, os governos, mesmo na Rússia e na Bielorrússia, relutam em reprimir as manifestações com muita violência, optando por um controle de massas com uma abordagem com menos confrontação.
O massacre na Praça Maidan levou à queda do presidente Viktor Yanukovich e à intervenção militar da Rússia, à anexação da Crimeia por Vladimir Putin e a uma guerra civil no Leste da Ucrânia. A violência provocou uma revolução e uma guerra. Mais de 10 mil pessoas foram mortas e o conflito não terminou.
Até na Bielorrússia, Alexander Lukachenko teme seguir o destino de Yanukovich. Depois de reprimir com dureza os protestos contra sua reeleição em 2010, há pouco o ditador suspendeu uma proposta de cobrança de impostos dos desempregados, que chamou de "parasitas sociais". Recuou diante das manifestações de rua.
Como os regimes pós-soviéticos são basicamente autoritários e centralizados, com uma repressão menos violenta, a expectativa é de maior mobilização política.
A Armênia é na prática um satélite da Rússia, dentro da política do ditador Vladimir Putin de restaurar o poder imperial soviético, que considera as ex-repúblicas da URSS como esfera de influência de Moscou.
Quando as reformas de Mikhail Gorbachev liberaram as forças nacionalistas na antiga URSS, houve uma guerra entre a Armênia e o Azerbaijão pelo controle da região de Nagorno-Karabakh, um enclave de maioria armênia dentro do Azerbaijão criado pelas remoções forçadas promovidas pelo ditador soviético Josef Stalin.
Além do Azerbaijão, a Armênia tem um conflito histórico com a Turquia, que acusa de genocídio durante a Primeira Guerra Mundial. Venceu o Azerbaijão com o apoio decisivo da Rússia, que mantém 5 mil soldados para garantir a segurança da Armênia.
O país é membro de duas organizações internacionais dominadas pela Rússia, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (Rússia, Armênia, Bielorrúsia, Casaquistão, Tajiquistão e Quirguistão) e a União Econômica da Eurásia, com os mesmos países, menos o Tajiquistão.
Assim, é improvável que Pashinian tente tirar a Armênia da esfera de influência da Rússia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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