Depois de dez anos no poder como presidente da Armênia, Serge Sarkissian durou apenas seis dias como primeiro-ministro. Nomeado em 17 de abril, pediu demissão hoje, sob pressão de onze dias de manifestações de rua em Ierevã, capital da ex-república soviética da região do Cáucaso.
"Eu deixo o cargo de dirigente do país", declarou Sarkissian, citado pela agência oficial de notícias Armenpress.
Poucas horas antes, foi libertado o deputado Nikol Panchinian, líder do movimento popular, que mandou seus seguidores festejaram: "Cidadão comum da Armênia, você ganhou! E ninguém pode te privar desta vitória. Eu te felicito, povo vitorioso."
A festa foi na Praça da República, no centro de Ierevã, diante da sede do governo. Milhares de pessoas se reuniram, se abraçaram e dançaram em meio a bandeiras da Armênia. Em vários bairros da cidade, donos de bares abriram garrafas de vinho e ofereceram um cálice a quem passava para brindar o futuro do país, informou a Agência France Presse.
O padrão se repete nas ex-repúblicas da União Soviética: um líder eleito democraticamente se alia à oligarquia que enriqueceu com as privatizações do fim do comunismo, enquanto a maioria não tem oportunidade, o setor público não funciona e é visto como corrupto. Aí, o povo sai às ruas e faz uma revolução, mas a oligarquia dominante mantém o poder.
Presidente de 2008 a 2018, Sarkissian foi o alvo central da cólera da população armênia. Eleito primeiro-ministro depois de dois mandados como presidente, sem direito à reeleição, ele pretendia continuar no poder depois de governos medíocres.
A taxa de pobreza da Armênia aumentou de 27,6% em 2008 para 29,8% em 2016, indicam dados do Banco Mundial. A renda média por habitante ficou praticamente estagnada nos últimos dez anos. Está hoje em US$ 3.770 por ano (R$ 12.985).
Com a crise da democracia representativa em criar um mundo melhor, como em tantos outros países, "a maioria da população não confia nas autoridades nem no sistema político do país", observa o analista Iuri Navoian, presidente da organização não governamental russa Diálogo, com sede em Moscou. "As autoridades e o povo constituem duas realidades opostas."
Dentro da política do ditador da Rússia, Vladimir Putin, de restaurar o poder imperial soviético, a Armênia, faz parte do chamado "exterior próximo", referência às ex-repúblicas do "império interior" soviético. É praticamente um satélite do Kremlin e mais uma revolta popular para inquietar Putin.
Quando aprovou uma reforma constitucional em 2015 aumentando os poderes do primeiro-ministro, Sarkissian prometeu não se candidatar ao cargo. O povo nas ruas cobrou a promissória.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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