O ditador Kim Jong Un não vai exigir a retirada das forças dos Estados Unidos da Coreia do Sul para abrir mão das armas nucleares da Coreia do Norte, afirmou hoje o presidente sul-coreano, Moon Jae In. Era um obstáculo importante. Kim também acenou com a possibilidade de negociar um acordo de paz, 65 anos depois do fim da Guerra da Coreia (1950-53).
Há décadas, o regime comunista norte-coreano exigia a retirada total dos hoje 28,5 mil soldados americanos estacionados na Península Coreana; não reconhecia os governos da Coreia do Sul e do Japão, descritos como "fantoches dos EUA"; reivindicava a soberania sobre toda a Península Coreana; e só aceitava negociar diretamente com Washington.
Desde o fim da Guerra Fria e da União Soviética, em 1991, a ditadura stalinista de Pyongyang faz uma chantagem atômica. Começou usando o programa nuclear para barganhar energia e alimentos para sustentar sua economia falida.
Como os EUA jamais aceitaram a exigência de uma retirada total, as negociações não avançaram. Em décadas de negociações frustradas, a Coreia do Norte chegou a destruir o reator do Centro de Pesquisas Nucleares de Yongbion, mas, desde 2006, fez seis testes nucleares, três desde a ascensão de Kim Jong Un, em dezembro de 2011.
A expectativa de desarmamento da ditadura stalinista é a grande razão para Trump ir à Coreia do Norte. Será o primeiro encontro de cúpula dos dois países. Na Semana Santa, Trump enviou o diretor-geral da CIA (Agência Central de Inteligência) e secretário de Estado designado, Mike Pompeo, a Pyongyang para avaliar o compromisso de Kim com negociações de desarmamento nuclear.
Nos últimos dias, Trump comentou que Pompeo "estabeleceu um bom relacionamento" com o governo norte-coreano. O encontro com Kim está previsto para fim de maio ou início de junho, mas o presidente americano ainda ameaça não ir.
Ao receber ontem o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, na Casa Branca, o presidente Donald Trump ameaçou não realizar e até abandonar a esperada reunião de cúpula com Kim se a questão central da desnuclearização não estiver na mesa.
O Japão não quis ficar de fora de uma negociação que vai definir o futuro geopolítico da região. Abe pediu a Trump que fale dos japoneses sequestrados há décadas pelo regime norte-coreanos, uma questão muito importante e sensível no Japão.
Em Seul, o presidente Moon está otimista: "Os norte-coreanos não apresentaram qualquer condição inaceitável para os EUA, como a retirada das tropas americanas da Coreia do Sul. Eles só falaram sobre o fim das hostilidades contra o país e a necessidade de garantias de segurança. Os planos para o diálogo entre o Norte e os EUA devem avançar porque isto está claro."
Moon se encontra com Kim em 27 de abril. No início do mês passado, quando um enviado especial do Sul esteve com o ditador de Pyongyang, Kim teria dito que a Coreia do Norte não precisaria de armas nucleares se não se sentisse "ameaçada militarmente" e recebesse "garantias de segurança".
Em 2016, o regime norte-coreano reafirmou que os EUA deveria retirar suas tropas da Coreia se quisessem a desnuclearização da península. A mudança de posição é fundamental para o sucesso das negociações. Como lembrou Moon, mantendo a cautela, "o diabo está nos detalhes".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 19 de abril de 2018
Coreia do Norte admite desnuclearização sem retirada das forças dos EUA
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