Em uma escalada no conflito com a China capaz de levar a uma guerra comercial, o presidente Donald Trump ameaçou ontem impor tarifas de importação sobre produtos chineses no valor de US$ 100 bilhões (R$ 337 bilhões) por ano. Foi sua resposta ao anúncio chinês de impor tarifas de 25% sobre 106 produtos importados dos Estados Unidos, num valor anual de US$ 50 bilhões (R$ 168 bilhões).
Se esses anúncios eram vistos como instrumentos para negociar, ao dobrar a aposta, Trump não dá sinais de ceder: "Em vez de remediar sua má conduta, a China escolheu prejudicar nossos fazendeiros e industriais", protestou Trump.
"À luz da injusta retaliação chinesa, instruí [o representante comercial dos EUA] a considerar se seriam apropriadas tarifas adicionais de US$100 bilhões e, se tal, identificar os produtos para impor estas tarifas", acrescentou o presidente americano.
O conflito comercial começou quando Trump decidiu impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e de 15% sobre as de alumínio e, em seguida, isentou aliados dos EUA, mas não a China. O governo chinês reagiu anunciando aumento de tarifas sobre 128 produtos importados dos EUA, quase todos do setor primário, no valor de US$ 3 bilhões (R$ 10 bilhões) por ano, mas deixou claro que não tem interesse numa guerra comercial que "não interessa à China, nem aos EUA, nem à economia global".
Quando o problema parecia se encaminhar para negociações, Trump anunciou há três dias uma retaliação no valor anual de US$ 50 bilhões sobre 1.333 produtos chineses com foco em setores de alta tecnologia. Parece uma jogada para conter o desenvolvimento tecnológico chinês e manter a supremacia dos EUA como maior potência mundial. O presidente alegou que há décadas a China rouba a propriedade intelectual dos EUA.
A China respondeu rapidamente na mesma moeda. Na quarta-feira, decidiu impor tarifas no valor de US$ 50 bilhões por ano, com foco em produtos agrícolas e industriais de estados onde o Partido Republicano venceu as últimas eleições.
De olho nas eleições no meio de seu mandato, em novembro deste ano, Trump pediu ao Departamento da Agricultura que "implemente um plano para proteger nossos fazendeiros e interesses agrícolas". É uma preparação para um conflito prolongado.
Nesta sexta-feira, o Ministério do Comércio chinês repetiu que "a China não quer uma guerra comercial, mas não tem medo de travar uma guerra comercial". Está pronta a aumentar a aposta e pagar para ver. Já recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC).
O governo Trump está dividido. O secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, defende negociações para reduzir o saldo comercial chinês no comércio bilateral, que no ano passado chegou a US$ 375 bilhões (R$ 1,263 trilhão), enquanto o novo secretário de Estado, Mike Pompeo, e o novo assessor de Segurança Nacional, John Bolton, ambos da linha dura, querem confrontar a China.
A estratégia de Trump visa a reduzir um déficit comercial, que em fevereiro chegou a US$ 57,6 bilhões (R$ 194 bilhões), sendo US$ 34,7 bilhões (R$ 117 bilhões) só no comércio com a China.
No momento, o Índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, cai mais de 400 pontos por medo de uma guerra comercial entre as maiores economias do mundo, capaz de levar a economia mundial a uma nova recessão. O mercado já se acostumou com o sobe e desce. Na era Trump, a volatilidade é o normal.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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