Quase dois anos depois do início da revolução que derrubou a ditadura de Hosni Mubarak, o Egito está profundamente dividido entre os islamitas e o resto da população, sob risco de uma nova rebelião popular, de uma intervenção militar ou de uma guerra civil, adverte o ex-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica Mohamed ElBaradei, ganhador do Prêmio Nobel da Paz.
Em artigo publicado hoje no jornal inglês Financial Times, ElBaradei pergunta: "Depois de 23 meses de luta para trazer a democracia ao Egito, isto é o melhor que podemos fazer? Um presidente reivindicando poderes ditatoriais. Um parlamento cheio de islamitas. E um projeto de Constituição feito às pressas sem as garantias básicas para mulheres, cristãos e todos os egípcios?"
Na sua opinião, "o Exército, para proteger seus privilégios e evitar processos, estragou a transição pós-revolucionária. Permitiu que a Irmandade Muçulmana, interessada em tirar vantagem de seus 80 anos de organização e trabalho de campo, apressasse a realização de eleições parlamentares. O resultado foi uma vitória esmagadora para os islamitas, muito além de sua verdadeira base de poder".
Com uma Assembleia Constituinte dominada por islamitas, os partidos liberais, as minorias e outras facções da sociedade civil abandonaram o processo de redação da nova Constituição. "A assembleia produziu então um documento que viola a liberdade de expressão e a liberdade religiosa, e não controla o Poder Executivo. Também quer dar o direito de instituições religiosas de desafiar o Poder Judiciário", acrescenta o ex-diretor-geral da AIEA.
Por isso, a multidão voltou a tomar a Praça da Libertação, no Centro do Cairo, nos últimos dias e hoje cerca o palácio presidencial.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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