A governadora do Alasca, Sarah Palin, sobreviveu ao debate dos candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos.
O senador democrata Joe Biden foi mais consistente nas respostas, mostrando mais preparo para o cargo, mas Palin não perdeu feio. Essa era a maior preocupação do Partido Republicano.
Palin começou bem, sorrindo, falando uma linguagem acessível e dirigindo-se ao povo americano. Na segunda parte, quando o tema central passou da economia para política externa, ela mostrou a fragilidade de suas posições e de seu conhecimento.
Nem nas questões da crise econômica nem da guerra Palin deu qualquer resposta específica. Limitou-se a repetir clichês bem ensaiados sobre cortar impostos e gastos para criar empregos, além de ganhar as guerras.
Inevitavelmente a discussão começou com a crise econômica. A mediadora, Gwen Iffil, do Public Broadcasting System (PBS), a TV pública americana, quis saber o que seus governos fariam de diferente para atacar o problema.
Biden fez então o que foi uma característica deste debate: invocou o nome do candidato a presidente. Palin faria o mesmo. Isso afastou os dois candidatos de um confronto direto.
"O senador Obama", disse o candidato a vice-presidente na chapa democrata, "acredita que precisamos de outras medidas, de proteger o dinheiro do contribuinte, não deixando que os diretores-presidentes ganhem com o plano".
A vice de McCain apelou para seu aspecto mais forte, que é a capacidade de comunicação direta com o americano de classe média, branco, religioso e conservador: "Nossos investimentos e poupanças podem ser afetados".
Em seguida, partiu para a conhecida estratégia dos políticos para enganar os desinformados. Chegou a dizer que, "há dois anos, foi John McCain que tentou regulamentar Fannie Mae e Freddie Mac".
O democrata reagiu atirando não em Palin, mas no candidato republicano: "John McCain declarou às nove da manhã que os fundamentos da nossa economia eram sólidos e às 11h que estamos em crise econômica", ironizou Biden, insinuando que o multimilionário McCain está distante dos problemas do cidadão comum.
Sem perder a chance, Palin argumentou que "ele estava falando sobre os trabalhadores americanos". Em outra jogada dos republicanos, pretendendo se colocar acima das baixarias políticas, ela falou que McCain comportou-se como um estadista durante a crise, "deixando a política de lado, suspendendo a política e indo para Washington liderar um diálogo. É algo novo, diferente, uma nova energia".
Quem foi o responsável pela crise? "Nunca mais", respondeu Palin, tentando de descolar do passado e dos governos de George W. Bush. "Precisamos de uma fiscalização rigorosa. Não podemos viver além das nossas possibilidades", generalizou, fugindo da pergunta. Caindo em si, emendou: "Mas esta crise não é culpa do povo americano."
Também há o problema do endividamento pessoal, o déficit triplo (comercial, orçamentário e pessoal), uma das causas mais profundas e estruturais do pesadelo econômico americano. Mas isso não é assunto para um debate de campanha presidencial.
"McCain era a favor da desregulamentação e não de maior controle sobre Fannie e Freddy", retrucou Biden, insistindo em que o candidato republicano vive longe da realidade do americano médio.
Palin atacou outro tema predileto dos republicanos: o conservadorismo fiscal. "Obama votou 92 vezes contra cortes de impostos", alegou. "Isso prejudica a geração de empregos. Nos precisamos de menos impostos."
"Não é verdade", reagiu Biden. "John McCain votou 477 por aumentos de impostos no Senado e queria desregulamentar toda a economia".
"O senador McCain quer fortalecer a regulamentação", atalhou Palin, logo cortada pela apresentadora.
Joe Biden tentou então fazer seu discurso ao povo americano: "A classe média está lutando, e esse governo deu US$ 300 bilhões em cortes de impostos às grandes empresas e aos americanos muito ricos. Nós temos valores diferentes".
A vice republicana repetiu seu mantra: menos impostos, mais negócios e mais empregos.
Biden jogou sua experiência: "Noventa e cinco por cento das pequenas empresas americanas ganham menos de US$ 250 mil por anos. Não vão ganhar com nenhum corte de impostos de John McCain".
Onde cortar gastos numa época de aumento colossal do endividamento público em que os candidatos ainda prometem cortes de impostos? "Não em energia, educação e saúde. Temos de ir atrás dos sonegadores e tapar os furos na lei". Ou seja, cortar mesmo, nada. A esperança é aumentar a arrecadação pegando sonegadores.
Sarah Palin não respondeu a essa pergunta. Preferiu seguir com seu próprio discurso: "Precisamos de cortes de impostos que não afetem às pessoas. Obama cortou impostos das companhias de petróleo... Nossa tarefa é colocar o governo ao lado do povo. O senador McCain não faz nenhuma promessa que não possa cumprir... Precisamos combater a corrupção e a ganância em Wall Street."
"Mc Cain quer dar mais US$ 4 bilhões para as companhias de petróleo", contra-atacou Biden.
A mulher que já se autodefiniu com "um pitbull de batom" prosseguiu em seu discurso sobre generalidades, como um boxeador que quer ganhar tempo para ganhar o combate por pontos e não por nocaute.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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