Gangues de partidários do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, que se apresentam como veteranos da guerra pela independência do país, em 1980, embora a maioria não tenha idade para ter lutado naquela época, começaram uma campanha de intimidação em regiões do interior do país onde a oposição ganhou as eleições.
Os resultados oficiais da eleição presidencial de 29 de março ainda não foram divulgados. Mas o partido do governo, a União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Popular (ZANU-PF), que falava em segundo turno, passou a pedir a recontagem dos votos. E a tropa de choque de Mugabe entra em ação para fraudar as esperanças de uma transição pacífica no país, que já foi chamado de celeiro do Sul da África e hoje vive um colapso econômico, com inflação de mais de 100.000% ao ano e desemprego de 80%.
Desde 2000, quando o Movimento pela Mudança Democrática (MDC, do inglês) passou a ser uma ameaça real a seu poder, Mugabe mobilizou gangues de supostos veteranos de guerra para invadir terras dos fazendeiros brancos. Tentava, assim, desviar a atenção para a verdadeira luta política, acusando a oposição de ser aliada dos brancos, dos Estados Unidos e do Reino Unido,
No acordo da Lancaster House, que selou a independência da antiga Rodésia do Sul, em 1980, acabando com o regime segragacionista da minoria branca, liderado por Ian Smith, o Reino Unido se comprometeu a financiar a reforma agrária, indenizando os fazendeiros brancos que teriam terras desapropriadas para serem distribuídas entre a maioria negra. Mugabe pegou o dinheiro e distribuiu terras entre seus aliados.
Diante da situação catastrófica, o governo insiste o discurso de que o país é vítima de uma conspiração internacional para recolonizar o Zimbábue, que não receberia ajuda econômica internacional por causa do veto dos EUA e da Grã-Bretanha.
Outros líderes africanos relutam em se manifestar. Também não querem ingerência estrangeira em seus assuntos internos ou enfrentam problemas de miséria, subdesenvolvimento e concentração da renda e da terra da mesma natureza não-resolvidos depois de anos de independência.
O país-chave, líder da África negra ou subsaariana, na expressão politicamente correta, é a África do Sul. Seu presidente, Thabo Mbeki, perdeu a reeleição para a liderança do partido dominante, o Congresso Nacional Africano, principalmente por causa de sua insensibilidade social, da falta de políticas agressivas de inclusão social da maioria negra longamente deserdada pelas políticas segregacionistas do apartheid.
Mas o risco de uma onda de violência como a que assolou o Quênia depois da fraude na eleição presidencial de 27 de dezembro assusta os países vizinhos, já sobrecarregados pelos imigrantes zimbabueanos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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