terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Musharraf sofre derrota esmagadora

As projeções dos primeiros resultados indicam que o partido apoiado pelo presidente Pervez Musharraf foi amplamente derrotado nas eleições legislativas da segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008.

Os dois partidos de oposição - o Partido Popular Paquistanês, da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, assassinada após um comício em 27 de dezembro, hoje liderado pelo viúvo; e a Liga Muçulmana do Paquistão, do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif - levam ampla vantagem sobre os candidatos do general.

Eles terão de se unir para formar um governo estável. Já seria um avanço formidável na política paquistanesa. Daí até pacificar um país em chamas, com um crescente radicalismo muçulmano e a fronteira incerta com o Afeganistão onde estariam refugiados os líderes da rede terrorista Al Caeda.

Musharraf era comandante do Exército em 1999, quando o então primeiro-ministro Sharif tentou destituí-lo e foi derrubado. Inicialmente hostilizado pelos Estados Unidos por ser um ditador, o general tornou-se peça fundamental na estratégia americana a partir dos atentados de 11 de setembro de 2001.

O problema imediato, na verdade, era o Afeganistão. Lá, a rede Al Caeda (A Base), responsável pelos atentados, tinha seus centros de treinamento sob a proteção do regime fundamentalista da milícia dos Talebã (1996-2001), que chegou a ser apoiado nos EUA como maneira de estabilizar o Afeganistão.

Esse país árido e montanhoso sempre foi um desafio estratégico. Só foi conquistado por Alexandre o Grande, talvez o maior general de todos os tempos.

Em 1979, foi invadido pela União Soviética. No governo Ronald Reagan (1981-89), os EUA, a Arábia Saudita, o Paquistão e a China apoiaram guerrilheiros muçulmanos (mujahedin) que fizeram do Afeganistão o Vietnã da URSS.

Cerca de 25 mil soviéticos morreram na invasão e ocupação do país. Em 1989, na era Gorbachev (1985-91), a URSS se retirou.

O Afeganistão ficou entregue a grupos muçulmanos que, primeiro, derrubaram o último presidente instalado pelos soviéticos, Mohammed Najibullah. Depois, brigaram entre si com alianças tribais.

Como nunca foi dominado, o Afeganistão não saiu do estágio tribal, não tem uma infra-estrutura moderna. O país foi dividido em feudos dominados pelos senhores da guerra.

Por iniciativa do serviço secreto do Paquistão, com dinheiro da Arábia Saudita e o apoio dos EUA, a partir de 1994, a milícia dos Talebã começou a realizar operações militares.

Talebã significa estudantes religiosos em pachtum, a língua da tribo pachtum, a maior do Afeganistão (40%) e uma minoria importante no Paquistão (13%). É uma importação de taleb, que é estudante em árabe.

Os talebã são estudantes doutrinados nas madrassás, escolas onde só se estuda o
Corão, o livro sagrado muçulmanos. Muitas ficam no Paquistão, onde milhões de afegãos se refugiaram durante a invasão soviética.

A guerra Afeganistão não só é um detrito da Guerra Fria como o antigo aliado de Washington na luta contra o comunismo, o Paquistão, está diretamente envolvido.

Depois de 11 de setembro de 2001, os EUA precisavam do Paquistão para atacar o Afeganistão. Como o Afeganistão não tem saída para o mar, as forças americanas previsam atravessar o Paquistão ou entrar pelas ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central.

Pior ainda: o Paquistão é o único país muçulmano com armas nucleares, e tudo o que os terroristas querem é uma bomba atômica para destruir uma grande cidade de maneira ainda mais espetacular.

Por tudo isso, Musharraf é um aliado fundamental para a estratégia americana na chamada guerra contra o terrorismo. É um guardião confiável da bomba atômica muçulmana.

Sua derrota coloca sérias dúvidas sobre a governabilidade do Paquistão, que durante a maior parte de sua história foi governado pelos militares, para ser exato, pelo Exército. É uma história marcada por golpes de Estado, que só tiveram sucesso quando dados pelo comandante do Exército.

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