Em vez de promover alguém da nova geração ao cargo de primeiro vice-presidente, o novo ditador de Cuba, general Raúl Castro, optou pela velha guarda. Seu segundo será o médico José Ramón Machado Ventura, de 77 anos, um dos veteranos ideólogos do Comitê Central do Partido Comunista.
A Assembléia Nacional, de 614 deputados, tomou posse neste domingo, e elegeu o novo Conselho de Estado, confirmando Raúl como presidente e primeiro-ministro. Além de Machado, ele promoveu um general da mesma geração para um dos agora seis cargos de vice-presidente.
É uma indicação de que qualquer mudança no regime será lenta e de que Raúl tentará controlar todo o processo.
Machadito, como é conhecido em Cuba, foi ministro da Saúde (1960-67), é um stalinista ferrenho que tem saudade da União Soviética. Foi um dos primeiros a reagir contra as reformas de Mikhail Gorbachev e a expurgar reformistas do aparelho de Estado. Desde 1990, é encarregado da organização do PC.
Os outros vice-presidentes são o novo ministro da defesa, general Julio Casas Regueiro, de 72 anos; o ministro do interior, general Abelardo Colomé Ibarra, de 68 anos; o general Juan Almeida, de 80 anos; o dirigente comunista Esteban Lazo, de 63 anos; e Carlos Lage, encarregado da reforma ecômica, de 56, que estava cotado para ser promovido.
"O mandato desta legislatura é claro... continuar a fortalecer a revolução neste momento histórico", declarou Raúl, ao agradecer à Assembléia Nacional por sua eleição para a Presidência.
Ele acrescentou que só aceitou o cargo com a condição de que Fidel Castro, que renunciou na terça-feira passada, 19 de fevereiro, continue sendo "comandante-em-chefe da revolução", título que recebeu antes mesmo da vitória da revolução cubana, em 1959.
"Fidel é Fidel", disse Raúl. "Fidel é insubstituível e o povo vai continuar sua obra mesmo quando ele não estiver mais aqui fisicamente."
Raúl Castro não tem o carisma nem o talento de orador do irmão mais velho. Mas teria sido quem converteu Fidel ao comunismo, com a ajuda do guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara, outro herói da revolução.
"Isto sinaliza uma continuidade interna e externamente", comentou Julia Sweig, especialista em Cuba do Conselho de Relações Exteriores, o principal instituto de pesquisas em relações internacionais dos Estados Unidos.
Ela disse que a liderança cubana tem consciência de que precisa resolver problemas graves, como, por exemplo, a escassez de alimentos: "Raul é pragmático e todos eles sabem que o tempo está correndo e que têm de resolver as questões práticas. É um equívoco pensar que existe uma grande diferença entre eles. Todos vão basicamente na mesma direção, com algumas nuances."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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